Qual é o melhor atrativo para desviar a atenção de uma família? Quem chega para transformar vidas, alterar a rotina de um lar, determinar o ritmo da casa: os horários, os programas de televisão, o cardápio e até as atividades de lazer?
Se a sua resposta foi os filhos, acertou no alvo.
Vamos falar sobre um assunto muito polêmico nos dias de hoje e a importância dessa comunicação entre pais e filhos.
Temos visto muitas informações a esse respeito, nas revistas, jornais, livros, televisão e internet e temos percebido que a preocupação dos pais, da família está sendo um grande desafio para todos.
Os pais, as escolas, as empresas procuram informações sobre esse “poder da comunicação” como se procurassem uma deliciosa receita de bolo para poder compartilhar com a sua família, com seus alunos e com seus empregados.
Se esse bolo não ficar saboroso, nós nos questionamos:
– Onde eu errei? Coloquei menos fermento? Não bati o tempo necessário? O forno não estava na temperatura ideal?
Pois é, na educação de nossos filhos, quando algo não está certo, nos questionamos também.
Muitos dizem: – Onde eu errei na educação do meu filho?
E quando o bolo sai delicioso?
Nós dizemos:
– Como é bom saber o que preocupa e o que sente e o que quer meu filho!
A nossa maior preocupação é termos filhos saudáveis:
Mentalmente e fisicamente;
Felizes;
Capazes de enfrentar os desafios da vida.
De que forma?
Educando nossos filhos para serem bons cidadãos éticos e morais, sabendo lidar com suas próprias frustrações, com um “Não”.
Para nós pais conquistarmos este modelo de família o casal necessita estar maduro emocionalmente.
Maturidade Emocional do Casal
– ter cumplicidade com sua parceira ou ex-parceira;
– ter desejado este filho;
– amá-lo incondicionalmente;
– estar comprometido com o filho;
– vestir a camisa da educação;
– fazer o seu melhor por ele;
– ser justo, honesto e verdadeiro;
– criar seu filho para o mundo.
Falando de Comunicação
Portanto a família, os meios de comunicação, o convívio com outras pessoas têm influência marcante no comportamento da criança e do adolescente.
Como diz a Psicanalista e Terapeuta Lydia Aratangy:
“O velho e bom diálogo é o recurso mais eficaz para os pais se manterem próximos do universo do filho. Dessa forma, fica muito mais fácil compreendê-lo, ser ouvido por ele e consequentemente diminuir a ansiedade e os medos dos próprios pais de adolescentes e crianças”.
Mas vocês perguntarão como eu posso conseguir tudo isso?
Muitos pais pensam que dialogar é repassar informações.
Porém dialogar é ter participação ativa entre quem fala e quem ouve, num processo dinâmico e contínuo, devo falar, mas principalmente, saber ouvir.
Atualmente isso não ocorre pela falta de tempo dos pais, falta de paciência, desencontros, pela falta de informações e falta de comprometimento dos pais em lidar com a criança ou adolescente.
E aí o DIÁLOGO virou MONÓLOGO.
E qual é a consequência disso tudo?
Perde-se o efeito e fica apenas a sensação:
“… mas conversei tanto com meu filho em casa, falamos sobre tantos assuntos e nada adiantou.”
Nós sabemos muito bem, que uma boa conversa muda o rumo, tanto na política, na escola, em casa e nos relacionamentos afetivos, mas é bom relembrar qual tipo de diálogo está acontecendo nas nossas relações, seja profissional, afetiva e familiar.
Hoje o diálogo se resume em: “Eu Falo – Você Escuta”
Escutar – prestar atenção para ouvir.
Ouvir – entender e ter o sentido da audição.
A audição é a captação do som enviado e processado e por isso ela exige:
– sensibilidade;
– disponibilidade;
– entendimento.
