Introdução
O homem misterioso
Foi só nos últimos 20 anos que os pais passaram a ser considerados pela comunidade psicológica como muito mais do que o “outro”, ocupando um distante segundo lugar em relação à mãe.
Quase todos os pais são como celebridades – como os heróis populares – são adorados ou temidos à distância por seus filhos. De certo modo, os pais são inexplicáveis, um eterno ponto de interrogação.
Poucas são as filhas que tiveram a oportunidade de ter um pai presente, participante de sua vida de forma saudável e amorosa.
Somente quando a menina cresce e começa a se apaixonar, que a relação pai filha, com seus ganhos e perdas, torna-se manifesta.É só neste momento que sua capacidade de ligar-se a outro homem que não seu pai irá revelar a facilidade de se expressar sexualmente.
Quando uma mulher quer uma relação amorosa com um homem, ela irá ainda que inconscientemente, trazer para esta relação suas experiências afetivas com seu pai. A relação pai-filha é a expressão para as relações românticas da filha, seu ensaio para o amor heterossexual.
Inúmeros estudos demonstram que a capacidade da mulher de estabelecer uma relação sexual e amorosa mútua, está diretamente vinculada a seu relacionamento com o pai.
E as mulheres que têm dificuldades nesta área, quase sempre tiveram pais com os quais não puderam contar, ou que não estavam disponíveis, física ou emocionalmente, no período do seu crescimento. Uma mãe amorosa não basta para compensar estas dificuldades.
De acordo com as pesquisas sobre sexualidade feminina (Seymour Fischer em “O Orgasmo da Mulher”), as mulheres que têm conflitos e disfunções sexuais, tendem a pensar nos homens como aqueles que foram embora ou que podem partir a qualquer momento: os homens não são reais, não se pode conhecê-los ou confiar neles.
Se não houver a certeza da capacidade de atrair um homem amoroso e digno de ser amado – certeza que as filhas dos bons pais têm – a vida romântica e sexual da mulher pode ficar muito comprometida.
Duas questões se colocam face a face ao que abordamos
1) Se tantas filhas vivenciam “carência de pai”, como preenchem as lacunas em suas histórias e seus relacionamentos amorosos atuais e futuros, sem sobrecarregá-los com expectativas irreais?
2) Como as mulheres aprendem realmente a falar com seus pais e a conhecê-los sem idealizações, defesas ou medos?
Homens e mulheres começam a vida com pais que são emocional ou fisicamente distantes.
O Enigma Pai-Filha
Há uma conexão entre o relacionamento com seu pai e seu relacionamento com os homens de sua vida? O que a mulher percebe no local de trabalho, principalmente ao tomar decisões, competindo com outro homem, etc.?
Existem duas mulheres: a profissional e a amante. Uma é competidora, a outra é conciliadora – uma é mulher a outra é menina.
As mulheres ficam divididas entre o que querem e o que precisam – o que desejam e o que recebem. Querem um homem sensível e compreensivo mas quando o encontra o consideram fraco. A compulsão da visão dupla emocional, ocorre porque os pais são misteriosos.
Em 1990 uma pesquisa feita pelos psicólogos Virgina Slins e Raper conclui que:
Mulher
– 27% consideram mais importantes o pai
– 53% consideram mais importante a mãe
Homens
– 41% consideram mais importante o pai
– 42% consideram mais importante a mãe. Os pais são mais misteriosos para as filhas do que para seus filhos. Se o pai não está presente, o que a filha pode fazer para compensa? Inventá-lo, fantasiá-lo. As filhas preenchem os vazios com ilusões do que o pai poderia ser, ou pensam que são culpados pela ausência dele. Criam fantasias para explicar sua ausência emocional ou física.
As filhas resolvem o problema da distância do pai, tentando tornar-se aquilo que vai atrair a sua atenção, de certo modo, reinventando-se a si mesmas. Elas pensam que, se eu fosse mais bonita, mais inteligente, ou mais forte, mais sorridente, mais encantadora, será que meu pai iria me amar mais? Se tentar tudo isso e nada ocorrer, então algo tremendamente errado com ela acontece. Talvez se ela fosse um menino… É um pensamento que faz sentido na cabeça infantil da menina. Quando a filha cresce e se apaixona, ela leva consigo sua fantasia.
