O Lar De Todos Nós – Planeta Terra

            Será possível haver algum paralelo entre o nosso lar e o planeta em que vivemos? Antes de tentarmos essa aventura, lembremos o conceito de resiliência, o qual nos servirá de agentes nessa abstração.

            Em física, resiliência é a capacidade de um corpo de recuperar sua forma e tamanho original, após ser submetido a uma tensão que não ultrapasse o limite de sua elasticidade. Em ecologia, este conceito aplica-se a capacidade de um ecossistema retornar a seu estado dinâmico, após sofrer uma alteração ou agressão. Podemos ousar e adaptar esse conceito em nosso lar, como sendo a capacidade da família enfrentar e superar seus problemas sem que isso implique na sua dissolução.

            Voltemos então ao paralelo “Lar-Planeta” a fim de descobrirmos alguma semelhança entre eles, considerando-os como unidade de espaço. O lar abriga nossa família. Entretanto, ele é mais do que uma simples construção física, pois existem relações (laços afetivos) que unem a família e constituem esse lar.  O planeta também abriga diversos seres vivos, inclusive nós mesmos. Todavia, sem as inúmeras relações entre diversos elementos não seria possível a existência da vida.

            Partimos do princípio de que aquilo que desejamos para o nosso lar é a existência de um equilíbrio dinâmico, ou seja, aconteça o que acontecer, esperamos que aquela estrutura inicialmente idealizada do nosso lar permaneça com certo grau de harmonia. Aqui estamos considerando que a estrutura idealizada para um lar abrange o desenvolvimento harmonioso de todos os seus integrantes no campo afetivo, intelectual e econômico.   

            A título de ilustração, vamos introduzir um fator de instabilidade nessa concepção de lar e analisar sua resiliência. Descobre-se que um jovem integrante do lar fuma maconha. Um lar com maior resiliência pode discutir a questão, identificar as causas, apontar alternativas e retornar ao seu equilíbrio dinâmico. Por outro lado, um lar com menor resiliência pode entrar em conflito, tentar achar culpados, fugir das responsabilidades e resultar numa quebra definitiva do equilíbrio dinâmico e, por consequência, na dissolução do próprio lar.

            No planeta também há, ou acredita-se que haja, um equilíbrio dinâmico regulando o funcionamento dos diversos ecossistemas existentes. Tomemos como exemplo o ecossistema de um rio e os peixes que nele vivem. Todo verão chove mais na região onde situa-se esse rio, e como consequência, suas águas ficam mais turvas. No inverno, suas águas ficam mais claras, pois chove menos, mas também há menos nutrientes como consequência disso. Há ainda o fato de que alguns verões chove mais que em outros. Os peixes que vivem nesse rio convivem com essas variações e adaptam-se a períodos de maior turbidez da água, como também a períodos de pouco alimento. O ecossistema (rio) e os integrantes (peixes) apresentam, então, uma resiliência a essa variabilidade de chuvas entre verão e inverno num ciclo de um ano, e também entre verões, no período de vários anos. Se houver alteração significativa nesse padrão de variabilidade, o equilíbrio dinâmico do ecossistema (rio) pode ficar permanentemente comprometido, causando também as mortes dos peixes.

            Com estes exemplos podemos perceber principalmente duas coisas. A primeira delas é que, independentemente da nossa vontade, não há uma estabilidade contínua nas coisas ou na vida.  Sempre estaremos recebendo influências externas que tendem a desequilibrar nossos lares ou os ecossistemas. A outra é que podemos conhecer ou prever essas influências externas tanto em nossos lares como nos ecossistemas, e, com isso, aumentar suas resiliências. Desta forma, estaremos mais preparados para enfrentar alterações e agressões em nosso equilíbrio dinâmico.

            Então, a alternativa para nossa sobrevivência, tanto do lar como do planeta, está no conhecimento e, principalmente, no autoconhecimento. E este vai muito além da educação nos bancos escolares, manifestando-se através do método da educação mais eficiente de todos: o exemplo a ser seguido.

            Podemos ensinar aos nossos filhos que o plástico no ambiente levará milhares de anos para se degradar, causando, assim, um grande dano. Mas o problema é muito mais profundo que o mero conhecimento desse provável dano ambiental. Há que se ter plena consciência disso. Quer um exemplo?

            Vamos supor que em nosso local de trabalho haja aquele cafezinho maravilhoso e aqueles práticos copinhos de plástico. Particularmente, eu tomo dois a cinco cafezinhos em um dia de trabalho. Quando estiver quase me aposentando, já imaginou quantos copinhos de plástico eu terei usado? Já que eu tenho o conhecimento da lentidão da degradação do plástico não seria melhor eu ter uma atitude de consciência e ter uma xícara para meu cafezinho? Ah! Mas dá trabalho lavar a xícara! No entanto, alguém já perguntou a si mesmo sobre o trabalho que o planeta Terra terá para “digerir” essa quantidade enorme de resíduos que produzimos? A resiliência do planeta será suficiente? Até quando?

            E a resiliência de nossos lares? Suportará o peso das adversidades? Contornará os problemas? Retomará seu equilíbrio dinâmico, evitando sua desestruturação?

            Em ambos os casos, só depende de nós.

Publicado na Revista nº 2 – 2010, da Ecola de Pais – Seccional de Biguaçu SC

Maurício A. Noenberg – Doutor em Geologia Ambiental, Coordenador do Curso de Oceanografia do Centro de Estudos do Mar (CEM) – UFPR

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