Vamos elencar algumas regras básicas:
– ser direto e positivo – falar claramente, sem rodeios;
– valer do humor;
– elogiar o esforço do filho em falar com você, ex: foi bom conversar com você;
– valer-se da escuta ativa (demonstrar que está prestando atenção e desligue a televisão);
– olhar para o filho enquanto estiver conversando, mostrar-se interessado e agradável (vamos imaginar: nossos filhos se aproximam e nós ficamos olhando para cima, como fica a interação?);
– postura e tom de voz – gritar não leva a nada
– disponibilidade de tempo – vale a pena chegar um pouquinho atrasado ou deixar algo para fazer depois;
– manter a calma e serenidade – mesmo que o mundo tenha caído sobre suas cabeças, respire fundo, conte ate dez e escute;
– se for solicitado para uma conversa, pare o que está fazendo para ouví-lo;
– fazer uma pergunta de cada vez – não despeje um questionário sobre seu filho;
– dar tempo para que o filho tenha tempo de responder;
– ouvir atentamente e sem preconceitos – não ironize, sem piadas;
– propiciar um ambiente acolhedor, agradável e de confiança para aumentar a probabilidade de contato e comunicação entre pais e filhos;
– sermos modelos para nossos filhos;
– demonstrar amor e carinho e receberão o mesmo afeto e amor;
– elogiar, agradecer e ser gentil fortalece a relação entre as pessoas.
Às vezes sentimos dificuldades de expressar carinhos e sentimentos positivos, por:
– por nossa cultura: não valorizar e não ensinar;
– não demos amor desde o ventre materno;
– não recebemos de nossos pais, então não damos a nossos filhos.
Sentimentos positivos / elogiar / dar e receber:
– fazer comentários positivos em direção a uma pessoa;
– “estou contente por você ter feito sua tarefa hoje!”
– “muito obrigado por ter me ajudado com a louça hoje!”
– “essa roupa ficou tão bem em você!”
Ética e Moral
Moral é o conjunto deregras de condutas consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada (Aurélio Buarque de Hollanda).
Ética é o ramo da filosofia que busca estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade, ou seja, é o conjunto de valores e princípios que nós usamos para resolver três questões da vida:
QUERO – DEVO – POSSO
“Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam” (François Rabelais)
O doutor em filosofia e professor da PUC-SP, Mário Sérgio Cortella, define:
Ética Moral
– alguns dizem que têm,
– poucos levam a sério,
– ninguém cumpre a risca.
Ética Imoral
Também chamada Ética dos fins:
– os fins justificam os meios,
– ética econômica: o que importa é o dinheiro.
Ética Amoral
– tudo é relativo e temporal.
Limites
Os filhos são dotados de uma capacidade infalível de persuadir, detém técnicas implacáveis para domar gente grande. A sua eficácia é tamanha que, com um simples gesto, lança por terra as defesas, rui as estruturas, pois sabe o momento exato para derramar uma lágrima ou abrir um irradiante sorriso para consumar suas conquistas.
Com essas táticas infalíveis, monopoliza um lar. Se não for refreada, perde a noção de limites. Porém, muitos pais esbarram no sentimento no momento de agir e pecam por acreditar que amor é fazer todas as vontades e acreditam que liberdade é sinônimo de criança feliz.
Para educar num mundo repleto de influências, é necessário delimitar espaço, definir papéis e não abrir mão de itens fundamentais – educação social, educação religiosa e escolarização, tão indispensáveis que, há milênios, o maior de todos os livros, a Bíblia, já alertava: “Ensinai à criança o caminho em que ela deve andar, e, mesmo depois de velha, ela não se desviará dele” (Prov. 22:6).
Mas até onde os pais podem atender às exigências, às imposições e aos desejos da criança?
Como dialogar e impor limites num ser imaturo, impregnado de vontades, sem causar danos psicológicos ou emocionais?
Formar a personalidade é um desafio. Uma dúvida inquieta os especialistas e ecoa a todo instante na cabeça dos pais: Como impor limites aos filhos?
Como não existe fórmula pronta, famílias estão em constante busca de alternativas, mas poucas conseguem educar os filhos com limites, pois muitos pais acham graça das birras, dos atos de desobediência. Fecham os olhos para a razão e, quando caem em si, depara-se com criaturinhas indomáveis, que desconhecem o que é limite e respeito.
A indisciplina infantil é gritante: mordem; chutam; empurram; cospem; proferem palavrões e insultos; arremessam objetos por um simples “não” recebido; e, por acreditarem que podem tudo, armam o palco e dão o seu espetáculo em porta de lojas de brinquedos, shopping centers, sorveterias e parques de diversões.
