Reportagens têm mostrado os jovens, em baladas, fazendo uso pesado de bebidas alcoólicas e, com a maior naturalidade, ao saírem da festa pilotando suas máquinas, dando caronas e com a bebida “ rolando” no interior dos veículos.
Além de acidentes e mortes de trânsito, o consumo de álcool e outras drogas está implicado em quase todos os problemas comportamentais e de saúde da juventude, aí incluídos agressões sexuais, desempenho prejudicado na escola e no trabalho, doenças de transmissão sexual, vandalismo e brigas.
As conseqüências prejudiciais de beber aumentam proporcionalmente à quantidade de álcool consumido, levando-se em conta a natureza biopsicossocial do jovem.
Mesmo com a prevalência disseminada do uso do álcool por estudantes, sobretudo universitários, e a freqüência com que consomem bebidas alcoólicas, muitos jovens bebem pesadamente e de maneira prejudicial, conforme pesquisas realizadas no país.
Realizamos o primeiro levantamento no meio universitário, em Campo Grande(MS) para uso de álcool e outras substâncias psicoativas, com dados significativos , sendo também o álcool a droga de maior consumo: uso na vida 92,69%; uso no ano da pesquisa: 86,30% e no mês : 44,15%. São números expressivos e ambos os sexos fazem uso sem diferença estatisticamente significativa, sabendo-se da maior fragilidade da mulher no uso de qualquer droga. Aproximadamente 10% da população pesquisada já fazem uso pesado (vinte vezes ou mais ao mês) de álcool, com risco de dependência, já instalada a tolerância .
A epidemiologista Kaye Fillmore (1988) observou que os jovens estão em situação de maiores riscos de problemas de álcool aos 20 anos de idade e que, nos anos seguintes, dois terços dos bebedores problemáticos “ amadurecem” e abandonam o padrão de ingestão pesada, mesmo sem nenhum tratamento. É questionável e sujeito às culturas regionais, porque relatos da nossa pesquisa, mostram que não houve diferença significativa entre a faixa etária e o consumo de álcool, tanto na vida, no ano e no mês. Isso demonstra o uso praticamente idêntico de 17-19 anos, 20-24 anos, 25-29 anos e 30 anos ou mais. Leva-se ainda em conta os fatores individuais, sociais, biológicos e psicológicos de cada indivíduo, sabendo-se do comprometimento genético para o alcoolismo, na predisposição ao uso/abuso. O problema é que, nesse rito de passagem , antes da vida adulta, que para muitos vai além dos 30 anos de idade(adolescência prolongada), os bebedores são indivíduos vulneráveis, sujeitos a muitos fatores de risco e acidentes de percurso, até que abandonem esse padrão de uso pesado.
A Escola (em todos os níveis de ensino) pode e deve ajudar os estudantes a atravessarem, em segurança, esse período de risco do seu desenvolvimento, através de programas de prevenção. Intervenções amplas que atinjam todo o campus e que impliquem numa gerência do ambiente, como por exemplo, patrocinar eventos e festas sem bebidas alcoólicas; proibir toda e qualquer droga no ambiente escolar, sob penalização; integrar a educação preventiva sobre o álcool e outras drogas, com a participação efetiva de todo o corpo docente e colaboradores.
O uso de drogas e álcool pelos jovens é visto como grito de socorro dos problemas sociais e pessoais, complexos e abrangentes, como pressões, frustrações, mercado de trabalho, distúrbios emocionais, relacionais, incentivados pelo modismo, uma dinâmica familiar desarmônica, propagandas sedutoras e o próprio grupo social. Isso requer a intervenção com mecanismos de proteção nas condições sociais que facilitam o hábito de uso, estimulando o espírito crítico dos adolescentes e jovens com relação ao meio ambiente motivador ao uso de qualquer substância psicoativa, desde o álcool, energizantes, medicamentos sem controle médico, anabolizantes, etc.
É preciso discutir aberta e cientificamente sobre as drogas, através de disciplina em sua área de conhecimento, para que os jovens possam ter um referencial, um senso crítico e tomar suas próprias decisões. Acima de tudo, está o exemplo da família e dos educadores, com hábitos saudáveis e vivendo valores na coerência entre o falar e o agir.
Os jovens precisam participar mais de atividades de cooperação e solidariedade entre eles, no exercício da responsabilidade social e da fraternidade, se envolvendo em projetos e voluntariado. Fugir do ócio, é uma boa estratégia de proteção.
FATORES DE RISCO
A influência dos colegas é o fator de risco mais comum entre jovens vulneráveis, para o uso de álcool e outras substâncias psicoativas , se colocando como quebra-gelo e enturmação. Vários estudos demonstram que as pessoas escolhem associar-se a semelhantes cujos estilos de vida se parecem com os seus. Estudos concluem que o comportamento de beber é reforçado negativamente em adolescentes cujos pais bebem excessivamente.
Outros fatores que predispõem ao uso incluem uma história de personalidade com transtornos de conduta, buscando sensações fortes, impulsividade e incapacidade para tolerar frustrações. Ainda podemos dizer, como reforço ao seu uso, que o álcool pode ser obtido facilmente e consumido abertamente.
FATORES DE PROTEÇÃO
São muitos os fatores de proteção na família, na escola, na comunidade e no próprio indivíduo. A Revista Ciência e Saúde Coletiva (2004-9) entrevistou jovens para identificar fatores de proteção no uso de drogas, com a participação na faixa etária de 16 a 24 anos, de ambos os sexos e de nível sócio-econômico mais simples. Foram divididos em dois grupos: os que fizeram uso pesado e os que nunca usaram nenhum tipo de drogas.
O fator de proteção mais significante foi a família por oferecer apoio, proteção e amor, sendo citada por 25 dos 32 jovens não-usuários e por 21 dos 30 usuários entrevistados.
Outro fator de proteção em destaque pelos entrevistados foi a religião, citada a sua importância por 24 jovens não-usuários e por 15 consumidores de drogas. Quanto à religiosidade, os que não fazem uso dizem que ela impede o início do consumo e, por sua vez, os usuários de drogas afirmam que a religiosidade é uma importante forma de se prevenir. O uso e o abuso de substâncias psicoativas podem ser evitados pelos jovens mesmo em ambientes caracterizados por fatores de risco, como já visto em favelas e arredores onde o tráfico “dita as regras”.
Importante destacar que esta prevenção pode ser facilitada pela presença de valores familiares na vida do jovem, ou seja princípios e aspectos de grande valia que parecem influenciar o não-uso de drogas.
A religião, além de se colocar por ela mesa, como fator preventivo e protetor importante, é também considerada na estruturação da família, sendo responsável pela humanização da pessoa, auxiliando-a na construção da sua personalidade.
Estes dois fatores de proteção são endossados pelo levantamento realizado em todo o país, em 2003, entre estudantes do ensino médio e fundamental, sendo relatados como proteção o bom relacionamento com os pais e a prática de uma religião, como fortes barreiras na defesa das crianças e adolescentes ao uso de drogas.
Estes dados trazem a esperança de uma sociedade melhor, através de uma vida saudável, crítica e resiliente aos desafios e fatores de risco que o meio ambiente pode oferecer. E a família é peça fundamental nessa construção de qualidade de vida, desenvolvimento e paz na comunidade.
Publicado no site:
http://www.escoladepais.org.br/secao.php?cod=232
Helena D. Gasparini – Professora Universitária – Bióloga – Mestre em Psicologia– Especialista em Prevenção/Tratamento sobre Drogas –
e-mail: hgasparini@uol.com.br
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