Pensando em família como uma instituição restrita a seus membros, tudo o que acontece fora de seu domínio geográfico e emocional, é externo a ela e a influencia. Porém, raramente pensamos na nossa participação e responsabilidade nos atos e fatos que constituem e dão significado à sociedade em que vivemos.
Não há nenhum nível de mudança de costumes, crenças e valores que seja desconectado da história temporal e dinâmica da vida. Toda a dança de atos e fatos sociais, chamados “externos”, se dá através de formas de agir, de pensar e de sentir repetidos por períodos longos, por quase todos os membros de uma sociedade ou comunidade específica. Essa repetição se transforma em generalizações, e geralmente dará início a mudanças em padrões de comportamento como um todo. São mudanças naturais, que ocorrem semeadas pela necessidade de progresso do ser humano. E é a partir da nossa semelhança em humanidade, e do ciclo de vida que nos coube conviver nesta terra, que nos tornamos todos coparticipantes, e coconstrutores de ciclos históricos. Não haveria crescimento ou evolução de qualquer tipo, no ser humano e na sociedade, se não fossemos capaz de valorizar e absorver a experiência diária, dinâmica, conjunta e globalizada que a vida nos traz. É assim que, gostando ou não, somos responsáveis ativos ou passivos pelas mudanças que ocorrem em nosso tempo.
No ano da maioridade do século XXI, muitos de nós ainda se sentem surpresos frente ao aumento da complexidade que permeia as relações familiares e ante as transformações trazidas pela dinâmica da vida. Algumas pessoas tentam agarrar-se a padrões que já não cabem no novo modelo de coexistência global e, não raras vezes, reagem às situações que rotulam como adversidades ou problemas, tentando ignorá-las, ou mesmo minimizar seus efeitos sobre si mesmo, e em seus entes queridos.
O ambiente externo à família abarca todo um leque de direitos e deveres que constituem e possibilitam a vida em comum. Quando a família começa a inserir um novo membro na chamada vida social – a criança de dois anos que vai à escola, por exemplo – concorda com seu ingresso num mundo maior, que comporta várias possibilidades, que é exterior a ela em relação ao que ela conhece no interior de sua família, e que vai exercer coerção sobre ela em vários momentos, de formas diferentes. Ninguém fica imune a essa exposição, e ela se perpetua pela vida afora.
Assim, podemos dizer que os fatos sociais se impõem sobre todas as pessoas. E é muito difícil para nós, seres viventes numa sociedade ainda centrada no individualismo reconhecer a existência de algo que impacta a nossa autonomia: queremos acreditar que tudo o que fazemos é por livre escolha e advém de nossa vontade interior. Ledo engano! Trazemos o exterior dentro de nós e o levamos para dentro de nossas famílias.
Faço votos que todos nós tenhamos cada vez mais sucesso na lida diária e sem fim do aprimoramento de nossas habilidades, e no reforço, aquisição e/ou renovação de valores alinhados ao nosso ciclo de vida e à ética do respeito. Janelas abertas deixam o sol entrar!!!
REFERÊNCIAS:
DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2001.
PASSOS, M.Consuelo. Vicissitudes do tempo na formação dos laços familiares. In: Féres-Carneiro, T. (org.) Família e casal: parentalidade e filiação em diferentes contextos. Rio de Janeiro: Ed. PUC- Rio, 2015
Regina Célia Simões de Mathis – Terapeuta de Casal e de Família. Presidente do Conselho de Educadores da Escola de Pais do Brasil.
Faça um comentário