BULLYING E CYBERBULLYING – O QUE FAZER COM ISSO?

Luciana fica até altas horas em seu computador trocando mensagens com mais de quinhentos amigos de sua rede de relacionamentos e interagindo com centenas de usuários de jogos online. Acha a realidade virtual muito mais interessante do que o chamado “mundo real”. No entanto, quando Marcelo a escolhe como alvo e começa a torpedeá-la com mensagens ofensivas pelo celular e pelo computador, Luciana fica transtornada, sem saber como agir com seu inimigo desconhecido.

A situação se agrava na escola quando Leonardo envolve Marcelo na prática do cyberbullying para difamar outro colega. A diretora, preocupada com as condutas violentas entre os alunos, dá início à campanha “Agressão não é diversão”, criando ações de colaboração entre a equipe escolar, os alunos e as famílias para incentivar a uso responsável da rede e inibir a ação dos agressores.

Esse é o tema de A face oculta – uma história de bullying e cyberbullying, que escrevi para que alunos e professores possam refletir sobre o tema que está presente no cotidiano das escolas. Onde estão as fronteiras entre brincadeira, implicância, agressão e perseguição implacável no comportamento de crianças e adolescentes? Como orientá-los para o uso responsável da Internet e do celular, em casa e na escola?

Trabalhando como palestrante em todo o Brasil, tenho constatado a enorme preocupação das escolas e das famílias com o uso da internet. Se, por um lado, há o reconhecimento do enorme valor dessa ferramenta, por outro há riscos de uso excessivo, em detrimento de outras experiências de vida, e de potencializar comportamentos violentos, como acontece no cyberbullying. O trabalho conjunto entre famílias e escolas é essencial para criar uma cultura de não tolerância à prática do bullying e do cyberbullying, desenvolvendo uma rede saudável de relacionamentos em que fique claro para todos que “agressão não é diversão”.

E quais são as expressões mais comuns da agressão? Humilhação, apelidos depreciativos; jogos de poder dos “chefes” e dos “populares” da turma que intimidam  colegas para que obedeçam aos seus comandos sob pena de exclusão do grupo; ameaças de agressão física ou constrangimento moral; mensagens difamatórias ou ofensivas. São ataques maciços à autoestima que, em muitos casos, estimulam na vítima sentimentos de rejeição, dificuldade de inserção no grupo, medo de ir à escola, crises de angústia e estados depressivos.

O bullying se caracteriza por ações repetitivas de agressão física e/ou verbal com a clara intenção de prejudicar a vítima. O cyberbullying é ainda mais terrível, porque a perseguição é implacável, podendo chegar a 24 horas por dia nos sete dias da semana: a vítima é atacada por mensagens de celular, filmada ou fotografada secretamente em situações constrangedoras que podem ser colocadas na rede; o agressor pode criar um perfil falso da vítima em sites de relacionamento para difamá-la ou adulterar fotos em que, por exemplo, ela aparece como garota de programa, com seu celular divulgado nas listas de contato do agressor e de seus amigos.

O perfil mais comum da vítima: crianças e adolescentes inseguras, tímidas, com dificuldades de comunicação; os que se destacam como ótimos alunos, estimulando os ataques por inveja. O perfil mais comum dos agressores: pessoas inseguras, que já foram vítimas de ataques, com dificuldades de relacionamento e pouca empatia; as que desenvolvem capacidade de liderança, utilizada de modo negativo; as sociopatas, manipuladoras, que se divertem causando sofrimento em outros. No cyberbullying, o agressor conta com a possibilidade de se esconder no anonimato da rede, imaginando que não haverá consequências para seus atos. Muitas vítimas sofrem em silêncio, por medo ou por vergonha de revelar que estão sendo atacadas, o que aumenta o poder do agressor. É importante também o papel das testemunhas: muitas se calam por medo de serem as próximas vítimas. Porém, podem ter um papel fundamental para inibir a ação dos agressores, formando uma rede de proteção.

O cotidiano da escola oferece inúmeras oportunidades de trabalhar os valores fundamentais do convívio: respeito, solidariedade, colaboração, gentileza. Os autores do bullying agem nas salas de aula, nos corredores, nos banheiros, no pátio, no ônibus escolar. Pensar que isso é “brincadeira de crianças” e achar que as vítimas “não sabem brincar” é negar o problema, até por não saber como lidar com ele. As escolas que fizeram campanhas anti-bullying bem sucedidas trabalharam com toda a equipe escolar e buscaram a parceria das famílias no sentido de criar uma cultura de não tolerância às ações do bullying e do cyberbullying.

As estratégias anti-bullying consideradas mais eficientes são: colocar os limites devidos e as consequências cabíveis às condutas de agressão; estimular a expansão dos recursos para fortalecer as vítimas; estimular nos agressores o bom uso de suas capacidades de liderança e o aumento da empatia; propiciar condições para a ação eficaz das testemunhas na prevenção dos episódios de bullying. O resultado é a melhoria da qualidade dos relacionamentos e o uso responsável da tecnologia.

Publicado no site: http://www.mtmaldonado.com.br

MARIA TEREZA MALDONADO (CRP 1296/05) mora no Rio de Janeiro, é Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio, membro da American Family Therapy Academy e exerce a profissão desde 1971.

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