Das muitas crises enfrentadas atualmente, a dos relacionamentos, que caminha silenciosa, parece ser a que mais afeta as pessoas em meio as mudanças deste mundo tecnológico e virtual, trazendo reflexos no cotidiano das famílias, das relações afetivas e sociais e nos ambientes de trabalho. Como podemos nos preparar para enfrentar essa crise?
O ser humano se constrói nas relações interpessoais nos grupos a que pertence: familiar, social e/ou profissional. Conhecemo-nos e renovamo-nos como pessoa nestes encontros, sendo o século XXI considerado a era da coletividade. Nós podemos contribuir e fortalecer os grupos a que pertencemos ou prejudicá-los, dependendo de como agimos. Nossos comportamentos e nossas decisões vão definir a sequência e consequência da realidade que vamos gerar e viver, individual e coletivamente.
O psicólogo Luís Carlos Osório, no seu livro Psicologia Grupal, conceitua a Inteligência Relacional como “a capacidade de os indivíduos serem competentes na interação com outros seres humanos no contexto grupal que atuam. A competência interpessoal é a que cada membro de um grupo deve possuir para que a tarefa que devam realizar juntos tenha êxito[i]”. Esse é o novo conceito da inteligência, no comportamento relacional, destacando que precisamos reconhecer o saber do outro para que possamos interagir com ele, e então, agregar valor ao nosso próprio conhecimento.
Assim vão se constituindo as trocas, do mundo interno ao externo, numa realidade inter-relacionada e interdependente entre os indivíduos do grupo, fortalecendo-os e potencializando a sua ação, fenômeno este explicado pela Teoria Geral dos Sistemas, para a qual o todo (o grupo) é maior que a soma das partes (pessoas), pela sua interação.
Para nos relacionarmos precisamos nos comunicar, o que o ser humano tem de mais primitivo é a sua necessidade de estar em permanente comunicação com outras pessoas. Falar para quê? Dizer o quê? Um dos axiomas básicos da Teoria da Comunicação é a impossibilidade de não comunicar, pois comunicação e conduta são sinônimas e têm um valor de mensagem. A comunicação pode construir pontes ou muros entre as pessoas, nos seus relacionamentos. Ela é de primordial importância na criação e manutenção do clima grupal (leve ou tenso, pacífico ou conflituoso).
Brincando com a palavra comunicação, podemos dividi-la assim: ação comum, o que nos faz pensar em qual é o objetivo de determinado grupo – que pode ser a família, professores, alunos ou colaboradores de uma instituição ou empresa. Como também nos faz pensar na responsabilidade de cada ser que a integra. Citando a educadora Dulce Magalhães[ii], a palavra responsabilidade significa “habilidade de dar resposta”, dando ao indivíduo o poder de aprender, de mudar e de fazer. O espaço de transformação e renovação pessoal e coletivo só acontece no campo relacional.
“Ninguém muda ninguém, ninguém muda sozinho, nós mudamos nos encontros… É nos relacionamentos que nos transformamos. Somos transformados a partir dos encontros, desde que estejamos abertos e livres para sermos impactados pela ideia e sentimento do outro“. Roberto Crema.
Referências:
[i] OSÓRIO, Luiz Carlos. Psicologia Grupal: uma nova disciplina para o advento de uma era. Porto Alegre: Artmed, 2003.
[ii] MAGALHÃES, Dulce (org.). Pensamento estratégico para líderes de hoje e amanhã. São Paulo: Integrare, 2008.
Publicado na Revista nº 2 – 2010, da Ecola de Pais – Seccional de Biguaçu SC
Maria Olívia Schwalb Seleme – Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e Escolar, Terapeuta de Família, de Casal e Individual, Consultora Educacional e Palestrante.
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