Apostar na liberdade deve ser a meta do educador, sendo fundamental que os pais tenham o cuidado de que a liberdade dos filhos se exercite no processo de tomar decisões. Instala-se o conflito quando a questão é se colocar limites e dar liberdade. Sobre esse impasse, Mestre Freire (1997, p. 119) afirma que “O grande problema que se coloca ao educador de opção democrática é como trabalhar no sentido de fazer possível que a necessidade do limite seja assumida eticamente pela liberdade. Quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário, tanto mais autoridade tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu nome.”
É ainda Freire (1997) que alerta no sentido de que a liberdade amadurece no confronto com outras liberdades, na defesa de seus direitos em face da autoridade… e nem sempre a liberdade do adolescente é a melhor decisão com relação a seu amanhã, fazendo-se indispensável que os pais tomem parte das discussões com os filhos em torno desse amanhã.
Isso significa que os pais não devem se omitir no debate, no entanto precisa ficar bem claro que esse futuro pertence aos filhos e são estes que precisam assumi-lo. É decidindo que se aprende a decidir, e se os filhos não aprendem a decidir nunca serão eles mesmos. Estarão a esperar, sempre, pela sabedoria e a sensatez do pai e da mãe para decidir por eles.
Os pais guardam em s i a certeza de que qualquer ideia vinda do seu filho é uma “ideia maluca”, entretanto se faz necessário que o filho tenha o direito de provar se a tal ideia é realmente “maluca”.
Faz parte do aprendizado da liberdade assumir as consequências do ato de decidir. É essencial, como diz Freire (1997, p. 120), se refletir sobre a questão “De que não há decisão a que não se sigam efeitos esperados, pouco esperados ou inesperados (…) é uma das tarefas pedagógicas dos pais deixar claro aos filhos que sua participação no processo de tomada de decisão não é uma intromissão mas um dever (…) sobretudo na análise, com os filhos, das consequências possíveis da decisão a ser tomada.”
Em todo esse processo é fundamental que o filho assuma eticamente, responsavelmente, sua posição, alicerçando-a na sua autonomia.
Diz ainda Freire (1997, p. 121) que “A autonomia vai se constituindo na experiência ao longo de inúmeras decisões que vão sendo tomadas. Ninguém amadurece, de repente, aos vinte e cinco anos e é neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade (…) em experiências respeitosas de liberdade.”
Concorda-se com moreno (2001, p. 31) quando afirma que o ser humano pode se educar porque é livre e pode ser livre porque se educa; só é possível educar o ser humano libertando-o e só é possível libertá-lo educando-o.
Para que se possa refletir sobre tudo o que se disse até aqui, vamos acompanhar Rafael, o “menino só”, como já se fez quando ele contava com seus seis anos de idade, em seu primeiro dia de aula; quando em dias da meninice, com seus 10 ou 11 anos, corria livremente pelo sítio, construindo suas arapucas. Naquele momento, isso correspondia para o ser Rafael à máxima liberdade. Agora Rafael começa a assumir sua vida; é um adolescente que precisa sair da casa de seus pais para continuar os estudos, precisa tomar decisões, sozinho, aprendendo com seus próprios acertos e erros. Vivencia uma liberdade diferente, precisa assumir responsabilidades. Imagina situações e não consegue entender se o que imagina é “sonho ou realidade”, o que se passa em seu cérebro e em seu coração; também faz parte desse cenário o desabrochar do primeiro amor.
Referências
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Moreno, C. I. Educar em valores. São Paulo: Paulinas, 2001.
Artigo publicado no livro: Pais filosofam. Autores: Neusa Teresinha Pinto Valentim e Emery Oscar Valentim. Florianópolis: Editora Sophos, 2003, p. 74 e 75.
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