A idade de 4 a 6 anos é uma fase da infância de grande desenvolvimento. Nesta fase, a criança já adquiriu muitas habilidades motoras (sabe correr, subir escadas, desenhar) e já deve dominar bem a linguagem. Isso permite a ela que explore, por meio de brincadeiras, várias experiências. Porém, apesar de todo este potencial, as crianças ainda não têm a capacidade de raciocínio dos pais e não têm o poder de decisão sobre suas vidas, o que pode gerar muitos conflitos.
HIPERATIVIDADE
Entre as principais queixas dos pais está a dificuldade em lidar com crianças hiperativas. Crianças, em geral, são muito ativas. Esta atividade é fruto da curiosidade. Tudo é novo e interessante para uma criança e graças a isso elas se desenvolvem tão rápido e aprendem tanto em pouco tempo. A queixa de hiperatividade pode ser, na verdade, o reflexo de pais muito cansados, ou uma expectativa irreal sobre os filhos. Não é esperado que uma criança de 4 a 6 anos aja como um adulto e passe horas sentada em silêncio. O esperado é que, no tempo livre, a criança esteja brincando. Mas a brincadeira deve ser, de alguma forma, organizada. Por exemplo, entre 4 e 6 anos a criança já é capaz de iniciar e terminar a montagem de algum pequeno quebra cabeça, já consegue jogar jogos de tabuleiro simples, já consegue participar de um jogo de dominó ou cartas. Crianças que começam várias brincadeiras e não se detém nelas por ao menos alguns minutos, podem realmente apresentar o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e precisam passar pela avaliação especializada. De toda forma, uma boa maneira de lidar com a hiperatividade é diminuir o excesso de estímulos: apagar um pouco as luzes, diminuir o som, desligar a televisão e aparelhos eletrônicos. Também está indicado para crianças muito ativas a prática de esportes aeróbicos para que possam extravasar seu excesso de energia.
AUTONOMIA
Outra das principais queixas dos pais dessa faixa etária na pesquisa foi a dificuldade em incentivar a criança a fazer atividades sozinha. A raiz desse problema deve estar em como foi o desenvolvimento até aqui. Se a criança está acostumada a ser repreendida a cada passo, a receber um sermão por derrubar um suco, a não fazer nada sozinha (vestir-se, tomar banho, escovar os dentes), é esperado que ela não se sinta capaz e não tenha iniciativa em fazer atividades sem o auxílio ou aprovação dos pais. Isto se torna perceptível na hora das tarefas escolares, quando a criança solicita que os pais estejam ao seu lado conferindo tudo e até fazendo a atividade toda por ela. Outro problema é a falta de engajamento da criança nos trabalhos domésticos. É preciso dar responsabilidades desde cedo, como colocar a mesa ou secar a louça, para que a criança valorize, aceite e se interesse pelos afazeres da casa. Além disso, um bom modo de melhorar a autonomia da criança é elogiá-la quando realizar algo de bom.
ELETRÔNICOS E HORA DE DORMIR
A principal dificuldade relatada pelos pais dessa faixa etária na pesquisa foi estabelecer limites no uso de eletrônicos e no horário de dormir. O uso desses dispositivos pelas crianças é alvo de diversas pesquisas e ainda tema muito controverso pela ciência. Já está comprovado que quanto maior o número de horas gasto em tablets e celulares, maior o risco de obesidade e pior é o desenvolvimento de habilidades sociais e capacidade de resiliência (aguardar por uma recompensa). As pesquisas também demonstram que há diferenças no desenvolvimento infantil conforme o conteúdo consumido. Piores índices de comportamento ocorrem quando as telas são mais utilizadas para assistir a desenhos do que para jogos educativos. A exposição à luz dos aparelhos eletrônicos, mesmo durante o dia, resulta em uma diminuição no número de horas de sono, provavelmente devido à alteração na secreção de melatonina. Dessa forma, a briga dos pais é válida e deve continuar. Uma forma de estabelecer estes limites é colocar um cartaz com o número de horas permitida e com espaço para checar todos os dias se a criança cumpriu o combinado (tipo calendário do bom comportamento). Crianças dessa idade não devem possuir o próprio celular e não devem ter televisão em seu quarto. Além disso, os pais também devem limitar seu uso de eletrônicos em frente à criança e seguir regras como “sem celular na hora da refeição”.
Publicado na Revista Escola de Pais Seccional da Grande Florianópolis – dezembro de 2019, pg. 15
Dra. Aline Besen – Médica Neuropediatra.
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