A Aventura de Educar no Século XXI

“ Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, matizados pelo mundo” (PAULO FREIRE)

Para dar resposta ao conjunto de sua missão educativa, a sociedade, através de suas instituições, deve compreender que a educação gira em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo, para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer – isto é,adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer – para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos (conviver) – a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente, aprender s ser – via essencial que integra os três precedentes.

Vê-se que os homens e mulheres do século XXI têm necessidade de “quatro pilares” essenciais para a sua realização pessoal e coletiva e perpassam toda a sua existência. Em outras palavras, essas aprendizagens inserem-se na perspectiva da “educação permanente ou continuada.”  Dão-se as mãos a Pedagogia e a Andragogia (educação do adulto, durante toda a sua vida) para o enfrentamento de tão extraordinário desafio.

Ao colocar em tela esses quatro pilares da educação, podemos efetuar um corte, atribuindo à escola e à família, não só participações complementares mas, sobretudo, a maior responsabilidade de uma ou de outra na construção desses pilares. Desta forma, parece-me que o aprender a conhecer e o aprender a fazer competem muito mais às instituições de ensino, enquanto o aprender a conviver e o aprender a ser têm na família o seu “lócus” privilegiado e insubstituível. Assim, resumidamente diremos algo sobre os dois primeiros e nos deteremos sobre os dois últimos que se prendem, segundo nosso entendimento à ação da famíla.

Aprender a Conhecer – enfatiza o descobrir, o investigar, a curiosidade, o construir e o reconstruir o conhecimento. Aprender a conhecer implica aprender a aprender, compreendendo a aprendizagem como um processo que nunca está acabado. Nesse sentido, a aprendizagem é um processo contínuo que implica um constante reaprender.

Aprender a Fazer – este segundo pilar está estreitamente ligado à questão da formação profissional. Não se trata apenas de aprender uma profissão, mas de ter qualificações e competências para enfrentar situações que essa profissão possa exigir.

  Aprender a fazer envolve uma série de atitudes que fará a diferença: ter iniciativa, gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se e relacionar-se, estabilidade emocional para enfrentar as situações do devir.

Aprender a Viver Juntos – aqui inicio os aspectos da aprendizagem no século XXI que trazem ao plano principal a participação da família.

A família é lugar onde começa a aventura humana. No seu seio desenvolvem-se todas as emoções, todas as esperanças, todas as experiências do viver juntos. Quando falo família, refiro-me a qualquer família, sob qualquer roupagem e modelo. É nela que medram as experiências do amar e desamar, do unir-se e separar-se, do construir relações e enfrentar separações, do reunir-se e do reconstruir. Na família vivem-se as emoções do deleite e do prazer, mas, também, das decepções, das esperanças jamais realizadas, dos sonhos sonhados e vividos. Não há ambiente mais apropriado, mais fértil, mais completo para a aprendizagem do terceiro pilar da educação no século XXI. Chego a arriscar: Se lá não se aprender, não se aprenderá em lugar algum. Aprender a conviver é, certamente, uma das características mais fundamentais e necessárias da sociedade de nosso tempo. Essa aprendizagem ressalta a interdependência do mundo moderno e a importância das relações. Tudo está interligado e tudo que acontece afetará a todos de alguma forma. A família vai ensinar aos seus membros que o mundo, cada vez mais, precisa de compreensão mútua, intercâmbios pacíficos e harmonia. Nunca é demais salientar que a família é um compartilhar de subjetividades (temperamentos, tendências, sentimentos, emoções, vontades). Vivenciando uma experiência familiar, estamos em contato com sentimentos diferenciados que se misturam, se entrelaçam e se chocam. Conviver é assim mesmo! Desafia nossa capacidade interior de responder positivamente aos reveses e intempéries do dia-a-dia. O dilema familiar, no entanto, faz parte de um dilema maior, o da própria evolução das criaturas, comprometidas com seu passado de méritos e deméritos, mas com um presente permeado de novas esperanças e possibilidades, conforme cada um desenvolva sua capacidade criativa e seus sentimentos mais nobres.

Aprender a Ser –  quarto e último pilar necessário ao processo educacional, é politecnia em seu sentido mais amplo e progressista, pois se volta para o desenvolvimento do homem integral: “espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade” (Delors). Onde, pergunto, se pode cultivar a aprendizagem da integralidade do homem se não na família? Desde a mais tenra idade, a criança no convívio com seus pais e parentes vai introjetando a realidade do seu ser em formação. Aprendendo que o ser humano é único e irrepetível. A sua unicidade se revela e se afirma na sua individualidade. Aprender a ser. Ser o que? A ser pessoa. Na aprendizagem de sua singularidade, o homem vai aprendendo também as limitações do seu ser, os importantes conceitos de inacabamento ou inconclusão, e de incerteza que o identifica com os demais seres do cosmo, mas, ao mesmo tempo, deles o distingue, por sua consciência, dessas limitações. “Este talvez um importante ponto de partida. O do inacabamento do ser humano. Na verdade , o inacabamento do ser, a sua inconclusão é própria da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre homens e mulheres o inacabamento se torna consciente” (Paulo Freire).

Aprender a Ser! A família, e só ela, ensina com seu exemplo, a sua diária vivência, o seu cadinho de experiências.

            CONCLUSÃO

Para o desempenho dessa sua tarefa educadora, a família há que desenvolver certos atributos, já salientados por Morin no seu livro “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, escrito por solicitação da UNESCO em 2001. Resumidamente:

            1 -A família tem que ser Comprometida –  com as transformações sociais e políticas do seu tempo.

            2 – Competente –  para ser de fato o veículo capaz de exercer e realizar a tarefa de formadora do ser humano.

            3 – Crítica e Criativa revelando através da sua postura , seus valores, sua epistemologia e a sua utopia, frutos de uma formação permanente.

            4 – Aberta a mudanças –  ao novo, ao diálogo, à ação solidária e comunitária.

            5 – Exigente – sem receio de impor limites necessários, com intervenções pertinentes, pontuais e firmes.

            6 – O Cultivo da Espiritualidade – que implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal. É com ela que se abordarão e solucionarão problemas de sentido e valor e se desenvolverão os valores éticos e crenças que nortearão as nossas ações. Entender que a espiritualidade é o caminho para a transformação do ser e que dá a coragem necessária para assumir a inteireza da condição humana.

 REFERÊNCIAS:

DELORS, Jacques – (coord.) Educação: um Tesouro a descobrir. Brasília – UNESCO/MEC, 1998.

FREIRE, Paulo – Pedagogia do Oprimido – RJ , Paz e Terra, 1978.

MORIN, Edgar – Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro – SP, Cortez, 2001.

Djalma Navarro Falcão – Economista, Mestre em Família na Sociedade Contemporânea pela UCSAL. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Com Terezinha –casal Representante Nacional da Escola de Pais do Brasil.

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