“Comecei a compreender que a masturbação é o grande hábito,
o “vício primário”, e que é somente como sucedâneo e
substituto dela que outros vícios – álcool, morfina, tabaco etc. –
adquirem existência.” FREUD, S. (1898)
As questões sobre A interferência das drogas no psiquismo dos adolescentes vêm ganhando cada vez mais relevância na sociedade atual. O número de encontros, debates e congresso sobre o tema, como o 58° Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil, não param de se produzirem, atestando a dimensão do problema.
Contudo, é importante lembrar, que as drogas sempre existiram e cada momento sócio-histórico apresentou sua maneira de lidar com a elas. As drogas constituem um dos aspectos das adicções, termo que surgiu na Europa em transposição à utilização anglo-saxã.
Às drogas químicas somam-se o que se chama “adicções sem droga”: jogos, transtornos alimentares, compra compulsiva, dependências afetivas (adicção ao outro), as emoções que levam ao limite (esportes radicais), as que desafiam o destino, o trabalho compulsivo, o sexo compulsivo e, mais recentemente, a ciberadicção.
O uso de drogas traduz uma atitude, um comportamento, uma ação que vai além de um querer consciente do sujeito: ele se vê escravo de uma dependência.
No período da adolescência, marcado por descobertas e desafios, é bastante comum o uso de drogas, o que pode trazer danos psicofísicos ao psiquismo do jovem. Neste período ocorre uma das mais importantes transformações psíquicas: a construção de uma identidade própria, acarretando uma separação da autoridade dos pais.
As drogas e, consequentemente, sua interferência no psiquismo é, sem dúvida, um método grosseiro, embora eficaz, para escapar ao sofrimento que, muitas vezes, afeta o adolescente.
Contudo, como sugere a frase de Freud citada em epígrafe, tornar-se usuário de drogas é o resultado de um longo percurso que se inicia na infância do sujeito, marcado por movimentos de paradas e de retorno às drogas.
Nossa proposta é discutir os caminhos psíquicos que levam ao uso de drogas e suas possíveis consequências no desenvolvimento físico-afetivo.
Paulo Roberto Ceccarelli – Psicólogo – Psicanalista. Doutor em Psicopatologia fundamental e Psicanálise – Université Paris 7 – Diderot. Pós-doutor – Université Paris 7 – Diderot. Chercheur associé de l’université Paris 7 – Diderot. Membro da Société de Psychanalyse Freudienne (SPF) – Paris, França. Sócio do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais (CPMG). Sócio fundador do Círculo Psicanalítico do Pará (CPPA). Membro do Corpo Docente do Contemporâneo: Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade – Porto Alegre, RS. Professor na pós em Psicanálise do Hospital Santa Catarina, Blumenau, SC. Pesquisador Associado do LIPIS (PUC-RJ). Membro da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Professor e orientador de pesquisas na Pós-Graduação em Psicologia/UFPA. Professor e orientador de pesquisas do Mestrado em Promoção de Saúde e Prevenção da Violência/MP da Faculdade de Medicina da UFMG.
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