
O cuidado que recebemos é reflexo do que demonstramos.
Desde o instante em que os bebês vêm ao mundo, tornamos nossos filhos nossa prioridade:
auxiliando-os em suas necessidades básicas, equipando toda a casa para sua segurança
quando começam a andar. Depois, segurando o freio de mão quando começam a dirigir e
ligando todos os dias para perguntar como estão.
A preocupação torna-se algo natural, mesmo quando nossos filhos não sentem mais a
necessidade de nossa ajuda. Perguntas insistentes como: ”O que comeu hoje?”; “Está bem
agasalhado?”; “Vai voltar que horas?” e tantas outras cansam seus ouvidos, mas não
deixamos de fazê-las; este é o ciclo natural da vida.
Mas o ciclo da vida tem altos e baixos e, eventualmente, os papéis são invertidos. A
realidade de muitos filhos torna-se cuidar dos pais, a preocupação passa a ser conosco,
seja por limitações da idade ou doenças que possam vir com o envelhecimento,
inevitavelmente chegaremos a um ponto em que não cuidaremos mais, mas sim seremos
cuidados.
Por um lado, a longevidade é uma benção, porém, ela traz outros problemas, como as
maiores chances de desenvolver doenças degenerativas, por exemplo. Com a expectativa
de vida cada vez maior, a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que o número de
diagnósticos de demência triplique até 2050.
Com a idade, quantas vezes começamos a ouvir aquilo que estávamos acostumados a
dizer? Dizem que somos teimosos, não obedecemos ou não paramos quietos. Nossos filhos
não compreendem o quão difícil pode ser para nós aceitar a mudança que vem com o
envelhecimento, seja ela gradual ou repentina.
Assim como os criamos para o mundo, nossos pais também nos criaram para sermos
independentes, construir nossas vidas. Nosso orgulho não nos permite admitir que
precisamos de ajuda, não queremos nos tornar dependentes novamente, especialmente de
nossos filhos. Este orgulho pode gerar diversos conflitos em relação à responsabilidade e ao
cuidado.
Nosso conhecimento sobre afeto e cuidado é formado a partir do que observamos em
nossos pais, por isso, o relacionamento ao longo da vida afeta a relação que teremos nesta
inversão de papéis. Quando mostramos aos nossos filhos o cuidado e o carinho, eles irão
aprender a cuidar de seus filhos e, consequentemente, de nós também. Porém, se a relação
ao longo da vida foi conturbada – não nos expressamos bem, não demos a eles bons
exemplos de cuidado e afeto – quando chegar a hora, eles terão mais dificuldades em nos
apoiar.
A falta de experiência e sentimentos como a culpa, a insegurança e outras dúvidas, poderão
afetar essa relação. Quando resistimos ou não aprovamos suas tentativas de nos ajudar,
tornamos tudo ainda mais estressante.
O tema deste ano me fez refletir sobre isto: como o cuidar afeta a forma pela qual seremos
cuidados. Nossos filhos aprendem o que veem, e o carinho conosco é reflexo do carinho
que demonstramos a eles.
Por isso, quando pensamos no envelhecimento, precisamos entender que a relação deles
com este processo pode ser tão difícil quanto a nossa. A empatia torna-se chave para uma
boa relação, tanto de nossos filhos conosco, quanto a nossa com eles.
O cuidado é uma relação empática e, hoje mais do que nunca, precisamos ter uma
sociedade empática. Acredito que, ao criarmos nossos filhos para serem empáticos,
tornaremos nosso futuro melhor, não apenas em relação ao cuidado conosco, mas também
no que se refere ao cuidado social.
Tito Zeglin – Jornalista, radialista e vereador em Curitiba.
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