O ciúme é uma emoção inevitável e necessária para o desenvolvimento psíquico do ser humano. É difícil de suportar, pois a pessoa sente-se excluída, e é sempre muito doloroso. É doloroso invejar o outro, sempre inimitável.
Na verdade, o ciúme mostra que existe algo de errado comigo, porque uma pessoa segura de si, com a autoestima em ordem, não tem porque sentir ciúmes a ponto de sofrer.
Sabemos de muitas crianças que recebem o desagradável título de “ciumentas da família” e acabam carregando esse fardo por muito tempo na vida sem que tenham a possibilidade de entender o real significado dessa emoção.
Os adultos acabam piorando as coisas, quando reforçam um comportamento negativo. (criam rótulos que às vezes levarão para o resto da vida).
Muito comum também é uma criança ofender outra criança de quem sente ciúmes. Faz isso porque está sofrendo e quer que a outra criança, que lhe parece mais feliz, ou mais amada do que ela, sofra também. Ao mesmo tempo gostaria de ser sua amiga. Ambivalência típica entre irmãos. (detesta por que acha que está tomando o lugar dele, mas ama e gostaria de ficar bem com o irmão).
O adulto, no entanto, deveria ter muito mais recursos para suportar essas angústias do que a criança e ajudá-la a aproveitar essa oportunidade para aprender com a experiência, para desenvolver o relacionamento entre todos na família, conversando, explicando. Infelizmente, não é bem assim que acontece.
Os pais costumam fazer dos ciúmes entre os filhos um drama. Esquecem que as crianças aprendem muito mais com aquilo que vem, do que com o que ouvem.
Não adianta falar uma coisa e mostrar outra. A criança percebe que consegue infernizar a vida dos pais, com as cenas de ciúmes, com choro exagerado, algumas chegam a adoecer, para conseguir o que desejam. Sentem-se eternamente injustiçadas.
Cabe, portanto, ao adulto ter o domínio e controle da situação, nunca falando aquilo que não vai cumprir, sem perder a razão, com berros ou agressões.
A “ciumenta” é uma criança muito dependente, que sofre por causa disso. A verdade é que quando uma criança quer chamar a atenção de toda a família, armando a maior confusão até se fazer notar, acaba conseguindo.
“Fazem comigo aquilo que eu permito”, ou seja, se o adulto aceitar a provocação, a criança deita e rola e os adultos passam a maior vergonha, seja na rua, na casa dos outros, etc.
Provoca o ciúme do irmão ou se queixa de ser provocada, monopoliza e incomoda os adultos que estão ao redor, exatamente para mostrar o quanto se sente a pior das mortais.
Ao invés da mãe dramatizar ou reforçar o comportamento, parecendo que é uma tragédia a situação, ou ainda pior, querendo “comprar” a criança, com promessas, tipo: se você parar de fazer isso, mamãe vai comprar tal coisa que você quer, ela deveria colocar palavras nesse sentimento e, consequentemente, humanizar a relação, falando: – ele é menor, você tem que ajudar a cuidar…etc. A raiva nunca resolve nada. Por significar tanto, sofrer o ciúme deveria despertar a compaixão e o amor por parte da mãe.
A criança se aborrece quando não faz nada de interessante. Quando uma criança passa seu tempo disputando um “lugar ao sol” dentro da família, ela já não desfruta da alegria de conviver, pois está mais preocupada em ganhar a competição.
Cabe sempre ao adulto, que pensa, sente e fala, manter o equilíbrio, a calma e agir. Ser firme e mostrar o que tem que mostrar, sem ceder a chantagens, ou más criações. Existem algumas mães que tem chiliques, descontroles, são aquelas que estão sempre ameaçando: você vai ver quando seu pai chegar… e a criança percebe, então aí sempre que quer irritar, provoca.
Muitas mães nos perguntam: “o que fazer para não despertar ciúmes na criança quando nasce um irmãozinho?
Os adultos precisam ter bom senso, e agir com naturalidade. O pequeno que chegou, tem que se adaptar a rotina da casa, para não criar problemas, uma vez que ele chegou depois.
Evitar e pedir aos parentes próximos, que evitem ficar elogiando o novo, se esquecendo do maior.
Agir com amor, naturalidade, porém sem reforçar atitudes erradas, ao contrário, elogiando a participação do maior etc.
O adulto tem que ter sempre o controle da situação. Saber ser firme na hora certa, e muito amoroso sempre, porem colocando limites e fazendo a criança entender que o comportamento inadequado não vai funcionar com os pais.
O importante é dialogar na linguagem da criança, sem gritar ou perder a paciência, mas também sem paparicar, porque afinal: EDUCAR filho requer explicação.
Este artigo foi publicado na Revista Programa – junho de 2011, p. 37, do 48º Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil, realizado de 23 a 25 de junho de 2011, em São Paulo – SP.
Solange Dantas Ferrari – Psicóloga
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