
A Ciência já demonstrou que a vida que levamos enquanto adultos interfere na saúde genética dos gametas que carregamos — gametas que são a matriz dos nossos filhos — e isso terá impactos diretos sobre a vida deles.
Sabemos por outro lado, que a partir da concepção, dentro da realidade de intensa multiplicação celular, há uma extrema sensibilidade aos fatores ambientais que interferem na saúde epigenética. Esta realidade traz imensas repercussões sobre a vida fetal.
Ao nascer, uma infinidade de eventos — desde as primeiras horas, os primeiros dias, os primeiros meses e os três primeiros anos — constituem períodos críticos que trazem janelas ou grandes oportunidades de desenvolvimento. Sabemos, atualmente, que esses momentos correspondem a saltos de desenvolvimento em áreas específicas, o que mostra que o desenvolvimento do ser humano não se faz de forma linear — seja em sua imensa variedade de estruturas orgânicas, seja em sua estruturação psíquica. Portanto, a educação deve acompanhar o desenvolvimento que ocorre em partes e em tempos diferentes em busca da construção de humanidade.
O grande desafio dentro do exercício da parentalidade é que seremos, conscientes ou não, querendo ou não, presentes ou ausentes, grandes responsáveis pelo processo de humanização dos nossos filhos. “Nós não nascemos humanos, nós nos tornamos humanos”. Ouvi essa frase pela primeira vez (e lá se vão quase 30 anos) do querido e saudoso Haim Grunspun, no Congresso da Escola de Pais do Brasil. Este é sem dúvidas um desafio da educação: construir humanidade.
Essa frase nos possibilita muitas reflexões e questionamentos que perpassam o tempo:
– Este ser humano que vamos construir vai viver em qual cultura?
– Qual será sua forma de comunicação?
– Em qual idioma será a sua comunicação verbal?
– O que a sociedade onde ele está se desenvolvendo espera/exige dele?
– Quais são os valores?
E, quando falo em parentalidade, quem são esses pais? Um casal que convive de maneira estável ou vive uma convivência conjugal caótica? Um casal que vem de outros relacionamentos? Uma mãe sozinha cuidando do filho? Ou um pai sozinho? Estão sós porque o parceiro morreu? Por separação? Foi uma produção independente? São pais biológicos ou adotivos?
São diversas as configurações familiares que encontramos atualmente, e tenho absoluta certeza de que não citei todas as situações possíveis envolvendo filhos em situação de cuidado. Isso nos mostra a complexidade diante da diversidade de possibilidades que envolvem a educação dos filhos.
Considerando que somos seres em contínuo desenvolvimento, em todas as circunstâncias que envolvem ambientes familiares, os cuidados que os educadores devem ter com esse ser em desenvolvimento mudam constantemente, de acordo com o estágio evolutivo em que ele se encontra. Um dos maiores cuidados que o adulto deveria ter é o de não fazer nada que possa prejudicar o desenvolvimento da criança e, a partir de então, fazer tudo o que for possível para ajudá-la e estimular seu desenvolvimento. Outro desafio dos ambientes educadores é conhecer e atender, de forma adequada, às necessidades dos educandos em suas variadas etapas de desenvolvimento, ao longo de toda a sua existência.
Fica claro que as necessidades de todos os seres humanos, para construir sua humanidade, são bem conhecidas e não mudam em sua essência: são as nossas necessidades básicas. É fundamental que os núcleos familiares educadores consigam estabelecer prioridades, sabendo que é muito difícil recuperar etapas que foram inadequadamente atendidas.
Ao mesmo tempo, o ser humano tem uma imensa capacidade de se adaptar aos ambientes que o acolhem e às pessoas que os habitam, conseguindo sobreviver até mesmo em contextos com cuidadores perversos. Todos teremos nossa humanidade moldada conforme os ambientes em que nos desenvolvemos e as circunstâncias que nos cercaram.
Em um mundo de mudanças tão rápidas e intensas, escrever sobre este tema, de certa forma, além de desafiador, apresenta o risco de que, na próxima semana ou no próximo mês, os conceitos já estejam modificados. Também porque a dinâmica da vida humana é tão pouco e por poucos compreendida.
Quando falamos sobre educar filhos, podemos definir um tempo de educação?
Vamos pensar, sou pai de um filho que tem um filho, o meu tempo de educação se encerrou?
Talvez fosse melhor pensarmos melhor nas mudanças que ocorrem ao longo da educação dos filhos.
Quando começa esse tempo de educação? No desejo ou não de ter filhos? Na concepção? No nascimento? À luz dos conhecimentos atuais, considero ousado estabelecer um tempo onde começa e onde termina.
O tempo de educar é o tempo todo e todo o tempo.
Cezar Augusto Detoni – Médico, gastroenterologista, endoscopista e pós-graduado em Terapia de Família e Casal. Tem MBA em Gestão de Cooperativas e é associado da Escola de Pais do Brasil desde 1987.
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