O enigma Pai-Filho
Existe distância no relacionamento pai-filho do mesmo modo que existe entre pai e filha. Mas as consequências são diferentes: a maioria dos filhos não aprende o que significa ser um homem amoroso e disponível.
A distância paterna é ainda mais prejudicial aos homens. Para a maioria deles, não é considerado “másculo” entrar em contato com seus sentimentos, porque isto faria deles “filhinhos da mamãe”.
Sem um modelo padrão de sensibilidade masculina, os homens são privados de qualquer ligação próxima com seus pais. Isto explica porque têm dificuldade de falar sobre seus sentimentos.
A maioria dos homens foi treinado na infância para esconder suas vulnerabilidades, para tornar-se como seus pais, ao menos em termos da dissimulação, ou mesmo da negação de seus sentimentos.
Os homens invejam a capacidade feminina de estabelecer intimidades, pois a maioria sente-se constrangido demais para ligar para um amigo e dizer: “Estou tendo um péssimo dia, que almoçar comigo hoje?”
Se as mulheres quiserem conhecer e aproximar-se de seus parceiros de modo significativo, devem ter tido a experiência de conviver com um pai amoroso e dedicado ou então deve compreender as conseqüências de não terem tido esta experiência.
As filhas tendem a preencher as lacunas das ausências emocionais e físicas dos pais encarando-os como heróis.
As fases da vida emocional de um pai podem entrar em conflito com a filha, a sua crise da meia-idade pode coincidir a puberdade da filha (Lutos da adolescência).
TRIÂNGULO FAMILIAR
Aprendemos a ser homem ou mulher e como devemos comportar-nos com o membro do sexo oposto. A relação edipiana ensina a masculinidade e a feminilidade, a relação com o sexo a partir dos próprios pais e da observação de como os pais convivem, (observando a relação conjugal dos pais ou seu desenvolvimento).
Na adolescência a filha encara o problema do triângulo edipiano vendo seu pai (e sua mãe) sob o prisma de seu amadurecimento cronológico e de suas mudanças hormonais – não perfeitos e todo-poderosos, mas bons o bastante. Os triângulos mal resolvidos trazem conseqüências para as nossas vidas e relacionamentos adultos.
Algumas mulheres fortes são atraídas por homens facilmente manipuláveis, estes homens apresentam o lado “feminino” rejeitado da mulher.
Outras mulheres dependentes, cuja força “masculina” foi sufocada na infância, podem sentir atraídas por homens dominadores. Essas mulheres encaram os homens como grandes e fortes ou fracos e inúteis. Negando furiosamente sua própria força, estas mulheres precisam de um homem autoritário para representar sua ambição e raiva – seu lado “masculino” para elas. Estas mulheres podem ser atraídas por homens muito mais velhos, casados, inacessíveis ou, em casos extremos, violentos.
Quarenta anos de pesquisa fez Stells Chess concluir que as crianças têm muita dificuldade de se aproximar de seus pais. Apenas duas entre trinta mulheres estudadas tinham lembranças autênticas de pais amorosos e atenciosos. Sentir aprovação dos pais era sempre muito difícil, opiniões diferentes das nossas, vale compreender que, ainda que possam sugerir paradoxo, sentimentos opostos ou diferentes, convergem e são complementares: afinal, a sua integração é a mais pura arte de viver e relacionar-se.
Felizmente a identidade masculina, racional e objetiva, está sendo mimada e futuramente, será destruída. Preparemo-nos. Mais ainda, avizinha-se o tempo em que as mudanças nos papéis sexuais também ocorrerão.
A mulher se iguala e ocupa espaços que sempre deveria ter ocupado, e essa mudança da mulher, forçará, inevitavelmente, a mudança dos homens, inclusive, quanto aos governos e direcionamentos da vida em sociedade.
Homens e mulheres nasceram para, sob a luz dos refletores, externarem seu amor, e aos frutos dele decorrentes, nossos filhos queridos, sem medos, sem inseguranças, pois a verdadeira autoridade, seja feminina ou masculina, em família ou não, está revestida da aura do amor, na vivência das emoções fortes, visto que só por elas, faz-se compensador viver.
Este artigo foi publicado na revista Escola de Pais do Brasil – Seccional Santos – outubro de 1997, p. 11-13.
Heloisa Maria e Carlos Augusto Pereira – Casal Coordenador da Escola de Pais de Santos
Excelente conteúdo e explanação