Desde crianças aprendemos a reprimir e negar nossos sentimentos, mas as lembranças que consideramos esquecidas continuam ativas em nós. Assim como o inconsciente, nosso corpo também armazena todas as informações sobre as experiências de nossa vida, ainda que não nos lembremos, e principalmente aquelas que acontecem nos primeiros anos de vida, pois quanto mais cedo for vivenciada, mais permanente será seu efeito, ainda mais quando se sofre algum tipo de abuso, seja emocional, físico e/ou sexual.
Mas o esquecimento de antigos traumas, ao contrário do que muita gente acredita, não nos traz nenhuma solução. Em algum momento se fará presente, seja com outras pessoas, na forma de repetição de padrão, ou mesmo com nossos filhos, e muitas vezes, sem que se perceba. E pior ainda, poderá se fazer presente pelas doenças e/ou sintomas físicos.
Hoje a ciência já comprova que as experiências dos primeiros dias, semanas e meses de vida são determinantes no modo como o cérebro irá se estruturar.
Devemos ainda lembrar que já nascemos com uma história de nove meses entre a concepção e o nascimento. Mas então por que a maioria das pessoas esquece o que aconteceu nesse período tão significativo? Um dos motivos, ainda que inconsciente, é não querer nunca mais sentir as dores daquela criança pequena e tão indefesa que foi um dia. E também porque somos educados, ou como diz a psicóloga e escritora Alice Miller, somos “deformados” desde muito cedo a reprimir qualquer expressão de nossos sentimentos e, em consequência, quando somos adultos, continuamos a reprimi-los automaticamente e drasticamente.
Quando há algum tipo de mau trato durante a infância e, quando adultos continuamos a idealizar nossos pais e negar os sinais do corpo, será possível desenvolver os mais variados tipos de sintomas. O sofrimento emocional reprimido decorrente de surras, humilhações, enfim, qualquer tipo de abuso, quase sempre se manifestará em dores físicas, ou seja, muitos sintomas físicos têm origem no fato de aprendermos desde muito cedo a reprimir o que sentimos. Assim, desenvolvemos estratégias para sobreviver à dor de não sermos aceitos como a criança que fomos, a dor de não recebermos atenção, afeto, amor, tão essencial a qualquer criança. Aos poucos, aprendemos a nos desligarmos de nossos sentimentos e necessidades, ocultando e negando aos outros e a nós mesmos.
É preciso em algum momento enxergar a crueldade que se viveu quando criança, o quanto foi torturada emocionalmente por pais e/ou responsáveis e não continuar acreditando que uma criança não sente dores, que tudo foi feito para o “seu bem”, para que assim seja “bem educada”, e pior ainda, que tudo que sofreu foi por culpa sua. Não, isso nunca foi e nem pode ser verdade. A criança é sempre vítima, sempre inocente.
Muitas pessoas, hoje adultas, continuam a se tratar como foram tratadas quando crianças: com indiferença, desprezo, sem afeto e amor.
Como você tem cuidado de você?
Preocupa-se com todos à sua volta que nem se lembra do quanto você é importante?
Você tem consciência de suas necessidades emocionais e busca supri-las de forma saudável ou as despreza como um dia fizeram com você?
O que você se lembra de sua infância?
Você sentiu a dor do desprezo, rejeição, abandono, indiferença, humilhação? Ou pensa que tudo isso é normal para uma criança sentir?
Você foi vítima de algum tipo de abuso físico ou sexual?
Pense sobre isso. Caso sua resposta seja sim, procure um psicólogo que possa junto com você ajudá-lo a expressar toda dor que guardou por tantos anos. Ainda que não se lembre muito do que aconteceu, lembre que seu corpo registrou tudo, assim como seu inconsciente, e só o acompanhamento com uma pessoa que o compreenda poderá fazer toda a diferença e facilitar que as lembranças sejam recordadas e a dor liberada.
Há também alguns livros sobre o assunto e que poderá ajudar:
– A Verdade Liberta – Alice Miller
– O Drama da Criança Bem Dotada – Alice Miller
– A Revolta do Corpo – Alice Miller.
Faça um comentário