Direto e claro: resiliência é a capacidade que temos de sofrer uma grande dor e logo nos recuperarmos e seguirmos a vida. Dá para aliviar a definição dizendo que resiliência é nossa capacidade de voltar ao normal depois de qualquer tipo de sofrimento ou de situação que nos tira da situação atual.
Nesses tempos de grande dor a resiliência nunca foi tão desejada e tão importante. Por exemplo, ficar ao lado dos filhos, do marido ou de outro parente todos os dias não é a tarefa mais fácil. A convivência contínua, muitas vezes, acaba ampliando pequenos conflitos que se tornam monstros. Transforma o clima da casa em “climão”. Frente a essas experiências que se observa em diversas famílias, podemos nos perguntar: Como evitar essas pequenas agressões diárias e transformar nossas relações? Como fazer para que a gente volte a ser como antes, ou melhor ainda, que nos tornemos melhores depois que tudo isso acabar?
Vamos a algumas orientações:
1. Diminua seu nível de exigência. As atividades domésticas não precisam estar perfeitas, podem ser realizadas de forma adequada sem precisarem ganhar um “Oscar” de melhor imagem. Isso acaba sendo melhor para você do que para quem fez a tarefa, pois tira seu nível de insatisfação ou de decepção com filhos, esposa ou marido. Não é para desistir da participação deles, mas fazê-los refletir como é boa a vida quando todos colaboramos.
2. Elogie pequenas coisas. Colocou a toalha no varal? “Não fez nada além da obrigação”, mas o elogio pode fazer com que a pessoa se lembre da próxima vez de repetir o “pequeno milagre”. “Que legal você ter lembrado de pendurar a toalha!”. Simples, direto e eficaz.
3. Em vez de pedir para que alguém faça algo como lavar a louça, fazer um bolo ou passar o aspirador no carro, que tal chamar um deles para fazer juntos? Muitas conversas legais surgem nesses momentos de compartilhar tarefas. Enquanto um lava a louça o outro enxuga e guarda e ambos estarão no mesmo ambiente conversando, criando vínculos.
Famílias que fazem as refeições em conjunto têm mais intimidade… são tão poucos os momentos que todos estão juntos que é melhor garantir pelo menos uma refeição diária. Marquem uma noite, por exemplo toda quarta-feira, para que seja a noite da família |
4. Combinem a regra de jantarem juntos SEM celular por perto. E, para funcionar melhor, os filhos só podem sair da mesa depois que o pai ou a mãe saírem. Famílias que fazem as refeições em conjunto têm mais intimidade. Podem parecer regras do século passado, mas são tão poucos os momentos que todos estão juntos que é melhor garantir pelo menos uma refeição diária. E se mesmo assim isso for impossível, marquem uma noite, por exemplo toda quarta-feira, para que seja a noite da família, ninguém pode marcar nada.
5. Tire um momento só para você. Meia hora pelo menos. Proíba seus filhos de interromper seu descanso e deite-se, relaxe e não se sinta culpada (ou culpado) por isso, pois faz parte da saúde mental. Pessoas que investem em si mesmas acabam gerando energia para se relacionarem de forma mais saudável. Essa capacidade de receber as “pedradas” do dia e seguir em frente, só se consegue com muita resiliência, portanto precisamos ter energia para isso.
6. Depois de uma briga, uma discussão, precisamos voltar logo a nos relacionar bem um com o outro e a dica para facilitar esse processo é pedir perdão pela forma como você feriu a outra pessoa. Mesmo que você tenha toda a razão, que os fatos estejam ao seu favor e que a lógica de toda a conversa demonstre que a outra pessoa é que estava errada, você provavelmente apontou tudo isso com raiva, de forma agressiva e pedir perdão pela forma não anula o conteúdo e abre espaço para a convivência voltar a ser agradável.
Ser forte é chorar, é gritar de dor, é falar do enorme buraco que a pessoa que faleceu deixou em sua vida. Ser forte é compartilhar essa dor, é mostrar ao mundo que você é autêntico e que está sofrendo. |
7. E por último, a resiliência frente a uma grande perda, como por exemplo a morte de alguém amado exige de nós que choremos. Isso mesmo, precisamos chorar, mostrar nossa dor, falar dela e temos todo o direito de “pôr pra fora”. Infelizmente, pessoas bem-intencionadas, mas sem compreensão de princípios da psicologia nos dizem “seja forte, não chore, outras pessoas precisam de você”. E por parecerem tão amorosas e sinceras caímos na armadilha de engolir nossas emoções. Não faça isso. Ser forte é chorar, é gritar de dor, é falar do enorme buraco que a pessoa que faleceu deixou em sua vida. Ser forte é compartilhar essa dor, é mostrar ao mundo que você é autêntico e que está sofrendo. Ser resiliente é justamente isso: sentir a dor, chorar ou falar dela e pouco a pouco voltar a ser uma pessoa capaz de ajudar outras. Talvez com mais algumas dores na alma, mas com certeza com muita vontade de ser solidário ajudando outros. Viver é compartilhar.
Marcos Meier é escritor, educador e psicólogo. Autor do romance histórico “Massada – amor e esperança no maior suicídio coletivo da história” cuja principal mensagem é: “Sempre há uma saída”. Já disponível na Amazon.
Publicado na Revista do 57 Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil, Edição 2021, p. 17
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