Educação dos filhos: buscando referenciais

Nas últimas décadas, uma série de transformações sociais, religiosas, políticas e culturais vem modificando o contexto mundial. Com um simples clique no “mouse”, através da internet, podemos estar diante de um sem número de informações em segundos. O que tais transformações afetam a estrutura familiar, na medida em que a família é um universo intimamente ligado ao momento histórico-social que passa a sociedade, e a qual ela se vincula?

Para buscarmos repostas, façamos um retorno à década de 60, aproximadamente. Época em que não se tinha internet, o divórcio não era legalizado, a principal profissão da mulher era “do lar”, enfim o momento histórico social era outro. Vivia-se um modelo de família onde pai e mãe tinham papéis específicos. A sociedade entendia e aceitava que o homem era o “chefe da casa”, o “provedor”. Era o homem que tinha a autoridade sobre a mulher e os filhos. A mulher, por sua vez, era a “dona do lar”, responsável pelos afazeres domésticos e a criação dos filhos. Não é difícil ouvir de alguns, que viveram essa família tradicional enquanto filhos, que o pai, para demonstrar sua insatisfação com algum comportamento ou situação “só olhava”, e todos entendiam o recado. Ninguém ousava contestar, ainda que o pai estivesse totalmente errado. A educação era baseada no autoritarismo, no medo, na obediência sem contestação e na maioria das vezes sem diálogo. Era utilizada ainda a força física.

Entretanto, vivemos um novo momento, as transformações desestruturaram o modelo de família tradicional de papéis definidos. A grande urbanização, as novas tecnologias, a inserção da mulher no mercado de trabalho formal, a diminuição do número de filhos, a possibilidade do divórcio, entre outros fatores, deram origem a novos arranjos familiares.

A figura do chefe de família se relativizou. Quem é o chefe, o pai ou a mãe? Tem chefe nas famílias ainda, já que agora não somente o pai é o provedor, mas também a mãe? As famílias são pai e mãe juntos ou só pai e ou só mãe? E ainda, famílias de casais homossexuais, famílias onde os avós são presentes e trazem consigo toda sua bagagem educacional. Ou seja, os novos arranjos familiares não trazem papéis tão definidos como a família da década de 60. A figura do pai que “só olhava” não mais se impõe. A mãe não está mais no lar à disposição da educação dos filhos. E, nesse moderno contexto familiar, como conciliar as bases educacionais aprendidas na família tradicional com essa nova família? Como lidar com a obediência que vem acompanhada da contestação, como usar da força física que está proibida por lei, como dialogar e dar chance aos filhos se posicionarem se a possibilidade de diálogo até então não existia? Ao que parece e, é o que a literatura tem estudado, algumas famílias vivem esse conflito do referencial a ser adotado na educação dos filhos.

Nesse sentido, entendo que a família mudou, temos hoje novas estruturas familiares. Porém a família não perdeu o status de ser o primeiro núcleo de inserção dos indivíduos. É nela que encontramos ainda, as bases do desenvolvimento biológico e psicossocial. É ainda onde a criança experimenta as primeiras noções de limites, de respeito, de autoridade e a de se colocar no lugar do outro. Também não mudaram as necessidades como, suporte biológico, as trocas afetivas e um ambiente seguro.

É preciso entender que os tempos mudaram, que as crianças, hoje expostas a mais informações, estão mais exigentes. Mas, como nos tempos antigos ainda precisam de limites, de valores, de afeto para se tornarem adultos sadios. Expostas a todas essas possibilidades que o mundo moderno hoje lhes propicia, as crianças precisam de pais que apresentem limites, que exijam respeito, que cobrem disciplina, que agreguem valores morais e éticos aos comportamentos, porém sem autoritarismo, sem pancadas ou desrespeito. É necessário que se busque um equilíbrio. Importante observar que não somente o que é dito ou o que é posto vale para educar os filhos, mas também as ações realizadas pelos pais. Os filhos vivem numa busca de parâmetros de identificação, de exemplos. Onde o discurso não é coerente com a prática, surgem os paradigmas – porque meu pai faz e eu não posso fazer? As crianças imitam os comportamentos dos pais. O “faça o que eu digo e não faça o que eu faço” não funciona mais com as crianças.

O diálogo, a demonstração de afeto, os exemplos coerentes, a construção de regras de convivência – firmadas ou revistas dia a dia – podem ser maneiras acertadas de criar filhos sadios. Porque educar é trabalhoso e é um processo diário que leva tempo, persistência dedicação e muita paciência.

Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccionais de Biguaçu e São José, nº 5, junho de 2014, p. 34.

Naiara VicentiniPsicóloga, Graduada em Direito.

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