Sexualidade Adolescente e Escola

Apesar das propostas de incluir a educação sexual no currículo escolar serem antigas e a educação transversal proposta pelo MEC existir desde 1996, somente no ano de 2000 começou a se concretizar parcialmente a educação sexual em algumas salas de aula.

Existem ainda muitos preconceitos na área da sexualidade, apesar do liberalismo e da difusão de informações na sociedade. Segundo o dicionário Aurélio (1986) preconceito refere-se a uma opinião formada sem reflexão, como um conceito antecipado sem fundamentação. Os preconceitos que dizem respeito ao sexo resistem à chegada do século XXI e graças à desinformação, ainda se fazem presentes, portanto, no cotidiano dos adultos e adolescentes da sociedade atual. O imaginário masculino e feminino é repleto de conceitos e definições acerca do que é certo ou errado, normal e anormal, aceitável ou condenável quando o assunto é sexo. Fatores culturais, religiosos e familiares influenciam o modo como determinadas sociedades e seus integrantes entendem e praticam sua sexualidade, principalmente os adolescentes.

 Sexo e Sexualidade

São muitas as dúvidas que giram em torno destas duas palavras. Quase sempre se define a palavra sexualidade de uma forma ampla, o que pouco esclarece as dúvidas: 1 qualidade de sexual, 2- o conjunto de fenômenos da vida sexual, 3- sexo. Observa-se que definir sexo ou sexualidade ainda representa uma dificuldade, em particular entre leigos, em função dos mitos e preconceitos que permeiam as relações sociais. 

 A sexualidade como parte da condição humana foi sempre objeto de reflexão e pesquisa por parte do homem, buscando entender os seus significados. Desde que os homens e as mulheres existem, a sexualidade é para qualquer um o objeto dúvidas e incomparável as outras dimensões da existência profissional, política ou religiosa. Basta olharmos ao redor ou, antes disso, olharmos para nós mesmos, pra constatarmos isso.

 Sexualidade é não somente o sexo. A sexualidade é uma instância maior que inclui o potencial humano para o relacionamento com outro. Sexualidade é entendida como um comportamento e o modo como os seres humanos se relacionam envolvendo sentimentos, experiências, utilizando-se também dos aspectos biológicos, abrangendo muito mais, pois inclui aspectos psicológicos e sociais.

A sexualidade não se limita aos órgãos sexuais e ao ato sexual. Ela inicia-se já ao nascimento e irá abranger o corpo inteiro, não se limitando ao pênis e a vagina, projeta-se num corpo total, real e fantasioso. Foucault (1997, p.12) destaca que: “A sexualidade é uma interação social, uma vez que se constitui historicamente a partir de múltiplos discursos sobre sexo; discursos que regulam que normatizam e instauram saberes que produzem verdades”.

O sexo é uma manifestação na vida e na conduta das pessoas: como somos reconhecidos, recebemos nome e registro civil de acordo com o sexo ao qual pertencemos sempre se referindo as diferenças de gênero e as questões físicas e biológicas. Enfim, vale ressaltar que o corpo inteiro é sexuado. Os genitais fazem parte do corpo, ocupando apenas um pequeno pedaço, mas deve ser entendido como uma parte que completa o todo, pois um órgão depende do outro. O Físico, o somático, o emocional, o afetivo e o comportamento, todos são associados e sexuados e no seu conjunto formam o indivíduo masculino ou feminino tendo então o seu sexo e sua sexualidade.

Até algum tempo, os adolescentes buscavam relacionamentos com o intuito de construir algo com alguém, o conceito de relacionamento envolvia a possibilidade do casamento. Depois de um tempo, relacionamento passou a ser o namoro com ênfase na liberdade sexual, hoje, acrescentou-se o Ficar, um tipo de envolvimento afetivo privilegiado entre os adolescentes, sendo uma relação passageira que não requer um grau mínimo de afetividade, traduzido apenas pela atração física que aproxima os ficantes.

O comportamento do ficar surge na segunda metade dos anos 80 e foi descrito por Tiba (1994, p.90, 91) como:

A prática do ficar nos cantinhos de danceterias e se estendeu aos shopping centers e as festas. É um relacionamento no qual um rapaz e uma garota Ficam juntos sem assumir qualquer compromisso de que no dia seguinte ainda estarão. Quem vê de fora pensa que são namorados – já se beijam e se acariciam, mas se enganam. A falta de compromisso, componente básico do namoro é a marca do Ficar.

 O Ficar é uma opção de relacionamento em que prioritariamente se descarta o namoro como primeira escolha; este tipo de relacionamento permite uma flexibilidade na quantidade de parceiros diferentemente do que acontece no namoro.

 Ficar é um comportamento típico dos adolescentes da atualidade. Vale ressaltar que a palavra adolescer é de origem latina e significa crescer, desenvolver-se e tornar-se jovem. É a fase de transição entre a infância e a idade adulta, marcada por transformações físicas, intelectuais, emocionais e sociais.

Ao adolescer, mais do que em qualquer outra época da vida, o ser humano discute questões existenciais como: Quem sou eu? Qual o meu lugar no mundo? Para onde vou? Por que existo? Por que sou assim? E estas questões geram conflitos internos e verdadeiras dúvidas sobre o melhor caminho a seguir na vida e também conflitos externos com o mundo, ou seja, com a família, com a sociedade e com as regras impostas por ela.

