O relacionamento conjugal influencia os filhos de diversas maneiras. O modo como o casal fala um com o outro, respeita um ao outro, ou até mesmo a fala do relacionamento dos dois serve como um dos primeiros modelos da relação homem-mulher.
Gosto muito de uma frase da Simone de Beauvoir que diz: ninguém nasce homem, ninguém nasce mulher, nos tornamos homem e mulher. Assim também aprendemos a ser homem e mulher, de acordo com a cultura, momento histórico e também aprendemos o que é um casal. E o que é um casal? É um par que pode ou não ser do mesmo sexo, que pode ou não morar juntos. Um par que tem afeto, faz sexo e “tem planos em comum”.
Os modelos nos marcam profundamente. Além das marcas da memória, ficam as regras, valores e referências. Muitas vezes não percebemos o quanto somos marcados… fica no inconsciente, como um imã que nos atrai. Exemplo: numa família onde o pai é alcoolista, a filha tende a escolher um parceiro com uma dinâmica parecida. Desde cedo, aprendeu a cuidar, vigiar e acredita que no seu casamento tudo pode ser diferente…
Além das marcas na escolha do cônjuge, ficam outras marcas sobre comunicação, respeito e confiança.
Se o casal não conversa, ou se fala apenas berrando, a criança pode acreditar que conversar é impossível, não vale a pena tentar. Quando o casal não aprende a negociar as diferenças e conversar com calma, o respeito vai desaparecendo, o clima em casa pode ser de medo e tensão. A confiança fica prejudicada, não se fazem acordos e quando fazem não são cumpridos. As vezes os filhos brigam entre si. Brigam para chamar a atenção, brigam para que os pais se unam, para dispersar o foco. Existe um sofrimento no subsistema casal e no subsistema fraterno.
A família precisa de ajuda, para aprender a negociar os conflitos. Exercitar o diálogo e resgatar a alegria da convivência.
E qual o caminho para ser uma boa influência?
É no indivíduo que tudo se inicia. Precisamos aprender a amar, ser amado e amar-se. Começamos buscando uma boa convivência consigo mesmo. Depois procuramos uma parceria. Estamos sempre buscando uma “aliança” (no sentido mais amplo da palavra). Buscamos alianças na família, com amigos e com possíveis parceiros para começar uma nova família.
A família pode ter mudado de forma, valores, tradição, mas continua sendo muito importante. E no casal uma nova possibilidade de família se inicia. “Nova” mas não completamente diferente. Trazemos os modelos da família de origem, inclusive modelos mais extensos, avô e avó, bisavós, trazemos várias gerações conosco…
O casal é uma célula importante a partir da qual construímos a família. Precisamos, então, reservar um espaço para este casal, cultivar o relacionamento como se fosse um jardim. Cuidar de si, do jardim e quando necessário um do outro. Buscar o namoro, o espaço para curtir e cultivar o casamento, além de cuidar dos frutos: os filhos.
Muitas vezes a família se desmancha, porque cuida muito dos filhos, mas o casal não se cultiva e não se cativa mais, esquece-se da sedução.
Vale a pena listar alguns princípios para manter o relacionamento conjugal saudável:
1) Assuma a responsabilidade de manter o relacionamento forte. Não culpe o seu parceiro ou outras pessoas pelos problemas do relacionamento, procure saber o que você pode fazer para melhorá-lo.
2) Nunca imagine que o relacionamento está garantido. A manutenção, carinho, atenção, precisam ser constantes.
3) Proteja a sua relação! Não fale mal, não diminua, não rebaixe seu parceiro.
4) Na dúvida, presuma o melhor do outro e o melhor de você. Em vez de pensar, ele não presta atenção em mim e eu sou uma boba que fico aqui esperando… pense que ele é distraído e você sabe que ele pode atender ao seu pedido desde que diga o que quer.
5) Mantenha a relação saudável, afaste-se da “mesmice”, procurando modos novos de acrescentar vida às suas relações.
6) Perceba o bom, o que funciona. Agradeça aquilo que é bom e funciona! Elogie!
7) Comunique-se com clareza. Diga o que você quer e não o que você não quer. Exemplo: será que você pode chegar cedo hoje para vermos um filme? Em vez de dizer: não quero que você chegue tarde hoje!
8) Mantenha e proteja a confiança. Muitos relacionamentos desmoronam depois de uma quebra grande de confiança, como um caso extraconjugal ou outra forma de desonestidade. Quando fizer acordos, procure manter os acordos!
9) Trate dos assuntos difíceis. Sempre que ceder à outra pessoa para evitar uma briga, você está cedendo um pouco do seu poder. Se você ceder demais vai ficar ressentido. Às vezes, vale esperar um bom momento para “conversar”, como uma estratégia para uma melhor negociação.
10) Arrumem tempo um para o outro.
Cuidar do relacionamento conjugal é fundamental para a felicidade da família. É o casal que sustenta a família e não a família que sustenta o casal. Muitos casamentos acabam e as famílias, às vezes sobrevivem. Hoje em dia isto é possível. Mas a separação é um marco na vida de cada ser adulto ou criança. Acredito que seja melhor uma separação do que um casal que se esforça em viver juntos “pelos filhos”.
Por isso, casar é um escolha que requer cuidados e cultivar o casamento mais ainda!
Os filhos são os presentes que nascem a partir do encontro do casal. São presentes que exigem, desafiam, alegram e compensam. Mas não podemos perder de vista que filhos vêm e vão!!! A vida da família começa a dois e termina a dois, quando temos a felicidade de conseguir cultivar um casamento, de estarmos com saúde e vivos!
Desejo a todos uma “boa sorte”, lembrando que a sorte da gente é a gente que faz!!!
Márcia Alencar – Psicóloga – CRP 12/00559, Psicoterapeuta e Hipnoterapeuta, Especialista em Psicologia Clínica – Florianópolis. E-mail: psicomar@terra.com.br
Artigo publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional da Grande Florianópolis nº 6, junho de 2015, p. 10.
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