Educação para sustentabilidade e a agenda 2030: um chamado para a família

A Escola de Pais do Brasil (EPB) celebra seus anos de história fiel à sua missão de “Ajudar pais, futuros pais e agentes educadores a formar verdadeiros cidadãos”. Ao longo de suas seis décadas de trabalho voluntário e social, a EPB tem sido uma referência na promoção da educação familiar, contribuindo para que milhares de crianças pudessem crescer em lares mais harmoniosos e felizes. Os Congressos Nacionais da EPB são momentos cruciais para abordar temas de grande interesse e profundidade, sempre muito pertinentes e oportunos para a educação familiar e para a sociedade.

Neste contexto, o tema da Educação para Sustentabilidade e a Agenda 2030 da ONU surge como um tópico urgente e fundamental para a saúde planetária. Embora a Agenda 2030 seja um plano global, sua realização depende de ações concretas em todos os níveis, começando pela família, a célula principal da sociedade. Formar verdadeiros cidadãos hoje significa prepará-los de forma inspiradora e propositiva para construir um futuro digno e sustentável para todos.

A Agenda 2030 da ONU é um plano de ação global lançado em setembro de 2015, com o objetivo de alcançar um mundo melhor até 2030. Estabelecida por 193 países membros da ONU, ela se baseia na erradicação da pobreza como maior desafio global e indispensável para o desenvolvimento sustentável. Contudo, sua visão é abrangente e integrada.

A Agenda é composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas, que buscam equilibrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Os ODS abrangem desde a erradicação da pobreza e da fome até a proteção do planeta contra a degradação, a promoção da prosperidade econômica e social, e a construção de sociedades pacíficas, justas e inclusivas. A Agenda reconhece que o desenvolvimento sustentável não pode ser realizado sem paz e segurança de forma justa e igualitária. Para sua implementação, é essencial uma Parceria Global revitalizada, envolvendo governos, setor privado, sociedade civil e indivíduos.

A Agenda 2030 é um instrumento essencial que oferece um roteiro claro de como podemos contribuir para um futuro melhor. A missão da EPB de formar cidadãos alinha-se perfeitamente com a visão da Agenda de construir um mundo onde ninguém seja deixado para trás, e onde as futuras gerações possam prosperar.

O Objetivo 4 da Agenda 2030 busca “assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade” [ODS 4]. Uma meta específica (Meta 4.7) visa garantir que todos os alunos adquiram os conhecimentos e habilidades necessários, incluindo: estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não-violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural.

A educação para a sustentabilidade se encaixa naturalmente neste escopo, pois está ligada à formação integral do indivíduo e à sua capacidade de se relacionar de forma positiva com o mundo. Práticas educativas positivas, como atenção adequada, regras claras, afeto, acompanhamento e o desenvolvimento de empatia e responsabilidade, são fundamentais. Podemos e devemos considerar a educação para a sustentabilidade como mais um desses fatores protetivos para a continuidade da qualidade de vida e ambiente saudável para todos os seres, em especial para as futuras gerações.

Ensinar nossos filhos sobre o cuidado com o ambiente, o consumo consciente e a importância da preservação é desenvolver neles a responsabilidade, a empatia nas suas relações com todos seres e comunidade, e o discernimento sobre o impacto de suas ações. Isso se conecta diretamente com o Objetivo 12 da Agenda 2030, que busca “assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis”.

Praticar os 3Rs (Reduzir, Reutilizar, Reciclar), especialmente em relação ao plástico e produtos de uso único, são exemplos concretos de como as famílias podem contribuir. Importante refletir de forma consciente em relação ao consumo, e dar preferência por empresas locais, de pequenos produtores que usam materiais naturais e se preocupam em não impactar o meio ambiente. Trata-se de um “ajuste positivo” que as famílias podem fazer em seu dia a dia, impactando a cadeia de consumo e produção. Reduzir o consumo de produtos com alto impacto ambiental, como a carne vermelha, também é uma ação alinhada a este objetivo.

Além do lar, agir na comunidade é essencial. A participação em atividades comunitárias de cuidado com o ambiente, o envolvimento em iniciativas locais de preservação ou o apoio a movimentos de sustentabilidade são formas de tornar nosso impacto positivo e de sermos “modelos a serem respeitados e imitados” para crianças e jovens.

O tema da sustentabilidade e da Agenda 2030 é estruturante ao apoiar o trabalho da EPB em se manter alinhada com as novidades e transformações do mundo. Os ODSs fazem um chamado à ação para mudar o nosso mundo. É importante reconhecer que as crianças e jovens são agentes fundamentais de mudança. Nós, como pais e educadores, temos o privilégio e a responsabilidade de orientar e sermos modelo inspirador para essa nova geração.

Promover a educação para a sustentabilidade não é apenas ensinar sobre reciclagem ou economizar água. É sobre formar indivíduos conscientes, ativos, empáticos e com compromisso socioambiental, capazes de construir um futuro mais justo e equitativo. É transformar a sustentabilidade de um conceito distante em uma realidade prática no dia a dia, através da inclusão de uma visão de que somos natureza, e o que fazemos ao planeta e todos os seres, estamos fazendo a nós mesmos, fortalecendo assim práticas positivas em nossas vidas e comunidades.

Juliana Gatti Pereira Rodrigues – É especialista em Design para Sustentabilidade e Mestre em Conservação da Biodiversidade pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas. Idealizadora e Diretora Executiva do Instituto Árvores Vivas, uma organização que promove o direito de crianças e adolescentes a ambientes limpos, saudáveis e sustentáveis. Desenvolve programas e projetos de educação ambiental climática em parceria com entidades da área de saúde, educação e cultura. Co-autora do livro e cartas Natureza fora da caixinha.

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