Dizem que saudade é uma palavra com grande significado e que quando nos referimos à saudade que sentimos de algo, isto quer dizer que as lembranças que temos relacionadas ao evento, época ou experiência que vivenciamos são boas.
Há de nascer quer não concorde com tal afirmação, acredito eu. Então lanço a pergunta para que reflita: você tem saudade da sua infância? A resposta de uma mesma pessoa pode em questão de segundos passar por várias interpretações… “Sim”, “Não”, “Às vezes”, “De algumas coisas”… por quê? Porque nossa vida é feita de experiências boas e outras não tão boas e o que nos impulsiona a crescer, evoluir e nos superarmos é acreditar que a fase seguinte será melhor.
Então, uma infância saudável requer que a criança não tenha nem receba tudo o que quer, mas sim, que tenha a oportunidade de sonhar, empenhar-se, frustrar-se, encantar-se e conquistar de acordo com seus méritos e esforços, sendo acolhida, cuidada e incentivada quando necessário sem que etapas de seu desenvolvimento físico e emocional sejam negligenciados.
E o que quer dizer isso?
Em uma visita que fiz há alguns anos a uma tribo indígena, ouvi da chefe da tribo que as crianças da cidade que iam até lá eram como “passarinhos de gaiola”, que criança precisava tocar na terra, na planta, ter espaço para correr e pular… subir em árvore e comer fruta colhida na hora para crescer saudável, respeitando a natureza, que esta tinha que ser sua realidade do dia a dia, e não do final de semana ou apenas no período de férias, assim elas seriam mais calmas e iriam sorrir mais.
Para mim foi impactante esta narrativa, pois olhando para o mundo, para nossa sociedade e nossas crianças – a respeito deste este tópico – não posso deixar de concordar com esta sábia percepção da essência humana e da necessidade de uma criança.
E na perspectiva da ciência moderna dentre as várias correntes que estudam a formação do ser humano e seu desenvolvimento psicofísico e cognitivo, todas convergem para a importância da primeira infância na formação da personalidade, pontuando que nesta infância é que se forma o sentimento de segurança, pertencimento, solidariedade e vontade no indivíduo e que estas são moldadas na base do relacionamento da criança com o adulto suficientemente disponível para mediar suas interações cuidando e orientando, assim como suas experiências junto ao ambiente que a cerca.
Unindo estes dois pressupostos, resta-nos olhar para nossas casas e a dinâmica dos adultos que nela vivem e ver como a mesma foi pensada, planejada e organizada para ser um ambiente que promova uma infância saudável física e emocionalmente às nossas crianças.
Afinal diante da época que estamos vivendo onde a pandemia exige o distanciamento e o isolamento mais do que nunca a casa tem que ser um lar que ofereça oportunidade de desafio no contato com a natureza e o tempo vivido junto deve ser visto como o maior presente para o fortalecimento das relações para que a lembrança deste tempo tenha sabor de saudade.
Marina de FÁtima Debur Bernert – Pedagoga e Terapeuta Familiar Sistêmica.marina@nossotempo.com.br
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