Não me lembro de em algum outro tempo ter encontrado com tanta frequência esta preocupação nas pessoas: “viver com qualidade, não viver com medo”. O ano 2020 dizem alguns, é um ano para apagar do passado, não existiu no domínio das bem aventuranças… Convém dar uma olhada nesta questão, uma vez que muitas são as realidades, muitos os padrões de vida, variados são os estilos de sonhos e ambições, muitos são os medos que nos aterrorizam.
Já no alvorecer do ano, as notícias correram soltas sobre o novo vírus e sobre as manipulações de informações, já se configurava no horizonte a disputa política por trás da primazia do uso dos dados oficiais e das influências que poderiam decorrer de uma possível epidemia. Àquela altura ainda não se imaginava que haveria uma pandemia e nem o uso que seria feito dela. Os poucos que ousaram foram rotulados como disseminadores de “teorias da conspiração”. Os fatos se sucederam de forma sobejamente conhecida por todos, e fartamente falseados por muitos; popularizou-se a expressão “fake news”; manipularam as informações, multiplicaram-se os falsos “especialistas” oficiais e extraoficiais, trucidaram as interpretações dos postulados científicos, da biologia à estatística; chegaram a prever a morte durante o ano, como moscas, de milhões de brasileiros, assassinaram muitas reputações, “mataram de medo” o povaréu… E efetivamente, tivemos desemprego, desassistência, desesperança, insegurança, fome e mendicância. Famílias perderam status, abandonaram planos, conheceram a violência, muitos desesperados, até suicídios… E o mais doído: as crianças privadas do direito à escola, ao convívio com seus amigos… Muitos idosos morreram e ainda morrem pela doença, muitos com a doença, e outros pelo medo da doença. Hoje as “inconsciências” fogem à responsabilidade pela malversação dos dados, pela ganância na disputa desmedida de ganhos político-eleitoreiros, ou da “grana” envolvida, tais como medicamentos caríssimos versus os de domínio público, vacinas não testadas adequadamente, enfim, fogem à responsabilidade pelo genocídio, além de textos e mais textos falaciosos em editoriais e noticiários inconsequentes. Ai meu Deus, e ainda se avolumaram as evidências sobre o fantasma da famigerada “nova ordem mundial”.
Aspectos importantes a destacar sobre o viver com qualidade ou o viver com medo:
O medo não é cultural, algo aprendido no grupo, ele é instintivo e necessário, também os animais o têm como instrumento de preservação da vida ou da integridade. O problema maior da modernidade como tem sido dito pelos pensadores atuais, é que o medo não tem limites, nem forma, ultrapassa todas as expectativas e supera as possibilidades do bom senso em combatê-lo. Como tenho ensinado aos meus netos, o medo paralisante é o nosso maior inimigo, temos que vencê-lo ou seremos escravos dele ou de quem o manipula. Sim, o medo é instrumento de dominação, principal ferramenta do terrorismo.
Hoje temos medo das forças naturais imprevisíveis a longo e algumas a curto prazo, temos medo das consequências de políticas equivocadas de governantes e afins, de tecnologias poderosas de dominação nas mãos erradas, temos medo de escolher nossos dirigentes, temos medo de expor nossos dados pessoais, temos medo de tomar decisões de qualquer tipo… O medo é natural diante do desconhecido, mas não podemos aceitar a imposição de seus instrumentos porque estes não nos permitirão evitar a escravização.
Para não sucumbirem ao medo, como as famílias viveram com qualidade nestas circunstâncias de 2020? Algum ermitão, comunidades isoladas nas selvas, no meio rural, de certa forma tinham defesas naturais contra a pandemia – certo distanciamento. As periferias das grandes cidades, do povão até os mais abastados, os bairros nas grandes metrópoles não puderam fugir completamente à proximidade no transporte público e no adensamento urbano; tiveram que acatar, a duras penas, os precários meios de defesa disponíveis.
O que aprendemos de positivo neste ano 2020 de tantas carências, desesperanças, mas com muita resiliência? Não é difícil enumerar uma série de aprendizados positivos e outros nem tanto:
– aprendemos que definitivamente não dá para ter confiança nos órgãos de mídia em geral;
– aprendemos que as instituições democráticas que nós elegemos não nos representam bem;
– aprendemos que nossa capacidade de adaptação é grande como o risco de “acomodação”;
– aprendemos que nem tudo são trevas, há ainda muita gente boa, só que não se expressa;
– aprendemos o verdadeiro sentido da palavra solidariedade. Pululam estórias nas redes sociais.
