Infância saudável: física e emocional – Algo do que diz a Neurociência

Introdução

O que segue é fruto de algumas leituras, da experiência pessoal como pai e avô, que envolveu cinco crianças e sobretudo da releitura das anotações feitas no 53º Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil, cujo tema foi, “Família, Solo Vital, Esperança de Hoje”, em particular e com a devida licença, da brilhante fala do médico – também voluntário – Cezar Augusto Detoni[1], com o tema tão brilhantemente apresentado, “Educação e Neurociência”.

Fiz uso do método de Cardijn[2]: “ver, julgar e agir”, o que faz a leitura mais compreensível e com menos academicismos.

Ver

A infância é a fase mais importante da vida, na qual se constroem as bases da existência, psicológicas, pedagógicas, motoras, sociais e também espirituais, assim como, o desenvolvimento de habilidades motoras e a descoberta das maiores paixões. Também, do mesmo modo, se pode observar o desenvolver de hábitos que criam consequências negativas e que podem seguir durante toda a vida.

É visível na atualidade, mais do que nunca, que crianças de até três anos e suas famílias estão em dificuldade e “pedem ajuda”. Piora a cada passo: cuidados inadequados com elas por parte de pais, cuidadores e educadores em geral; e o alto custo da assistência médica…. Se ouve em todos os lugares (pediatras, lares, empresas…).

Ocorre comumente um desequilíbrio entre o amor e a segurança dispensados às crianças. Muito de um, com a falta de outro, é ruim. Pior ainda, quando não há nem amor, nem segurança – ou pouquíssimo de cada um.

Julgar

Interação entre natureza e criação determinam o desenvolvimento humano, sendo que os cuidados iniciais têm um impacto decisivo de longa duração, no aprendizado e nas emoções.

O cérebro humano tem grande capacidade para mudar. Por isso, experiências negativas ou a falta de estímulos apropriados podem ter sérios e contínuos efeitos. Daí a importância em prevenir precocemente. É o que atestam especialistas em desenvolvimento infantil e neurocientistas.

Ao nascer, o cérebro humano ainda se encontra inacabado. Os 100 bilhões de neurôniosainda não estão ligados em rede, precisando de formação e reforço dessas ligações, que constitui a chave do desenvolvimento cerebral inicial, no relacionamento da criança com os pais, os demais da família e com os cuidados em geral. Valendo aí, o binômio indispensável: AMOR e SEGURANÇA. Cada um desses aspectos traduzido em atos concretos e em constante equilíbrio. Um sem o outro, deseduca e, até, coloca a criança em perigo. Com o equilíbrio entre amor e segurança, os neurônios se formam mais adequadamente na criança em crescimento experimentando saudavelmente o mundo que a cerca.

Aos dois anos, o número de sinapses chega a níveis adultos, mas, dos três aos dez anos, o cérebro tem mil trilhões de sinapses – quase o dobro da quantidade de um adulto. O cérebro é superdenso nesta fase. Ele sofre influências já antes do nascimento, do ambiente, da criação dos cuidados e estímulos recebidos. Por esta razão, cada ser é ÚNICO.   

Os genes são importantes para determinar o temperamento; mas desde o ambiente intrauterino vai se determinando as diferenças temperamentais nas crianças. E, logicamente, depois do nascimento a interação com o ambiente é um requisito absoluto no desenvolvimento cerebral.

As células nervosas se proliferam antes do nascimento. No feto ocorre a produção do dobro de neurônios do que ele precisará. O que constitui margem de segurança, para nascer com cérebro saudável.

Agir

Pais e educadores devem agir de modo a cuidar a cada instante do cérebro do educando, em amplo aspecto (relações, aprendizado e emoções). É preciso garantir saúde, segurança e boa nutrição.

É preciso estabelecer relação de afeto, muito afeto com a criança. Ora, o afeto, é tão ou até mais importante que a própria alimentação.

