O jeito de ser

A família tem grande peso na formação da peronalidade de uma pessoa, pois são os primeiros a ensinar para a criança conceitos sobre ela própria e o mundo.

Apesar da pouca idade, o pequeno Guilherme da Costa Vidal, aos seis anos, já mostra que é muito responsável. Sabe que precisa fazer os deveres de casa antes de brincar, ouve com atenção o que os pais e professores falam e, em pouco tempo, lá está ele seguindo as orientações. “Ele é como eu. Sou muito organizada e prefiro seguir regras, para que tudo saia certo” – afirma  a mãe, Mônica Elaine, lembrando que o pai, João Paulo, tem um jeito mais sossegado de ser. Mônica admite que sempre fez questão de ensinar o filho a ter responsabilidade, desde a alimentação até o cuidado com suas próprias coisas. Mas, para ela, a educação e os exemplos apenas ajudaram Guilherme a fortalecer essa característica marcante, própria da sua personalidade, que o acompanhará até a vida adulta.

É a personalidade que nos faz diferentes uns dos outros e termos comportamentos e escolhas distintas sob uma mesma situação.  Um jovem pode gostar de música clássica e o irmão, no entanto, preferir rock. Há aqueles que agem com agressividade, outros já veem as coisas de maneira mais pacificada.

– “Cada bebê é diferente do outro e as mães sabem disso. Cada um nasce com um potencial que é influenciado pelo meio e pelas pessoas com quem convive” – explica a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano. Especialistas na área apontam que a personalidade se origina de características genéticas e fisiológicas, mas também das experiências de cada um e de suas relações com o mundo.

Isso significa que toda pessoa, desde o nascimento, traz traços diferenciados de personalidade, que podem ornar-se mais ou menos latentes, de acordo com experiências de vida. Assim, segundo os aprendizados e suas vivências em áreas como afetividade, esses traços, sejam positivos ou não, podem estar presentes por toda a vida, como um padrão de comportamento persistente, e através deles a criança ou o futuro adulto vai fazer a sua leitura das situações da vida, das pessoas com quem convive e influenciar na maneira como se relaciona com essas realidades.

O papel da família tem grande peso na formação da personalidade, já que são os pais os primeiros a ensinar para a criança conceitos sobre ela própria e o mundo. “Uma criança que teve uma infância tranquila, por exemplo, terá uma personalidade diferente daquela que é órfã” – lembra Ana Cássia.

Família presente – Dessa forma, o fato de cada um, desde criança, ter a própria personalidade, não significa que seus traços sejam inflexíveis. Podem, sim, ser modificados ou melhorados, caso eles não sejam positivos. E, nesse sentido, os pais podem ajudar, mas é preciso que eles percebam o que acontece com seu filho. “Muitas vezes a criança manifesta um comportamento, sinalizando uma necessidade que ainda não sabe expressar, e a família não percebe” – afirma Ana Cássia. E atenção: isso pode ocorrer tanto com as crianças mais rebeldes e temperamentais quanto com mais comportadas e boazinhas. “Muitas vezes, as crianças mais boazinhas têm mais questões a serem resolvidas do que as outras que parecem ‘gritar’ ao mundo o que sentem” – ressalta a psicóloga.

Cabe, então, aos pais ou aos responsáveis perceberam os traços de personalidade da criança e ajudá-la a aperfeiçoar-se, caso seja necessário. A dica é procurar um profissional que possa ajudá-los, como o pediatra e o psicólogo. O ideal é evitar críticas ou mesmo ressaltar o lado negativo dos traços da personalidade.

Mônica e João Paulo, por exemplo, já perceberam que o fato de o filho Guilherme ser muito responsável também o faz ficar muito ansioso por resultados positivos. Como toda criança, ele não gosta de perder. “É quando conversamos com ele e mostramos que na vida as pessoas ganham, mas também podem perder” – lembra Mônica. O diálogo tem trazido um bom efeito. Se antes Guilherme se recusava a continuar o jogo de futebol: caso perdesse uma boa jogada ou o seu time não fosse o vencedor; agora, ele já entende que isso é comum e termina a partida, sem nenhuma contrariedade. “É a maneira com que tentamos ajudá-lo a lidar com a sua personalidade” – diz Mônica. O caminho contrário, que em nada ajudaria a criança a lidar positivamente com a sua personalidade, por exemplo, seria reforçar a sua busca por somente resultados positivos, fazendo-a acreditar que o ideal – e o normal – é vencer sempre.

Publicado na Revista Família Cristã, nr. 914, fevereiro de 2012, p. 22.

Rosangela Barboza.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*