ORIENTAÇÕES AOS PAIS, FUTUROS PAIS E AGENTES EDUCADORES SOBRE DROGADIÇÃO

Segundo dados publicados em 15/10/2020 pelo Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social, Familiar e Combate à Fome, e atualizados em 21/10/2022 (*) o Brasil conta com um número estimado de 28 milhões de pessoas que têm em sua família um dependente químico. Sabemos que nem todos os casos são notificados e por isso não fazem parte dessa estimativa. Sabemos também, que cada dependente pode afetar a saúde física, emocional e econômica de ao menos 4 familiares, logo teremos, em números arredondados, 120 milhões de brasileiros afetados diária e diretamente pelos efeitos nocivos de drogas.

Há muitas definições sobre o que são, ou que o que pode ser considerado como droga. Gosto muito de uma definição propagada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Panamericana da Saúde (OPAS) que considero simples e efetiva: “qualquer substância sólida, líquida ou gasosa que afete as funções orgânicas quando ingerida, inalada ou injetada na corrente sanguínea ou absorvida pela pele e que produza modificações na pessoa que dela fez uso”.

A partir dessa definição não vamos nos ater sobre as diferenças e semelhanças entre as chamadas drogas lícitas e ilícitas. Todas possuem substâncias psicoativas que modificam, no cérebro, a ação de neurotransmissores específicos, responsáveis por sensações prazerosas, desagradáveis e até mesmo dolorosas.

Drogas em geral podem ser divididas, segundo a nova nomenclatura adotada pela ciência, em cinco grupos específicos:

1-      Eufóricas – são calmantes da vida psíquica. Eventualmente suspendem funções de emotividade e percepção, como a cocaína, crack, morfina, heroína…

2-      Fantásticas – são agentes alucinógenos vindos de substâncias de origem vegetal: cactus peyote, LSD, maconha, skank…

3-      Inebriantes – são aquelas que contém substâncias embriagantes: álcool, éter, benzina, gasolina, produtos de limpeza…

4-      Hipnóticas – são agentes indutores do sono, remédios usados sob prescrição médica obrigatória. Geralmente também são usados de forma ilícita, como o Boa Noite Cinderela.

5-      Excitantes – são os estimulantes psíquicos, geralmente de origem vegetal, usados para estimular o cérebro: cafeína, tabaco, narguilé…

Há vasta e controversa bibliografia sobre o assunto drogas, que pode ser buscada em anais, revistas e site da Escola de Pais do Brasil, bem como no Google. Há também profissionais especialistas que se alinham frontalmente contra o uso de qualquer droga, outros que se pensionam a favor de algumas que consideram menos prejudiciais, outros ainda que trabalham com a redução de danos, propondo a substituição de uma droga considerada mais “pesada” por outra mais “leve”.

Desde 2015 o Supremo Tribunal Federal (STF) discute sobre a descriminalização do porte e uso da maconha e no momento, abril de 2024, o processo está parado, sob pedido de vista do Ministro Dias Toffoli. Quando isso aconteceu, o placar estava em 5 votos a favor de descriminalizar o porte para uso pessoal, e 3 votos contra e até o momento não há data para retomada dos votos. (Acesso em 03/04/2022).

Como membro do Conselho de Educadores da Escola de Pais do Brasil e há mais de 40 anos especialista no assunto atuando tanto na área clínica como em meios acadêmicos, quero deixar registrado que não incentivo o uso de qualquer droga não prescrita por médicos e penso que a EPB deva seguir essa linha de conduta, deixando essa postura clara a seus associados e seguidores.

Essa é uma postura que necessita sempre estar embasada em estudos atualizados. Por exemplo, há poucos anos surgiu o uso medicinal da Canabis, no entanto, há que se lembrar que o princípio ativo utilizado no medicamento não é o mesmo da maconha e seus derivados, usualmente traficada e consumida de forma ilegal. Há estudos seriíssimos em toda a comunidade médico científica para utilizar de forma ética e eficaz um princípio ativo capaz de prevenir o agravamento de doenças graves e/ou mitigar ou acabar com dores por vezes insuportáveis e resistentes a outras medicações.

Assim, reafirmo que sempre, e a qualquer momento, quem lida com pais e responsáveis por crianças e adolescentes tem que manter-se informado e atualizado sobre o assunto drogas, e tratar o tema com normalidade, evitando demonizar, julgar, romantizar, maximizar ou empalidecer sua importância, ou mesmo se ater a crenças de que coisas ruins só acontecem com pessoas “ruins”, ou com famílias desestruturadas.

Como estratégias de prevenção ao uso ou abuso, os velhos remédios de sempre continuam necessários e eficazes: acolhimento, exemplo, disponibilidade, diálogo, regras familiares claras, limites definidos e muito amor.

Para quem está lidando com o problema na família, aconselho coragem e fé, pois são momentos muito duros para todos os envolvidos. Adultos são os responsáveis pelo bem-estar e saúde do usuário e devem se fazer disponíveis e humildes para entender que só o empenho da família, por vezes, não será suficiente para dar conta do problema instalado – é importante e saudável para todos buscar ajuda de médicos psiquiatras, psicólogos, grupos de apoio específicos, e também religiosos, se for o caso. A rede pública de saúde conta com serviços específicos para esse fim, bem como diversas entidades não governamentais. Sugiro pesquisar a que mais se adequa a seus valores familiares, algumas são bastante rígidas e inflexíveis. Lembre-se que o que é bom para alguns necessariamente não é bom para todos.

E finalmente, quando e se passar o furacão, lidar com as consequências, não tentando minimizar ou esquecer as dificuldades enfrentadas, mas tirar delas lições para todos. O período de readequação envolve toda a família e exige mais uma vez coragem, acolhimento, exemplo, disponibilidade, diálogo, regras claras, limites definidos, amor, não julgamento e não rotulação, além de agradecimento.

Vale ainda lembrar que regras e limites devem ser adaptados a cada realidade familiar, mas devem ser sempre fundamentadas em valores universais que constituem a base de todos os princípios éticos e morais, desde a antiga Grécia: Sabedoria, Bondade, Amor, Pureza, Paz, Misericórdia, Beleza e Harmonia. Sustentados por tão preciosos alicerces, deixo meus sinceros, porém utópicos, votos de que nenhuma família passe por problemas longos e/ou difíceis, mas se acontecer, lembrem-se que há solução – nem sempre a que queremos, mas a que nos é possível.

REFERÊNCIAS

CARNEIRO, H – História das drogas e bebida, São Paulo: Ed Campus, 2005.

HERCULANO, Houzel – Sexo, drogas e rock’n roll. Rio de Janeiro: Vieira Pleuti, 2003.

MAGNO, L.C.F. – Prevenção às drogas. São Paulo: Empresa Jornalística RJR, 2003.

McDANIEL, Susan H. Terapia Familiar Médica: um enfoque psicossocial às famílias com problemas de saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

FISHMAN, H. Charles – Tratando adolescentes com problemas: uma abordagem da terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

RUY DE MATHIS – Psicólogo Clínico, Psicodramatista, Especialista em Drogadependência, Mestre em Educação, membro do Conselho de Educadores da Escola de Pais do Brasil.

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