- CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
A Juventude é considerada, de modo geral, um período no qual se pode viver mais livremente, pois seria um período sem tantos compromissos com o trabalho ou a família. Assim, o jovem pode exercitar a liberdade de escolhas que serão decisivas para sua vida futura, como profissão, parceiro amoroso, identidade/autoafirmação, estética etc. Complementa esta ideia de liberdade própria da juventude as suas características: saúde, beleza, vitalidade, vigor físico, busca de aventuras, contestações etc.
Juventude é um tema considerado controverso e foi pouco discutido até 1985.
Assim como a criança, também o jovem passa por um período de preparação, pela convivência familiar, escolar e comunitária para então passar à convivência em sociedade e ao exercício de sua cidadania com responsabilidade. Esta preparação acontece espontaneamente e influenciada pela família, economia, poder aquisitivo, local de moradia, local de estudo, grupo de amigos, que favorecerão ou não a inclusão dos jovens.
- SERÁ QUE EXISTE UMA FÓRMULA OU UM CONCEITO CAPAZ DE DEFINI-LA?
Provavelmente não, especialmente porque o conceito de juventude, sua duração e características variam através do tempo e em diferentes sociedades, segundo Marília Pontes Sposito.
Pe. Hilário Henrique Dick, aponta algumas “características centrais da juventude:
– transitoriedade – na qual aparece um desequilíbrio e nada é permanente para os jovens;
– marginalidade – os jovens estão excluídos ou “à margem” dos processos de decisão, do acesso aos bens e do mundo social;
– adaptabilidade – os jovens são receptivos e abertos às novas influências e mudanças;
– os jovens são potencialmente sujeitos à mudanças – em princípio não são progressistas e nem conservadores, mas podem solidarizar-se com movimentos sociais para promover transformações sociais;
– resistentes – reagem contra o mundo e a realidade social identificada com os adultos”.
Alguns estudiosos afirmam que os fatores históricos, sociais e culturais, bem como faixas etárias acarretam uma confusão e/ou entrelaçamento entre adolescência e juventude. Tal confusão/entrelaçamento já levou a discussão da idade penal, considerando que adolescentes se comportam como adultos quando praticam um crime.
O que acontece às vezes é que os jovens ainda são tratados como crianças e outras vezes se exige deles comportamento de adultos. Pierre Bourdieu, sociólogo francês, dizia que os jovens são “meio criança, meio adulto; nem criança nem adulto” (apud TOMAZI. p. 22).
- DEFESA DOS DIREITOS
A exemplo de outras legislações como o ECA e o Estatuto do Idoso, também foi criado o Estatuto da Juventude. O Estatuto – Lei 12.852/2013 de 05 de agosto de 2013 é o instrumento legal no qual estão elencados os direitos dos jovens que devem ser garantidos e promovidos pelo Estado brasileiro, independente de quem esteja à frente da gestão dos poderes públicos. O Estatuto define como jovens as pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Para a ONU, UNESCO e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a faixa etária varia entre 15 e 24 anos.
O Estatuto define 11 direitos fundamentais, são eles: Cidadania, Participação Social e Política e à Representação Juvenil; Educação; Profissionalização, Trabalho e à Renda; Diversidade e à Igualdade; Saúde; Cultura; Comunicação e à Liberdade de Expressão; Desporto e ao Lazer; Território e à Mobilidade; Sustentabilidade e ao Meio Ambiente e Segurança Pública e o Acesso à Justiça.
- EXPERIÊNCIAS HISTÓRICAS
A partir da metade do século XX, as transformações se tornaram mais evidentes na fase da juventude com a de identidade, experiências, expectativas, transformações/definições pessoais e sonhos, independência financeira e emocional – enfim, a entrada no mundo adulto. Essas transformações tiveram impacto em diferentes movimentos na história mundial recente: movimento hippie anos 60; resistência à ditadura brasileira anos 60-70; movimento “diretas já” em 1983-84; ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) em 1990, quando foram assegurados direitos mínimos para crianças e adolescentes no Brasil e o Estatuto da Juventude em 2013.
- CONSTATAÇÕES E DESAFIOS
Observa-se que a juventude diversificou atualmente a sua pauta de reivindicações, como os jovens negros, quilombolas, de terreiro, assentados, LGBTI. Mas também convivendo com os movimentos já veteranos na cena política, como o movimento estudantil universitário e secundarista, grupos religiosos, jovens de partidos políticos, da capoeira, do funk e do hip hop.
As Igrejas, sensibilizadas pelos problemas pelos quais estão passando os jovens, atuam junto a eles por meio de Pastorais. Papa Francisco, atento e preocupado com a inclusão do jovem na igreja, encaminhou uma carta aos jovens e um questionário para os organismos que trabalham com a juventude com o objetivo de obter subsídios para a 15º Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que acontecerá de 03 a 28 de outubro de 2018 com o tema: Os Jovens, a fé e o discernimento vocacional.
O especialista em juventude Carlos Eduardo Cardozo explica: “Alguns jovens hoje vêm desenvolvendo um grande vazio existencial, provocado pela falta de perspectivas de futuro, pela falta de um projeto de vida que os motive a buscar experiências mais saudáveis para sua vida. Soma-se a isso o fato de uma grande fragilidade emocional de alguns jovens, levando-os a terem dificuldade em lidar com as frustrações”.