Determinar limites na fase da formação da personalidade é fundamental para ostentar um relacionamento estável e proporcionar a formação do indivíduo que passa a refletir sobre seus valores, seus direitos e suas obrigações no seio da família e, posteriormente, na sociedade.
Pais que amam não são aqueles que cedem sempre, que têm um “sim” na ponta da língua e as mãos sempre abertas, prontas para doar. A verdadeira arte de ser pai é saber dizer “não”, mesmo em situações em que o “sim” poderia sobressair. Somente assim a criança não crescerá acreditando que tem direito a tudo e que pode tudo.
“DIZER NÃO, TAMBÉM É UM ATO DE AMOR”
Abra mão da ideia de que “o meu pai foi assim comigo, e eu também serei com o meu filho”. O mundo evoluiu numa rapidez alarmante desde o seu nascimento, as influências atuais exigem um novo formato de educação. Os métodos que funcionaram com você podem não funcionar com o seu filho. Siga apenas os bons exemplos, pois a única fórmula copiada que ainda funciona são os princípios morais e religiosos, que, mesmo assim, vêm sofrendo mutações.
A psicóloga Tânia Zagury acredita que “Limite é dizer ‘sim’ sempre que possível e dizer ‘não’ quando necessário” e mais: “Limite é saber conviver com a frustração e adiar satisfações”.
Bullying
O Bullying é um termo ainda pouco conhecido do grande público. De origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil, é utilizado para qualificar comportamentos agressivos no âmbito escolar, praticados tanto por meninos quanto por meninas. Os atos de violência (física ou não) ocorrem de forma intencional (quando eu quero fazer, quero machucar) e repetitiva (quando faço todos os dias ou semanas) contra um ou mais alunos que se encontram impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. Tais comportamentos não apresentam motivações específicas ou justificáveis. Em última instância, significa dizer que, de forma “natural”, os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas.
As formas de bullying são:
• Verbal (insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos pejorativos, “zoar”);
• Física e material (bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima);
• Psicológica e moral (humilhar, excluir, discriminar, chantagear, intimidar, difamar);
• Sexual (abusar, violentar, assediar, insinuar);
• Virtual ou Ciberbullying (bullying realizado por meio de ferramentas tecnológicas: celulares, filmadoras, internet etc.)
Direitos Humanos
Constituem-se de 30 artigos, mas vamos elencar apenas alguns para relembrar nosso conhecimento:
– o direito de ser tratado com respeito e dignidade;
– o direito de mudar de opinião;
– o direito de pedir informação;
– o direito de ter opinião e expressá-la;
– 0 direito de fazer qualquer coisa desde que não viole os direitos de alguma outra pessoa;
– o direito de respeitar e defender a vida e a natureza.
Expressar opiniões é uma habilidade muito importante, pois através dela construímos relações de confiança, honestas e saudáveis.
– Como será que estamos nos comportando em relação a isso?
– Nossos filhos sentem-se à vontade para expressar as suas opiniões e neste caso, o que fazemos?
Ao discordarmos de alguma coisa como valores, crenças, visões do mundo, deve ficar bem claro o que é que está sendo falado, de forma a evitar longas discussões.
Ex: religião – cada um tem a sua, não há verdade absoluta.
Ex: podemos mudar de opinião, não estaremos nos ferindo, pois as verdades são de fato relativas e construídas na nossa história, ou seja, algumas coisas podem ser verdades para mim e não ser para outras pessoas.
Ex: política, metodologia de ensino, escolha de uma escola etc.
A importância da comunicação, desse diálogo na vida de nossos filhos deve estar estabelecida entre pais e filhos, desde cedo, desde antes do nascimento, ainda no ventre da mãe.
Vários fatores implicam no sucesso da comunicação e devemos facilitar esse encontro:
- Estar presente nos momentos mais importantes dos nossos filhos;
- Fazer refeições juntos ou pelo menos uma vez ao dia;
- Assistir a filmes com direito a pipoca – fazer comentários, retirar do filme valores importantes para nossa vida;
- Ouvir seus filhos, esposa, marido sobre os acontecimentos do dia;
- Portanto para que possamos repassar todas as informações para nossos filhos, necessitamos no mínimo que tenhamos conhecimento sobre o assunto, coerência de atitudes, maturidade de ambos.
