O desenvolvimento emocional do bebê é um processo que começa muito antes dele nascer, durante a gestação e a partir dos primeiros dias e semanas de vida dele e segue seu curso ao longo da vida. Atualmente existem cada vez mais pesquisas com bebês que apontam seus saberes e o quanto ele é participante ativo do seu desenvolvimento e das relações que estabelece com os seus cuidadores, porém, ele precisa de um tempo para metabolizar dentro de si o nosso cuidado.
A partir destas descobertas, e com a evolução da medicina e da pediatria, o compromisso com os cuidados que garantem a sobrevivência dos bebês deu lugar ao compromisso com o bem-estar e qualidade de vida dos bebês e das crianças pequenas. O olhar e cuidado para o desenvolvimento integral da criança engloba tanto o aspecto físico quanto o aspecto psíquico, sendo assim, conhecer o que é esperado em cada etapa do desenvolvimento ajuda a identificar quando algo não está bem.
Desde 2017, existe uma Lei (13.438) que torna “obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para seu desenvolvimento psíquico” (BRASIL, 2017).
Além de sabermos que o investimento na primeira infância gera economia futura, pois a detecção e atendimento precoce diminui a demanda futura dos atendimentos em saúde, temos que ter em mente que o sofrimento do bebê não diz respeito somente ao bebê e à criança pequena, mas ele continua ao longo da vida e vai constituir o núcleo de todos os tipos de psicopatologias posteriores (BRUN, 2018).
Não só é possível identificar, como também tratar precocemente sinais de sofrimento e risco de desenvolvimento que o bebê possa apresentar, de forma que ele possa retomar seu curso de desenvolvimento dentro do que é esperado. Pesquisadores na Itália e na França observaram estes sinais e desenvolveram instrumentos que ajudam os profissionais da saúde e da educação a avaliar os bebês, sendo possível propor intervenções que são transdisciplinares, com psicólogos, fonoaudiólogos, psicomotricistas e osteopatas.
E que sinais seriam esses? Alguns sinais detectados por estes pesquisadores são: atrasos das aquisições motoras, assincronia entre movimento de membros e eventos de linguagem, mímica facial pobre, um bebê pouco reativo, um bebê que nunca toma a iniciativa nas interações, um bebê muito silencioso, que emite poucas vocalizações e balbucios, sobretudo os endereçados, com evitamento ativo do olhar, com preferência por objetos mais do que interesse pelas pessoas, ausência de atenção compartilhada denotando ausência de compartilhamento de prazer, de endereçamento ao outro, recusas alimentares e distúrbios de sono (CATÃO, 2018).
Ter alguns destes sinais quer dizer que o meu bebê tem alguma doença? Não, um sinal de risco não deve ser considerado como suficiente para a afirmação de que há uma patologia. Antes dos três anos de idade a detecção é da presença ou não de sofrimento psíquico na criança, e já podemos fazer um atendimento específico para esta demanda. Esses sinais nos mostram que os bebês estão com algum desconforto que está dificultando a interação com seus cuidadores. Sendo assim, a nossa intervenção deve ocorrer de forma a aliviar o desconforto do bebê e facilitar a sua relação com seu cuidador. Por isso, a intervenção é feita sempre com o bebê junto de seus cuidadores principais, com foco em ajudar a (re)estabelecer um bom relacionamento entre eles. Quando for percebido qualquer sinal de risco os pais podem e devem buscar auxílio de um profissional capacitado que possa identificar e intervir ou encaminhar em tempo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei N° 13.438, de 26 de abril de 2017. Diário Oficial da União, Brasília, DF. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei-13438-26-abril-2017-784640-publicacaoori ginal-152405-pl.html. Acesso em 24 de outubro de 2020.
BRUN, Anne. Sofrimento psíquico na primeira infância. Continuidade e descontinuidade no processo de subjetivação do bebê. São Paulo: Escuta, 2018.
CATÃO, Inês. Detecção e intervenção a tempo em bebês em risco de autismo e seus pais: implementação de um projeto no SUSDF. Autismo: Perspectivas atuais de detecção e intervenção clínica. São Paulo: Instituto Langage, 2018.
Bruna Detoni – Psicóloga Clínica Doutoranda em Educação (PUCRS); Mestre em Psicologia Social (PUCRS); Especialista em Psicoterapia da Infância e Adolescência (CEAPIA); Especialista em Psicoterapia Familiar e de Casal (DOMUS) Membro da Associação La Cause des Bebés Repensar Infância (www.repensarinfancia.com.br)
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