Enquanto pais e mães nosso papel é compreender que adolescência é uma fase de intenso momento afetivo e emocional, de alterações físicas e psíquicas, formação e de transformação, é um fazer e refazer sem fim, uma verdadeira metamorfose, a fase dos grandes conflitos e dúvidas.

Importante também compreender os conflitos decorrentes das mudanças sociais e psicológicas que ocorrem desde a puberdade, no início da adolescência, até a idade adulta, logo é o período da desordem, rebeldia, dos exageros das mudanças.

Aquele jovem, não é nem criança, nem adulto, e neste momento, situações geradas por três grandes perdas do adolescente aparecem: O corpo de criança, a identidade infantil e os pais idealizados. É nesta fase, onde se perde o corpo infantil, mas ainda não tem o de adulto e ao mesmo tempo se perde o interesse pelas coisas que gostava antes, mas ainda tem atitudes extremamente infantis.

Também, começa o (a) jovem adolescente, conforme caminha rumo à maturidade emocional, social e sexual, a perceber que os valores e a forma de vida de sua família não são os únicos possíveis. Desloca então, para os melhores amigos e namorados, alguns vínculos afetivos que eram exclusivamente familiares. Este jovem, ao estabelecer vínculos com amigos e amigas da mesma idade passa a ver o que existe no mundo além das fronteiras da família, e momentaneamente, há um consequente afastamento da mesma, caracterizado pela rebeldia e contestação de valores familiares em sua casa.

Este é o período em que emergem outros conceitos e valores sociais, culturais e familiares como resultado das mudanças hormonais e psicológicas que trazem enfim o início dos conflitos na vida do adolescente. Ocorre um processo de amadurecimento intenso neste período.

A escola é o local privilegiado para trabalhos preventivos nesta área. Tratar a sexualidade na educação é permitir um desenvolvimento da sensibilidade nos relacionamentos pessoais, levando em conta todos os aspectos do ser humano. No entender de Zagury (1996, p.54) “Orientar sexualmente os adolescentes, aponta o verdadeiro desafio da escola que deverá ser o de conquistar, motivar e atender as necessidades desta fase.” Já para Tiba (1994, p. 64): “Falar de sexo na escola atualmente é motivo de tensão tanto para alunos quanto para professores. Estes pela falta de conhecimento, e jeito de tratar o assunto e os alunos em função da vergonha e das gozações.”

As dúvidas dos alunos em relação ao sexo acabam por gerar uma reação nos professores que pode variar desde o fingir que não as estão vendo e que não são problemas deles, ao reprimir as manifestações de sexualidade e, finalmente passar o problema adiante. Por isso, cursos e leituras nesta área são de extrema importância para os educadores. O papel do educador neste contexto é fundamental, pois cabe a ele informar aos alunos sobre questões relacionadas à sexualidade. Assim de acordo com os PCNs (MEC – Ministério da Educação e Desporto, 1997, p.80) complementam:

É necessário que os professores possam reconhecer os valores que regem seus próprios comportamentos e orientam sua visão de mundo, assim atuam com uma postura mais favorável para o esclarecimento, a formação crítica e o debate de questões sem a imposição de valores específicos.

 Faz-se necessário, portanto que o educador tenha impessoalidade quando estiver tratando do tema, evitando preconceitos e valores particulares, favorecendo uma autoanálise e reflexão por parte do educando, para que este estabeleça seus próprios conceitos e valores. Ele também precisa mostrar-se disponível para conversar com os alunos, sendo necessário dar informações corretas e com embasamentos científicos sobre questões formuladas por eles.

A família, os meios de comunicação, as escolas e outros agentes sociais têm papel determinante no comportamento dos jovens. A família, mesmo que não dialogue abertamente sobre sexualidade, é quem dá as primeiras noções sobre o que é adequado, ou não, por meio de gestos, expressões, recomendações e proibições.

Para se falar sobre sexo com os filhos, é importante se estabelecer o diálogo. Ele só será possível se os pais considerarem o tema sexo sem preconceitos ou juízo de valor e entenderem que o adolescente é quase um adulto que está descobrindo o mundo e definindo os seus próprios valores (que podem ou não vir a ser iguais aos dos pais).

Atualmente vivemos tempos de grande preocupação com os jovens. São mais de 36.000 adolescentes entre 12 e 16 anos grávidas no Brasil. O maior problema que enfrentamos para evitar a gravidez de adolescentes é a falta de conscientização dos educadores (pais e escola) sobre a necessidade de promover a educação sexual preventiva em massa no meio educacional e familiar.

 Todos têm grande responsabilidade. Que tal escola e família unirem suas forças?

Referências

AURÉLIO, Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo, 1986.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade do saber. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1997.

Ministério da Educação e Cultura – Parâmetros Curriculares Nacionais: Orientação Sexual. Brasília, 1997.

TIBA, Içami. Adolescência: O despertador do sexo. São Paulo: Ed. Cortez, 1994.

ZAGURY, Tânia. O adolescente por ele mesmo. Rio de Janeiro: Ed. Recorde, 1996. 

 Publicado na Revista nº 1 – 2009 – Escola de Pais – Seccional de Biguaçu

Irani Maas Marques – Escola de Pais de Timbó – SC – Mestre em Educação

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