Devemos associar pensamento com a ação.
Drogas
Segundo o Gabinete de Segurança Institucional e a Secretária Nacional Antidroga foi criada para os pais e crianças uma cartilha com o objetivo de prevenção do uso de drogas e sugere atitudes que podem ser adotadas na educação dos filhos para que mais tarde, eles não tenham chances de se tornarem consumidores da droga.
Uma das situações que nos chamou a atenção é que os pais gostam de alertar em qualquer momento, com qualquer idade.
Por ex: um pai inicia uma conversa na hora do jantar sobre drogas, perigo do consumo, cocaína, crack com seu filho de 8 anos. Momentos depois ele está entediado, inquieto, chorão, contando os minutos para sair da mesa e acabar a conversa.
– Mas os pais sentem-se aliviados:
– Já passei minha mensagem. Estou com a consciência tranquila, limpa, dever cumprido.
Passado algumas horas, o filho já esqueceu o assunto.
Ou seja, a iniciativa teve poucos efeitos.
A intenção dos pais é a melhor, porém deve ser feita na hora certa, momento adequado, responder as perguntas levando em consideração a idade e maturidade dos filhos.
O mais importante é abordar os riscos de uso de substâncias químicas que causam dependências como remédios, cigarros, produtos de limpeza, bebidas alcoólicas e assim exercendo seu papel de cidadão.
Se os pais forem informando e mostrando os perigos das Drogas, certamente não veremos, em nossa família, cenas como deste vídeo.
Sexualidade
E como introduzir o diálogo sobre sexualidade?
Pois é, no começo do texto, comentamos como devemos e podemos estar informados ou procurar informações sobre muitas questões, não é?
Essa é uma delas, e sempre foi considerado um bicho de sete cabeças, um tabu, assunto polêmico…
Não podemos deixar de responder a todas as questões para que eles não procurem fora de casa as respostas, e aí como saber a qualidade dessas respostas?
Para muitos pais falar de sexo, sexualidade ou reprodução humana provoca reações como: constrangimento, preconceito, medo, princípios filosóficos, falta de informação, religião ou até falta de tempo para conversar.
O que não podemos deixar acontecer são respostas assim:
– Agora não, ainda é cedo.
– Agora não, ainda não é hora.
– Você é muito pequena para entender.
O melhor momento para se falar de sexo é quando nossos filhos mostram curiosidade sobre o assunto.
Responda com clareza ao que é perguntado, levando em conta a maturidade e faixa etária, utilizando vocabulário correto.
Este é o primeiro passo para uma relação saudável, em que prevalece o diálogo.
Considerações Finais:
Pais devem ser a âncora, o vetor, a voz e o silêncio.
A Âncora que ampara, proporciona segurança, estaciona num porto seguro;
O Vetor que conduz ao crescimento humano e pessoal através da experiência;
A Voz para falar – não para conter, mas para indicar o caminho;
E o Silêncio para ouvir os medos, captar as fraquezas, entender as inseguranças e as necessidades de uma criança que necessita de gestos de carinho, palavras de incentivo, atitudes corretivas e calor humano para formar o elo do afeto.
Referências:
Diálogo entre Pais e Filhos, http://www.mundomulher.com.br/?pg=17&sec=110&sub=119&idtexto=6798, acessado em 2011;
VALLS, Iolanda Barros. Relação entre pais e filhos na adolescência, http://clinicainsight.com/artigo1.htm, acessado em 2011.
ZAGURI, Tânia. Limites sem trauma, Ed. Record, RJ.
Este artigo foi publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Revista programa do 49º Congresso Nacional da Escola depais – junho de 2012, p. 22
Maria Thereza Báos Bianchi e Carlos Bianchi Júnior – Presidente da Escola de Pais de São Paulo – SP – Centro
Já participei de um seminário da escola de pais em Anápolis,quando lá residi e hoje essa matéria era tudo que precisava. Está perfeita e numa linguagem que não fica dúvidas.
Vilma,
Muito obrigado pela mensagem.