Eu particularmente aprendi com buscas de algum “papo inteligente” na internet, o canal SUPERLEITURAS que estimula a busca dos grandes pensadores, e mostra de Albert Camus (7/nov/1913 – 4/jan/1960) – prêmio Nobel de literatura de 1957, (https://www.youtube.com/watch?v=rROZWds3i40) da obra “A Peste” que:
“O mal que existe no mundo provém quase sempre da ignorância, e a boa vontade, se não for esclarecida, pode causar tantos danos quanto a maldade. Os homens são mais bons que maus e, na verdade, a questão não é essa. Mas ignoram mais ou menos, e é a isso que se chama virtude ou vício, sendo o vício mais desesperado o da ignorância, que julga saber tudo e se autoriza, então, a matar.”
Encontramos no discurso do Nobel 1957 de Albert Camus, uma referência que ele fez a certo “fracasso” de sua geração e um prenúncio do que viria de dificuldades para as próximas gerações, e hoje 63 anos após nos vemos em uma encruzilhada da História, a ilustrar com as manipulações de uma pandemia, o reviver da desilusão do filósofo: “Cada geração se sente, sem dúvida, condenada a reformar o mundo, no entanto, a minha sabe que não o reformará. Mas a sua tarefa é talvez ainda maior, ela consiste em impedir que o mundo se desfaça. Herdeira de uma história corrupta onde se mesclam revoluções decaídas, tecnologias enlouquecidas, deuses mortos e ideologias esgotadas, onde poderes medíocres podem hoje a tudo destruir, mas não sabem mais convencer, onde a inteligência se rebaixou para servir ao ódio e à opressão, esta geração tem o débito, com ela mesma e com as gerações próximas, de restabelecer, a partir de suas próprias negações, um pouco daquilo que faz a dignidade de viver e de morrer.”
Mas o que seria viver com qualidade?
Ter qualidade de vida significa ter força vital e acordar animado, disposto a vencer as disputas do dia nascente. Quem encontra o segredo da qualidade de vida achou a fonte da juventude e mantém sua força vital; temos a felicidade de ver exemplos disso nos bailes e eventos da melhor idade. E convém sempre lembrar que muito de nosso descontentamento e indisposição não nos vêm de fatores externos como nossos relacionamentos e o trabalho, mas de fatores internos e da disputa íntima emoção x razão. Enfiar-se em uma rotina sem sentido ou necessidade, viver sem acesso ao prazer leva a maioria a desenvolver depressão. É fundamental a busca do autoconhecimento e, ajuda muito a prática da meditação, ou a psicoterapia.
Devemos encarar as dificuldades com naturalidade, e sobre isto encontrei nas buscas por ocupação nestes dias, no mesmo canal, (texto sobre Sêneca, em Sobre a Providência Divina), que diz:
“Sua força e sua coragem definham sem um antagonista: Eles só podem provar o quão são grandes e poderosos se provarem tolerar sofrimento. Você deve saber que os homens bons devem agir da mesma maneira, de modo a não temer problemas e dificuldades, nem lamentar seu duro destino, tomar em boa parte o que quer que lhes suceda, e força-lo a tornar-se uma benção para eles. Não importa o que você suporta, mas como o suporta.”
Não se trata de optar por um subterfúgio, mas de dar valor ao que realmente importa: viver num ritmo menos acelerado, preservar a saúde, desfrutar da família e amigos, sentir satisfação.
Melhorar a qualidade de vida implica, em primeiro lugar, assumir hábitos saudáveis. Substituir uma rotina sedentária pela prática de exercícios físicos, tomar a sua dose diária de SOL. Dentre meus aprendizados no mesmo canal, encontrei uma pérola simples mas valiosíssima, de (Epicteto, Discursos):
“Devemos nos disciplinar nas pequenas coisas e, a partir daí, progredir para as de maior valor. Se você tiver dor de cabeça, pratique não praguejar. Não xingue toda vez que tiver uma dor de ouvido. E não estou dizendo que você não pode reclamar, só não reclame com todo o seu ser.”
Concluo sugerindo superar o medo e viver com qualidade; são nossas metas, proposições a todos os que se irmanam na reforma de um mundo melhor para nossa descendência. Mas só pode ensinar aquele que aprendeu, ainda busca o aprender, o “saber fazer”, para isto é fundamental a preocupação diuturna em fazer o que se propõe com autêntica dedicação, amor, liberdade, sem esquecer de ser sempre justo e procurar neste caminho libertar-se das distrações que roubam a energia e o foco. Este é um caminho que deve ser racional, estar livre de paixões negativas do egoísmo, hipocrisia e inveja, o que tornará a sua travessia exitosa e permitirá a paz de espírito e almejada qualidade de vida.
E de quebra uma recomendação, ainda em tempo:
Consuma alimentos saudáveis;
Dedique um tempo para a família;
Valorize o silêncio tendo um momento para se desligar dos problemas – aprenda a meditar;
Trabalhe com algo de que você goste ou encontre um “hobby”.
Enfim, SEJA FELIZ.
Autor: Clélio Souza pai e avô de uma família linda junto com Maria das Graças Oliveira Souza, casal DR da EPB/Bahia
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