Estudos indicam que no início da vida, há no cérebro plasticidade suficiente para que as crianças superem as experiências negativas, isto é, a inteligência pode ser estimulada e normalmente se desenvolve até a puberdade. Já as competências socioemocionais, que são adquiridas através de exemplos, do reforço positivo, do elogio, bem como a disciplina, organização, autocontrole, continuam flexíveis, isto é, continuam sendo desenvolvidas, às vezes, até a idade adulta. Essa educação não cognitiva ou socioemocional (que não depende da inteligência) ganha espaço no Brasil, replicando o que acontece nos Estados Unidos e na Europa.
A educação não cognitiva pautada mais por traços de personalidade visa estimular capacidades como autodisciplina, curiosidade, persistência, resiliência que são desenvolvidas no dia a dia da educação melhorando o desempenho escolar, as competências sociais e as escolhas profissionais.
A pesquisadora Ângela Dukworth da Universidade da Pensilvânia fez um doutorado orientado pelo psicólogo Martin Seligman e focou sua pesquisa na importância da autodisciplina, para o desempenho escolar. Foram medidos o QI e a autodisciplina dos alunos que iniciavam o último ano do ensino fundamental. Após dois anos, concluíram que esse traço de personalidade era um indicador mais forte no desempenho escolar do que a inteligência.
Koji Miyamoto, do Centro de Pesquisa Educacional e Inovação da OCDE, que na última semana lançou o livro “Skills for Social Progress” – Habilidades para o progresso social, diz o seguinte: “As habilidades não cognitivas podem ser tão importantes quanto as cognitivas (inteligência) para os resultados educacionais, do mercado de trabalho e sociais.” Ele afirma, também, que as competências socioemocionais não funcionam de forma isolada, mas que sua interação com a capacidade cognitiva, aumenta as chances de sucesso na vida escolar e adulta.
O artigo publicado por Gustavo Ioschpe “Você quer que seu filho seja inteligente ou esforçado?” Publicado na Revista Veja – edição 2383, ano 47 nº 30 p. 90 nos mostra a importância da organização socioemocional para a realização pessoal.
A jornalista Amanda Ripley autora do livro, “As crianças mais inteligentes do mundo” Três estrelas – 2014 diz: “Essas habilidades serão cada vez mais habilidades de sobrevivência”.
Conforme os computadores assumem as atividades repetitivas, aumenta a importância de profissionais criativos que consigam pesquisar, inovar e encontrar soluções para problemas e para o aumento do bem estar. Esses estudos deixam muito evidente o quanto os pais e o ambiente familiar podem influenciar na aquisição desse conteúdo não cognitivo, também chamado de socioeducacional, podem influenciar na realização pessoal e profissional dos seus filhos.
Os pais podem fazer muito pouco para aumentar o capital de inteligência do seu filho, pois a inteligência depende da genética e faz parte do ser biológico. No entanto, eles podem fazer muito para aumentar suas habilidades de sobrevivência, para desenvolver suas competências socioemocionais como: autodisciplina, organização, responsabilidade, paciência, resiliência, criatividade, curiosidade, respeito.
Essa ação educativa possibilita o incremento da capacidade de realização pessoal, funcional e social, porque todas essas habilidades são aprendidas no dia a dia da sua educação, por meio do exemplo e da sua participação efetiva nas atividades domésticas e sociais da casa onde vivem, do ambiente que frequentam.
Seu filho já nasce com inteligência, mas depende do ambiente para adquirir as competências sociais que possibilitarão maior sucesso profissional e realizações pessoais na vida adulta.
Artigo baseado na Reportagem de Érica Fraga, publicada no Caderno Ilustríssima da Folha de S. Paulo em 14/03/2015.
REFERÊNCIA
FRAGA, Érica. Caderno Ilustríssima. Folha de São Paulo, 14/03/2015.
IOSCHPE, Gustavo. Veja. Edição 2383, ano 47 nº 30, 2015.
RIPLEY, Amanda. As crianças mais inteligentes do mundo. Três estrelas, 2014.
Dolma Magnani de Oliveira – Advogada, Professora e Associada da Escola de Pais da Grande Florianópolis.
Artigo publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional da Grande Florianópolis nº 6, junho de 2015, p. 18.
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