“O MAL-EDUCADO”: uma visão da pediatria

Aproximadamente metade das crianças dos Estados Unidos é levada ao médico por comportamentos destrutivos e desobedientes. No Brasil, o cenário não é diferente. Mesmo em consultas de emergência por outras causas, vem à tona perguntas como: “Doutor, meu filho é muito nervoso, o que eu faço?” “Ele não me obedece, não adianta” “Doutora, esse menino precisa de um calmante”.

Apesar de chocantes, os pedidos dos pais são reais e não são infundados. Situações desesperadoras de crianças que aos quatro anos batem nos avós, maltratam animais e não têm o menor respeito pelos pais tornam os lares insuportáveis e a convivência um grande desafio.

Ao mesmo tempo, o médico não foi preparado em sua formação para atender a esse tipo de problema. Sabe tratar gripe, pneumonia, diabetes, mas não teimosia, desobediência e má educação. O primeiro passo é separar o que é doença do que é falta de limites, mas isso não é tão simples assim.

Muitas vezes, crianças tachadas como agressivas têm, na verdade, um déficit auditivo e por não entenderem o seu ambiente tornam-se irritadas. Crianças que se isolam, não gostam de brincar com as outras e têm dificuldades na fala e nas emoções podem ter um grau leve de autismo. Já aquelas impulsivas, irrequietas, que não sabem esperar sua vez, não conseguem terminar brincadeiras podem ter o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, tão na moda atualmente. Existem também graus leves de deficiência mental que tornam mais difícil para a criança desenvolver autodomínio e aprender as regras de convívio social.

Do outro lado da moeda, estão crianças inteligentes, saudáveis que aprendem com facilidade, mas que nunca foram contrariadas, sempre conseguiram suprir seus prazeres por meio de birra, choros e ataques de fúria e muitas vezes manipulam os pais. Assim, aprenderam esse comportamento imaturo e egocêntrico que, se não corrigido, pode criar adultos agressivos e com grandes dificuldades de convívio e relacionamento e, em graus mais graves, pode levar até a comportamentos de risco como uso de drogas e criminalidade.

Seja por doenças ou dificuldades na educação, toda criança com comportamento desajustado merece ser avaliada e tratada para ter a oportunidade do melhor desenvolvimento social possível, seja por meio de consultas com médicos, pediatras, neurologistas, psicólogos ou psicopedagogos. O importante é não desistir e saber que muitos outros pais enfrentam o mesmo desafio.  

Este artigo foi publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional de Biguaçu, nº 4, maio de 2012, p. 25.

Aline Besen – Médica, residente de pediatria do Hospital Pequeno Príncipe – Curitiba

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