Limites, sexualidade, amizades

Para atender ao convite, referente às principais dificuldades de educar filhos com idade entre 11 e 14 anos, feito pela Escola de Pais do Brasil – Seccional da Grande Florianópolis, após concluída a pesquisa realizada em parceria com a ESAG UDESC, inicio o diálogo com a história abaixo. É uma história que sempre utilizo em momentos de diálogos com os pais e que nos faz refletir sobre o tempo que dedicamos aos nossos jovens.

“Era uma vez um povo sedento de informação. As pessoas eram curiosas e adoravam falar umas sobre as outras. Certo dia surgiu um ser muito poderoso, que sabia de todas as coisas, estava em todos os lugares, e dava todas as respostas – um verdadeiro oráculo. A única coisa que ele pedia em troca era dedicação total. A empolgação foi geral – todo mundo se tornou discípulo e seguidor, continuamente entregando ofertas de tempo e atenção. Até que um dia chegou a mensagem terrível: o tempo gasto com o oráculo seria descontado da vida das crianças. As pessoas entraram em pânico, mas era tarde demais. Pois enquanto os adultos deixavam de dar atenção aos filhos, dedicando-se ao oráculo, as próprias crianças e adolescentes haviam se tornado devotos, e agora voluntariamente se entregariam em sacrifício. A única solução foi os pais voltarem a dedicar mais tempo para seus filhos, livrando-os de tão trágico destino.”[1]

Eu tenho um filho de 5 anos. Como mãe, várias vezes já me perguntei: como será que meu filho irá lidar com a tecnologia? Como limitar o uso sem que prejudique seu aprendizado no uso dessas ferramentas? Tenho certeza que faço o melhor para meu filho ao limitar o uso de telas a duas horas diárias, que é o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Sociedade Brasileira de Pediatria[2].  Como podemos ver no gráfico, o limite no uso de eletrônicos foi uma das dificuldades na educação de jovens dos 11 aos 14 anos, apontadas pelos pais na pesquisa realizada pela Escola de Pais – Seccional da Grande Florianópolis.

Em segundo lugar os pais apontam como dificuldade o diálogo sobre relacionamentos e amizades. Essas duas dificuldades estão relacionadas, pois para que eu possa colocar limites, para que eu consiga conversar com meu filho, é necessário criar vínculo com ele e para criar vínculo preciso interagir com meu filho desde a primeira infância, seja com os cuidados básicos, seja brincando, contando histórias, passeando, dentre outras atividades. Caso contrário, não terei intimidade com ele e, sendo assim, ficará difícil conhecer meu filho e me aproximar dele. Outro aspecto relacionado a isso é a importância de ter regras claras e coerentes e estabelecer uma rotina para que a criança/adolescente consiga se organizar.

Zagury (2010)3 apresenta em seu livro, Limites Sem Traumas, dicas práticas sobre como dar limites para crianças de 11 anos e para adolescentes de 12 a 14 anos de idade. Para dar limites na faixa etária dos 8 aos 11 anos, é preciso: incentivar a guardar tesouros, fazer coleções; não confundir respeito com falta de supervisão; supervisionar ainda a higiene pessoal; reforçar valores éticos; tolerar pequenas rebeldias. Na adolescência, que segundo o ECA, inicia nos 12 anos e se encerra aos 18, para dar limites, é importante: premiar; responsabilizar; dar afeto; ter compreensão; ser justo e equilibrado; tolerar mau humor, mudez; saber escutar; conhecer e respeitar as normas da família e ter coerência com relação às normas; estimular positivamente ressaltando as vitórias; ser breve, objetivo e verdadeiro no diálogo; não aceitar que saiam sem dizer aonde vão e com quem; aceitar e estimular a independência.

Como podemos perceber, não existe uma resposta única e somente um caminho, mas com certeza, é preciso amar o seu filho e colocá-lo como prioridade na sua vida, dando-lhe amor e segurança segundo a sua idade e lembrando que sempre será seu filho, sempre precisará de você.

REFERÊNCIAS

ZAGURY, Tânia. Limites sem Trauma – Construindo Cidadãos. São Paulo. Record, 2010.

 

[1] Disponível em: https://emais.estadao.com.br/blogs/daniel-martins-de-barros/a-lenda-da-baleia-azul-ou-como-uma-noticia-falsa-traduz-um-perigo-real/  Acesso em 30/09/2019.

[2]  Disponível em:  https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/oms-divulga-orientacoes-para-uso-de-telas-digitais-na-infancia/ Acesso em 30/09/2019.

Publicado na Revista Escola de Pais Seccional da Grande Florianópolis – dezembro de 2019, pg. 22

Camila Detoni Sá de figueiredo  – Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica, Mestre em Educação/UDESC.

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