RELAÇÕES SOCIOFAMILIARES: convivência e assertividade

Conviver não é tarefa muito fácil. Conviver confinados no mesmo espaço diariamente é ainda mais complicado. As interações acabam potencializando pequenos problemas ou conflitos que numa situação normal já poderiam ter sido resolvidos, mas pela intensidade da presença podem disparar reações mais exacerbadas, negativas.

Estar o dia todo em casa sem poder sair, sem contato com as pessoas que mais gostamos, como amigos e parentes nos faz ficar mais irritáveis e por essa condição a gente acaba dando respostas mais ríspidas, mais grosseiras ou até mesmo ofensivas. Logo em seguida a gente se arrepende, mas a outra pessoa já reagiu ao ataque e também nos ofendeu. De quem foi a culpa? O assunto que gerou a discussão e o desrespeito nem era importante, mas foi suficiente para criar um abismo entre nós.

Portanto precisamos aprender a conviver de forma mais intensa, mais contínua. E o grande segredo é a assertividade. Já falei em outro artigo dessa revista sobre a importância de sermos assertivos, mas nunca em nossa vida ela foi tão importante, tão necessária. Ser assertivo é falar de si, não do outro. É atacar o problema, não a pessoa. É falar do próprio sentimento em vez de interpretar as atitudes da outra pessoa. Vou dar alguns exemplos reais, do dia a dia de um casal.

A esposa acordou cedo e trabalhou a manhã toda em reuniões online com sua empresa. O marido passou a manhã assistindo vídeos na internet, pois não tinha nada a fazer naquele dia. Quando a esposa terminou as atividades da manhã, estava com fome e achou que o marido havia feito o almoço. Vejam o diálogo sem assertividade:

– Querido, você ficou vagabundeando a manhã toda, eu trabalhando e você não foi capaz de tirar a buzanfa do sofá e fazer o almoço?

– Não fiquei vagabundeando, não me ofenda, você sempre me agride com suas raivinhas.

– Tá, e não vai fazer? Então também não vou. Fique com fome.

Perceberam a forma como um agiu com o outro? Ambos se atacaram. Ela o chamou de vagabundo e ele a chamou de agressiva, que sempre age assim. Esse tipo de conversa não resolve, não muda o comportamento de ninguém e não contribui para uma maior cumplicidade do casal. E se essa postura for usada com os filhos, pior ainda!

Então como o diálogo poderia ter ocorrido com um casal assertivo? Vamos ver:

– Querido, estou morrendo de fome, você fez o almoço? (Foco na situação! Ela não o agrediu nem interpretou o que ele estava fazendo)

– Eu me distraí na internet e não fiz querida, me desculpe. Vamos fazer juntos?

Perceberam? Não é fácil agir assim, sabemos bem, mas se praticarmos todos os dias a gente acabará se relacionando muito melhor com todo mundo.

Em relação os filhos, uma situação comum poderia ser a de que a criança passou a manhã toda no computador fazendo as atividades da escola, mas que poderiam ter sido feitas em apenas uma hora. A mãe, ou o pai claro, diz:

– Filho, você é muito lerdo! Uma atividade que dava pra fazer em meia hora você levou a manhã toda!

– Não dava pra fazer em meia hora! Você não me entende e não sabe nada do que eu fazendo!  (Ele está certo, mas em uma hora teria conseguido se houvesse maior concentração)

– Agora venha me ajudar na cozinha, da outra vez você fica mais esperto.

Observem as agressões. Ela o chama de “lerdo” e isso provavelmente vai repercutir a vida toda, pelo que vemos nos consultórios de psicoterapia. Ele se defende atacando com o famoso “você não me entende”. Nada construtivo e as relações acabam se desgastando cada vez mais.

Como poderia ter sido?

– Filho, você levou 4 horas para fazer a lição de casa, o que houve? (nenhuma agressão nem indiretas)

Tava difícil mãe. E eu acabei me distraindo também. difícil me concentrar com essas videoaulas.

E provavelmente os dois vão achar alguma solução para melhorar. Assertividade. Esse é o segredo das relações nesse tempo de convivência intensa e obrigatória!

Um grande abraço a todos.

Marcos Meier – Educador, Psicólogo e escritor. marcosmeier@gmail.com

Publicado na Revista Escola de pais do Brasil Seccional de Curitiba, ano 56, ed. 39, setembro 2020, p. 39


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