Sempre e sempre família

Ao criarmos o projeto “O escritor na sala de aula”, vai para vinte anos, longe estávamos de imaginar que, com o decorrer do tempo, encontrássemos tantos meninos e meninas vivendo separados dos pais. Que o motivo que os levara a essa triste condição se assemelhava aos de outros jovens que íamos conhecendo, E, estupefatos ficamos, ao saber que a maioria deles haviam ficado aos cuidados dos avós.

Momento em que sentimos que algo de muito grave ocorrera no aconchego dos seus lares. Daí a nos dispormos descobrir as razões pelas quais esses inocentes precisaram ser retirados do convívio dos seus progenitores.

E, de novo, ficamos embasbacados ao constatar que tal ocorrera devido às brigas constantes dos cônjuges, não raras vezes, envolvendo drogas, bebida e contrabando. De tão violentas, muitas delas acabavam na delegacia.

Em função disso, da necessidade de separar o trigo do joio, para que o trigo crescesse saudável e bonito longe de ervas daninhas, livre de ventos e tempestades que as crianças foram colocadas sob a proteção e o olhar atento dos pais de seus pais.

Mas não fica por aí, não, pois ainda tem pai – se pai se pode chamar um crápula desses – que depois de um dia de trabalho, ao invés de retornar para casa, se pergunta:

– Que mal poderá fazer, se eu ficar por aqui, jogando conversa fora e bebericando com os amigos?

E mais rápido que coice de mula, desabafa para si mesmo: “Eles que esperem, se quiserem!”

Só que, lá pelas tantas, para seu castigo, após ter bebido todas e mais algumas, ele se desequilibra e cai num buraco, de onde, a muito custo consegue sair, cheirando a gambá.

Já recuperado do susto, perto do raiar de um novo dia, não é que o mau caráter, ao entrar em casa, é recebido com beijos e abraços por uma esposa perdida de amores! …

A que inversão de valores nós chegamos, Santo Deus!

Por esses e outros absurdos, tais como supostas viagens a negócios e reuniões fictícias é que o conceito “família” está tão em baixa, chegou ao que chegou.

A verdade é que o descalabro moral nunca esteve em tão maus lençóis.

Em contrapartida, o que mais nos conforta é ver que, apesar da doideira do nosso dia-a-dia, podemos contar com gente de bem, disposta a resgatar a credibilidade e a autoestima da combalida e desmoralizada família.

É bem-vinda a hora, portanto, de unir forças e reconduzi-la ao lugar de destaque que sempre desfrutou.

Basta de ficar de camarote assistindo de braços cruzados ao desmoronamento moral de nossas famílias.

Há que se conclamar a sociedade a arregaçar as mangas e pôr fim a tanta falta de respeito e violência, as pessoas deixarem de se gladiar o tempo todo. O que não se admite é acabar com um relacionamento duradouro a troco de nada.

D’outra coisa que precisamos, disso sim, é da volta do diálogo ao seio da família, antes que percamos a faculdade da fala.

De provarmos a nós próprios que podemos passar sem fones de ouvido e celular pelo menos em momentos especiais, como quando recebemos visitas e fazemos nossas refeições.

Melhorar o relacionamento com nossos filhos, nem que para isso tenhamos que relembrar, as vezes que forem necessárias, que bicicletas foram feitas para andar nas duas rodas, não para empiná-las numa roda só. Que os conselhos dos mais velhos não podem entrar por um ouvido e sair pelo outro.

E por aí adiante, até nos darmos conta do retorno da moralidade e da reestruturação plena da família.

Entretanto, enquanto isso não acontece, vamo-nos guiando pelo provérbio que diz: “Por mais cheio que esteja o rio, ele ainda quer mais. ”

Não só ele, nós também queremos! …

Torres Pereira – Jornalista e Escritor.

Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional de Chapecó, nº 24/2018, p. 33-34.

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