A evolução da comunicação mudou o mundo. Não falamos mais como antes. Não ouvimos mais como antes. Que bom! Temos acesso a informações e notícias em tempo real, por meio de tevês, computadores, telefone celular, a comunicação via satélite, redes sociais e mais aparatos e eletrônicos, insistentemente oferecidos pela mídia. Não resta dúvida de que os pais de hoje enfrentam problemas que os de antigamente não enfrentavam. Deparamo-nos com muitas situações delicadas em relação aos filhos, exigindo de nós muita sabedoria.
A convivência entre o adulto e a criança traz à tona uma série de questionamentos que buscam solucionar os problemas enfrentados na hora de educar, impor limites e ao mesmo tempo, transformar tudo isso em uma relação de confiança e cumplicidade.
A maioria dos conflitos se originam na dificuldade de comunicação dentro de casa. Filhos não entendem seus pais e pais não reconhecem seus filhos. Quando exigimos em casa coisas das quais nem precisamos de fato, acabamos por desgastar o relacionamento e assim provocando as incessantes brigas sem sentido, aumentando a resistência dos filhos em reação a proibições necessárias. Esse ruído na comunicação leva ao desentendimento e, consequentemente, às discussões, falta de relacionamento sadio, acusações que escondem o verdadeiro desejo de ambos: sentirem-se amados.
Daniel Goleman, em seu livro Inteligência Emocional diz que: “Pais que percebem as próprias emoções podem usar a sensibilidade para sintonizar os sentimentos de seus filhos”. Entretanto, para agirmos com bom senso e educarmos de maneira mais sábia, com condições de lidar com as emoções, é preciso investir, também, no nosso próprio equilíbrio emocional.
Os sentimentos precisam de expressão!
Não apenas os sentimentos dos filhos, mas também os dos pais. Se não gostamos do que eles fizeram, ou ficamos magoados com o que ouvimos, temos o direito também de mostrar nossos sentimentos. Numa relação transparente, podemos lhes ensinar que os filhos podem colocar seus sentimentos de outra maneira, de forma que possamos ajudá-los sem que um fira o outro. É fundamental entrar em sintonia com as emoções de seu filho, é preciso escutá-lo, pois uma comunicação eficaz envolve escutar e falar.
A disponibilidade para escutar é uma virtude. Nesse mundo corrido, parece que a arte de escutar já não tem muitos seguidores, pois se fala bem mais do que se escuta; talvez se fale ou se ouça, mas escutar…
Escutar, ensina o dicionário, é “estar consciente do que está ouvindo, é ficar atento para ouvir; dar atenção a; esforçar-se para ouvir com clareza” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”). Embora “ouvir se dê como sinônimo, às vezes, de “escutar”, na verdade ouvir é, em si, “perceber (som da palavra) pelo sentido da audição.” Para melhor perceber a diferença entre ouvir e escutar cito um exemplo: “Conversando no parque ouvia os pássaros, mas não escutava!”
Dr. Haim Ginott, psicólogo israelense, acreditava que uma das maiores responsabilidades dos pais é escutar os filhos. “Escutar não só o que eles dizem com palavras, más também os sentimentos por trás das palavras.” Escutar de forma curiosa e interessada, demonstrar empatia com palavras, prestar atenção à linguagem corporal, às expressões, aos gestos deles, desta maneira podemos ensiná-los a solucionar o problema em questão. Eles aprendem a confiar em seus sentimentos, regular as próprias emoções. Nessa perspectiva, terão autoestima elevada, facilidade de aprender e de se relacionar com as pessoas.
O relacionamento entre pais e filhos nada mais é do que um processo de aprendizagem mútuo, no qual os pais ensinam os filhos, mas também aprendem com eles. Maria Tereza Maldonado, escritora e psicóloga, diz que: “É preciso olhar o conflito como oportunidade de mudanças e de melhoria nos relacionamentos aprimorar nossos recursos de comunicação e ter disposição para encontrar os pontos em comum nas divergências.”
Para manter, constantemente, uma boa relação com os filhos é preciso paciência e muito jogo de cintura. O primeiro passo para que a comunicação seja eficaz é partilhar ideias e emoções de forma segura, livre e respeitadora. É importante que pais e filhos se sintam à vontade para partilhar dúvidas, levantar questões, expressar ideias e sentimentos, revelar preocupações, anunciar conquistas… O equilíbrio entre a amizade e autoridade é um dos desafios que os pais devem buscar todos os dias.
Referências
MADONADO, Maria Tereza. O bom conflito: juntos buscaremos a solução. São Paulo: Integrare, 2008.
GINOTT, Haim. Entre pais e filhos. Tradução: Ana Beatriz Rodrigues. São Paulo: Alegro, 2004.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos. 28 ed. São Paulo: Objetiva, 1997.
ZAGURY,Tania. Filhos adultos mimados, pais negligenciados. Rio de Janeiro: Record, 2015.
Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional da Grande Florianópolis nº 7, p. 12 – outubro de 2017
Giselle da Silva Fiamoncini – Psicóloga – CRP 12/12743, Pedagoga, Orientadora Educacional, Coordenadora Pedagógica, Especialista em Psicopedagogia, Pós-Graduada em Educação Infantil; contatos: gisellef.psic@gmail.com
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