O anúncio em cada Família de que um novo membro está a caminho _ diante do contexto e momento em que este fato está inserido _ é recebido de forma muito particular pelos seus membros.
Geralmente um misto de alegria, expectativa, planos e mesmo apreensões permeiam os futuros pais, avós, tios, irmãos e pessoas que vivem no entorno das relações de cada um que faz parte deste grupo.
Uma única vida tem o poder de influenciar e movimentar toda uma rede de relações (que envolvem o mundo do trabalho, do lazer, da sociedade). Junto aos planos para o futuro que com certeza são muito importantes vem também a oportunidade de resgate de uma reflexão ainda mais preciosa.
Qual o sentido da vida?
É na simplicidade que encontramos a mais pura e verdadeira resposta. O sentido da vida é gerar Vida. E vida é crescimento, desenvolvimento, superação, é criação. Vida é relacionamento, é troca com o ambiente e outras pessoas.
Vem então o sentimento de sustentabilidade, consciência e resiliência na constatação de que assim como na natureza uma única planta tem o poder de influenciar ao mesmo tempo em que é influenciada pelo ambiente em que está inserida e pelas demais espécies que estão ao seu redor, que o mesmo acontece com os Seres Humanos, as pessoas, nós mesmos e nossos filhos. Influenciamos e somos influenciados por tudo e todos que nos rodeiam.
Vivemos hoje na era da tecnologia, da comunicação que aproxima os distantes e facilita o acesso a informação e a comodidade, que apontam para uma sociedade mais moderna, desenvolvida e feliz. Certo?
Por que então os índices de doenças relacionadas a depressão e violência estão crescendo? O uso de drogas lícitas e ilícitas estão adentrando os lares e se refletem no dia a dia de nossa sociedade em índices alarmantes sem distinção de classe ou poder aquisitivo.
Vida envolve sustentabilidade e resiliência nas relações. Na aprendizagem de quem somos e de quem é o outro. No respeito de nossos limites e do limite do outro. Na prática da cidadania que começa em casa onde todos somos responsáveis pela organização e manutenção dos espaços, objetos, recursos, do cuidado de mim mesmo e do outro e que levo na prática nas interações com cada grupo dos quais faço parte seja ele a escola, o trabalho, o clube, o condomínio, a igreja…
Passa pela aprendizagem de saber que sou importante e único, mas não sou o único na face da terra e que o respeito por quem veio antes de mim é que me possibilitam usufruir as riquezas desta sociedade, assim como que é de minha atitude que aqueles que virão depois de mim terão a possibilidade de também usufruírem. Isto é a Vida.
Assim se queremos que nossos filhos tenham em sua vida um sentido, devemos oportunizar que enquanto crianças e adolescentes desenvolvam a resiliência e habilidades pessoais para enfrentar os problemas que eles mesmos criam ou que surgem durante o processo natural de crescimento e que envolvem as fases da vida.
Para aprender a andar é preciso antes rastejar, gatinhar, impulsionar-se para levantar – tentar sem o compromisso de acertar mas com o estímulo a persistir, sem facilidades, pois estas etapas farão com que a musculatura se fortaleça o bastante para enfrentar os desafios que virão depois e que envolvem o ficar em pé, andar, subir, escalar e correr. Será preciso que seu filho caia e levante para saber diminuir a velocidade antes da parada a fim de aprender que toda atitude tem uma consequência.
É comum observarmos que hoje muitos pais se empenham em fazer o possível e impossível para evitar que os filhos sofram e assim sejam felizes, procurando dar-lhes privilégios e facilidades evitando e poupando os filhos de situações em que tenham que esperar para ganhar algo ou enfrentar adversidades, esquecendo que são estas adversidades que geram crescimento, que trazem a possibilidade criativa da superação e que geram a verdadeira alegria que está no sentir-se capaz de conquistar pelo esforço, pela persistência.
Não basta pensar em oportunizar o melhor enxoval para nossos filhos, nem a melhor escola, brinquedos, viagens.
Se quisermos dar Vida a nossos filhos temos que dar-lhes a oportunidade de Viver. Participando de grupos e interações onde verão que existem aqueles que cantam melhor que ele, que jogam bola melhor que ele, que desenham melhor que ele, mas que ele nada muito bem sim.
Que existem muitos grupos e muitas pessoas neste mundo e que não podemos estar em todos os lugares e conhecer todas as pessoas, mas que existem pessoas e lugares especiais onde podemos estar e com as quais podemos conversar, brincar, rir e chorar por que fazem parte da nossa família ou são verdadeiros amigos.
Que tudo é muito e ninguém precisa ter tudo, ser o melhor em tudo … e que o pouco sendo o suficiente fará com que seja possível que outros também tenham desde que se empenhem para isto. E isso é bom.
E este aprender depende de uma atitude, de como nós pais, avós, tios, professores agimos diante de cada grupo dos quais participamos, pois, a melhor forma de ensinar é pelo exemplo.
E você sabe qual é o sentido da sua vida?
Marina de Fátima Debur Bernert – Pedagoga, Assessora Familiar Sistêmica, Diretora do Centro de Educação Infantil Nosso Tempo.
Faça um comentário