Aprendemos na Escola de Pais do Brasil – EPB que as primeiras fases da vida são cruciais para a formação dos sentimentos de afeto e segurança, alicerces fundamentais para o desenvolvimento de um ser humano sadio, os quais o acompanharão durante toda sua existência.
A primeira infância, faixa etária que vai de zero a seis anos, é o período primordial no qual as crianças precisam de muita atenção, cuidados constantes, nutrição adequada, proteção, estímulo e muito carinho para se desenvolverem de maneira integral.
Para compreendermos melhor a infância, não podemos deixar de incluir uma análise complexa e abrangente das condições de gestação e do parto, onde o desejo de ter um filho, a aceitação da gravidez e o nascimento devem ser construídos com base nas primeiras relações afetivas, fases estas, que têm a prevenção como fator primordial na construção de um indivíduo sadio. O desenvolvimento das crianças está diretamente ligado ao desejo de seus pais para a maternidade e paternidade e, consequentemente, o interesse do aprimoramento constante para exercê-los, assim como, depende também fortemente do vínculo afetivo estabelecido desde as primeiras horas de vida entre mãe, pai e o bebê. Podemos afirmar que os momentos mais marcantes da nossa vida são: a concepção, o nascimento e a infância.
A mãe ou sua referência materna como a figura de apego, é primordial para o desenvolvimento de uma criança saudável, sendo o polo afetivo e a referência mais importante na infância. A amamentação é o primeiro ato humano de amor. ¨Leite materno, fonte de vida que brota da terra donde eu nasci. É dar amor na linguagem que o bebê entende¨ (texto extraído da Semana Mundial de Aleitamento Materno, em São Vicente-SP).
Para sobreviver, um recém-nascido precisa ter suas necessidades básicas supridas, englobando diversos aspectos biopsicossociais e emocionais que integrados adequadamente proporcionam seu desenvolvimento saudável. Estes aspectos podem ser definidos em: social e emocional, linguagem e comunicação, cognitivo, físico e motor, que evoluirão progressivamente em cada período do seu crescimento. Portanto, é essencial o atendimento sistemático na área de Pediatria e Puericultura. O Ministério da Saúde disponibiliza material intitulado “Caderneta de Saúde da Criança – Passaporte da Cidadania”, importante para acompanhar a saúde, o crescimento e o desenvolvimento adequado da criança até os 9 anos de vida, dando orientação, informações e monitoramento, auxiliando a cuidar melhor da saúde integral da criança.
Importante ressaltar que se coloca toda a responsabilidade do desenvolvimento saudável da criança sobre os pais, mães, familiares e cuidadores, mas deveríamos responsabilizar também a sociedade moderna e o capitalismo dos tempos atuais que bombardeiam os pais e as crianças com a cultura do consumismo, persuadindo-os com a importância do “dar e ter”. Tarefa esta, que para muitos pais e mães, custará grande parte de seu valioso tempo, o qual deveria ser disponibilizado para “o estar e o ser”.
Dentre tantas prioridades, entendemos a educação emocional dos filhos como um aspecto importante que deve ser priorizado, o qual decorre principalmente da construção diária da relação e vínculo com seu ambiente familiar. É o contexto familiar que influencia as características emocionais desde os primeiros anos de vida, intensificando-as na adolescência. Portanto, infância saudável se desenvolve em ambiente familiar, social e cultural saudável.
A relação de afeto entre pais e filhos, tem se mostrado importante tanto no aspecto emocional quanto cerebral. O período mais ativo acontece nos primeiros anos de vida, 90% das conexões cerebrais são estabelecidas até os 6 anos de idade. “Sem afeto, sem sinapses. Infância a Idade Sagrada – Anos sensíveis em que nascem as virtudes e os vícios humanos” (Evânia Reichert).
O desenvolvimento cerebral saudável está relacionado a uma melhor saúde emocional e são correspondentes. Neste sentido, um ambiente acolhedor é crucial, tanto na aprendizagem quanto no desenvolvimento físico, intelectual, social e emocional das crianças. Fato que não minimiza a influência da genética, mas destaca o papel importante do ambiente familiar no seu desenvolvimento. O apoio emocional, postura e prontidão dos pais, mães e cuidadores desde a tenra idade, observando e dialogando com a criança sobre suas características, sentimentos e comportamentos, possibilita a criança entender melhor suas emoções e reações decorrentes delas, resultando em um vínculo emocional íntimo com os seus pais e cuidadores, permitindo construir uma relação de apego seguro, contemplando suas habilidades emocionais futuras.
A infância sempre é “um tempo em trânsito”, portanto, o prazo de validade de cada fase da infância está cada vez mais curto, demandando maior atenção e dedicação de seus pais.
Segundo Roberto Shinyashiki: ¨a única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança¨. Não podemos deixar de frisar aqui a importância do brincar e da convivência com outras crianças. “O brincar é uma necessidade básica e um direito de todos” – Declaração universal dos direitos da criança – ONU, previsto também na Constituição Federal e Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, favorece experiências lúdicas sociais, individuais e emocionais, são momentos importantes de vivência e expressão das emoções e sentimentos, de expandir a imaginação e fantasias, de aprender e se relacionar com outras crianças, assim como, fortalecer seu desenvolvimento físico e motor.
Segundo o Pacto Nacional Pela Primeira Infância – 2020, é na primeira infância, que vai da gestação até os primeiros seis anos, que se formam as raízes da personalidade, bem como as bases e experiências que irão sustentar toda a estrutura física, emocional, cognitiva e social do ser humano. Olhar para a situação das crianças em seus primeiros anos de vida é crucial, mas deve vir acompanhado de esforços de políticas públicas que fortaleçam e amparem as famílias, de modo que elas tenham condições de oferecer cuidados integrais e possam contribuir para o desenvolvimento saudável físico e emocional das crianças.
Embora mães e pais tenham a responsabilidade primária sobre seus filhos e filhas, eles precisam de apoio e assistência para criar ambientes ideais ao desenvolvimento positivo da criança. A priorização pelo poder público da Primeira Infância revela-se um importante marco na garantia dos direitos das crianças na fase inicial da sua vida e no empoderamento das famílias.
Conclusão: todos nós, um dia… fomos crianças, mas nem todos nós tivemos uma infância. A infância sempre será um processo em construção e ainda um tempo de crescimento e treino para o viver e o ser completo e saudável.
REFERÊNCIAS
Saúde emocional na infância: https://www.childfundbrasil.org.br.
REICHERT, Evania. A Infância: A idade Sagrada. Ed.Valle do Ser, 2011.
Ministério da Saúde: Biblioteca Virtual em Saúde.
Poder Judiciário: CNJ. Pacto Nacional Pela Primeira Infância. Brasília, 2020
SHINYASHIKI, Roberto. Pais e filhos companheiros de viagem. Ed. Gente 2012.
Ilham El Maerrawi, Psicóloga e Jean Khater Filho, Pediatra. Membros do Conselho de Educadores – EPB. khater.j@uol.com.br
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