A criança – cada uma é única – dá pistas das suas necessidades para sobreviver, relacionar-se e aprender. Precisa que converse, cante, dance, brinque, conte estórias e histórias, leia e desperte cada vez mais a imaginação, sempre em vista do amor e da segurança. Portanto, com afeto e com disciplina. Precisa estabelecer rotinas, bons hábitos, bons costumes. Limitar o uso das telas (TV, celular, computador).

Aliás, o adulto que se cuida, também vai cuidar melhor de suas crianças.

Conclusão

Tanto a boa, quanto a má e ou deficiente maternidade e paternidade, se perpetuam num círculo virtuoso.

A criança privada de afeto tem mais reação ao estresse. Assim como, a criança que sofre maus tratos e abusos.

No entanto, mesmo uma criação não abusiva pode exercer efeitos sobre o comportamento, conforme a reação ao estresse.

Principalmente, o estilo, cuidado sem afeto, que já se manifesta noinício da vida tem consequências ao longa da vida, na infância, na adolescência e, até, na vida adulta.

É comum a confusão entre a herança social com a herança genética clássica, envolvendo “genes do abuso” ou algo semelhante. Com efeito e de fato, o gene envolvido não é causa, mas sim, efeito.

A maravilha do cérebro continuará, mesmo quando seu segredo fundamental for descoberto.


[1] Cezar Augusto Detoni. Médico, Gastroenterologista e Endoscopista, com Formação em Terapia de família e de casal. Vice-Presidente da Executiva Nacional da Escola de Pais do Brasil. Membro a 34 anos, da Seccional Gaúcha de Erechim, RS. http://listamedicos.com/medico/cezar-augusto-detoni.

[2] Monsenhor Josef-Léon Cardeal Cardijn (Schaerbeek, 18/11/1882  Lovaina25/07/1967)[1] foi um cardeal belga, que trabalhou pelo compromisso social da Igreja Católica no início do século XX. Fundador da Juventude Operária Católica (JOC). Em 1912, […]  iniciando sua obra pastoral entre os jovens obreiros belgas[1], que tinham posições anticlericais. Apesar da resistência, Cardijn buscava conversar com eles, procurando conhecer suas condições de vida. Conseguiu reunir um grupo de jovens colaboradoras, que por meio do método “ver julgar e agir”, começam a se engajar em seu trabalho de evangelização dos trabalhadores. https://pt.wikipedia.org/wiki/Josef-L%C3%A9on_Cardijn

REFERÊNCIAS:

Anotações do 53º Congresso Nacional – 26 a 28 de maio de 2016 – São Paulo, SP. “Tema: Família, Solo Vital, Esperança de Hoje”.

Paráfrases de destaques deste Congresso neste artigo: DETONI, Cezar Augusto. “Educação e Neurociência”. ANDRADE, T.S.L.C. Importância do brincar. Relatório do projeto de investigação Mestrado em Educação Pré-Escolar, Instituto Politécnico de Setúbal, Portugal, 2014. Disponível em

http://comum.rcaap.pt/handle/123456789/7783 

LEVIN, E. A infância em cena: constituição do sujeito e desenvolvimento psicomotor. Rio de Janeiro: Vozes,1997.

MÜLLER, Tatiane & KIRCHNER, Elenice Ana. Os Desafios do Educar: Condições Básicas para o Desenvolvimento Saudável da Primeira Infância. Tema de abrangência do Projeto de Pesquisa TCC-, do curso de pedagogia da FAI Faculdades de Itapiranga – SC. https://eventos.uceff.edu.br/eventosfai_dados/artigos/semic2016/503.pdf

SILVA, Lidiane Cristina da & LACORDIA, Roberto Carlos. Atividade Física na Infância, Seus Benefícios e as Implicações na Vida Adulta. Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery http://re.granbery.edu.br – ISSN 1981 0377 Curso de Educação Física – N. 21, JUL/DEZ 2016

João Batista Athanásioadvathanasio@gmail.com

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