As férias escolares chegaram ao fim, e a preocupação dos pais volta à tona. Sem compromissos agendados nas férias, as crianças e os adolescentes dormiam em horários não regulares. Como reorganizar os horários do sono a tempo de não interferir negativamente na vida escolar e nos compromissos extraclasse?
Uma pesquisa da Universidade do Minho confirma que a presença de aparelhos multimídia no quarto é um dos fatores que mais retardam a hora de deitar e a principal causa das “noites mal dormidas” apontadas pelas crianças com idades entre os nove e os 17 anos que participaram do estudo. Mais de meio milhão de crianças foram avaliadas e 72% dos menores dormem entre sete a nove horas diárias. O ideal seria entre nove e dez horas. As horas de sono são “interrompidas” pelo toque, ou pela luz dos smartphones quando recebem mensagens, perturbando o ciclo do sono. Os estudantes ainda procuram assistir a filmes e jogos durante a noite sem que os pais percebam, interferindo no tempo disponível para descansar.
Outro estudo realizado por investigadores da Universidade de Pitsburg encontrou relação entre as dificuldades em dormir e o uso das redes sociais. Segundo a pesquisa, publicada na revista científica Preventive Medicine, os jovens utilizam as redes sociais regularmente e durante muito tempo dormem menos e têm mais dificuldades em adormecer. Os investigadores entrevistaram 1778 pessoas entre os 19 e os 32 anos, nos Estados Unidos, e tentaram encontrar um padrão nos seus hábitos de sono. Alertaram, no entanto, que não foi possível saber se as pessoas usavam mais as redes sociais porque não conseguiam dormir, ou se dormiam mal porque passavam tanto tempo nas redes sociais. As duas hipóteses podem estar corretas, porque a dificuldade para adormecer pode levar a um aumento do uso das redes sociais, o que, por sua vez, causa dificuldade para adormecer. A relação de causa e efeito ainda não foi totalmente compreendida, mas já foram percebidos os efeitos para a saúde: “um ciclo problemático”.
Além do que se comprova a cada dia, na relação não saudável com o uso frequente dos eletrônicos e o sono, segundo alguns estudos, atrasar o alarme do despertador, cinco ou dez minutos, pode ter efeitos negativos, pois cria a “inércia do sono”. Dormir “mais um pouquinho” não é adequado diante da necessidade de acordar para os compromissos do dia. Quando se está em dia com o sono, o normal é despertar espontaneamente. A Dra. Teresa Paiva, especialista em Medicina do Sono em Portugal, desaconselha o uso do despertador e, principalmente, o hábito de retardar o despertar com alarmes em sequência. “Mais 20 minutos de sono são fantásticos e deve-se dormir o máximo possível, mas quando é para acordar é para acordar mesmo. Se não acorda é porque não dorme o suficiente, ou tem algum problema de sono”, explica a especialista.
Diante de tantas pesquisas e de inúmeros motivos para que se tenha um sono de qualidade, está aí a oportunidade de se reorganizarem os hábitos de sono frente a mais um ano de calendário escolar. Estabelecer limites e regras é um grande desafio para os pais e o grande caminho para um sono Saudável Familiar.
Publicado na Revista Vida, p. 22.
Dra. Clarissa Delpizzo Castagno – CREMERS 29554 – Otorrinolaringologista e Médica do Sono pela Associação Médica Brasileira. Médica responsável pelo Instituto do Sono de Pelotas. clarissa@institutodosonodepelotas.com.br
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