Com certeza, acontecimentos infelizes envolvem e abalam os jovens, tais como:
– A criminalidade e violência em todas as classes sociais, embora atinja com mais força aqueles em situação de vulnerabilidade – indicadores revelam que são os jovens os que “mais matam e os que mais morrem”; os que vivenciam os maiores índices de desemprego e estão “fora da escola”.
– O sexo irresponsável que leva tanto a gravidez precoce como ao avanço das doenças sexualmente transmissíveis, independente das campanhas governamentais.
– As dificuldades de alcançar o primeiro emprego, mesmo com formação universitária, resultado de um sistema educacional que fornece mais conhecimento-informação e menos conhecimento-saber.
– Ausência de referência de líderes.
– Dificuldade, dada a rebeldia própria da idade, de aceitar campanhas comportamentais por serem consideradas moralistas. Rebeldia associada à instabilidade emocional, mentalidade de caminho fácil, e busca de prazer, levam a comportamentos de risco e transgressões.
– O fenômeno social dos “pais jovens” com a eternização da juventude. A geração dos 20 anos se depara com ganhos da proximidade/tolerância e os custos da perplexidade/inversão.
– Mudança nos valores e desestruturação familiar afeta diretamente a juventude e a leva à revolta, não apenas contra os pais, mas contra outros grupos sociais, contra a sociedade, contra um sistema que marginaliza em especial jovens e velhos. Os jovens acabam buscando por grupos tribais para não se sentirem solitários.
É difícil para os que estão nesta fase da “juventude” passar por esse período e compreender que o caminho para independência e liberdade é tortuoso, custoso e não se dá de maneira previsível. Mas, para os pais também é difícil, pois carregam o ônus da responsabilidade de condução e há uma hierarquia familiar respaldada e cobrada pela sociedade.
Ao longo dos últimos 15 anos, no Brasil, nos meios de comunicação, assistiu-se ao surgimento de novos veículos de informação (páginas na internet e revistas, por exemplo) voltados para o tema juventude. A grande oferta e facilidade dos conteúdos na internet (muitas das vezes inapropriados) e ferramentas como o WhatsApp, contribuem para o individualismo e isolamento dos jovens, gerando conflitos familiares.
- CONCLUINDO
Mesmo com os desafios a serem vencidos, a juventude é uma etapa marcante por ser o tempo das amizades, afetos, ideologias, esperanças, sonhos, relacionamentos duradouros… Enfim, a definição da própria identidade, a aquisição de certos níveis de maturidade emocional, intelectual, social e realização pessoal.
A juventude precisa e deve contar com um ambiente familiar saudável e sustentado por pilares, tais como: AMOR, PRESENÇA, FIRMEZA, BOM RELACIONAMENTO, DIÁLOGO, SOLIDARIEDADE E CONFIANÇA (PRESTÍGIO). Assim, com certeza a juventude será um período de superação e continuidade do protagonismo.
E, lembremos sempre: todo adulto já foi jovem e todo jovem será adulto. Saibamos olhar, conviver e aprender com o diferente. Este diferente pode estar em nossa casa, na escola, no local de trabalho e no voluntariado e/ou na comunidade que frequentamos.
REFERÊNCIAS
1.TOMAZI, Gilberto. Juventude – Protagonismo e Religiosidade. Paulinas, 2013.
- ARAÚJO, Silvia Maria de e Girardi, Armelino. Projeto de Vida. Paulinas, 2016.
- JUSTO, Wilma Regina Enéas A. S. Tribos urbanas, você e eu. Paulinas, 2010.
- Jovens na Cena Metropolitana. Coord.: BORELLI, Silvia H. S.; ROCHA, Rose de M. e OLIVEIRA, Rita de C. A. SEPAC e Paulinas, 2009.
- CORTELA, Mario S. Não nascemos prontos! O Futuro Saqueado. Vozes, 2015.
- Dimensões da Experiência Juvenil Brasileira e novos Desafios às Políticas Públicas – IPEA 2016 – Org.: SILVA, Enid R. Andrade; BOTELHO, Rosana Ulhôa. 2016.
- TIBA, Içami – Juventude & Drogas: Anjos Caídos. Interage, 2007.
- Cardozo, Carlos Eduardo – Juventudes: Linguagens e Códigos num Mundo Pós-Cristão – https://www.scribd.com/…/Cardozo-Carlos-Juventudes-Linguagens-e-Codigos-Num-…
- Sposito, Marília Pontes (USP, Fac. Educação e Ação Educativa) -Juventude e Políticas Públicas no Brasil.
- Novaes, Regina N. – Juventude e Sociedade.., Juventude, Religião e Espaço Publ……
- Dick, Hilario Henrique – doutor em Letras pela U0RJ, pastoralista de jovens há mais de 45 anos.
- Artigos de jornal/revistas, artigos/vídeos internet.
Marlene de Fátima Merege Pereira, EPB Seccional de Curitiba/PR marlenefmpereira@gmail.com.br
Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Revista Congresso, junho de 2018, p. 12-15.
Faça um comentário