A família é o principal agente da socialização e reproduz padrões culturais no indivíduo. Sua forma de funcionamento abrange as relações hierárquicas estabelecidas com relação ao poder, às relações afetivas, à organização e ao desempenho dos papéis familiares. Os seus membros, que se mantêm unidos por laços legais, econômicos e religiosos, encontram-se vinculados por sentimentos psicológicos como o amor, o afeto e o respeito.
Atualmente há muitas crises que afetam as relações sociais, atingindo principalmente a vida familiar. As pessoas estão cada vez mais se isolando: não há diálogo, não há entendimento, não há toque físico. Homens e mulheres necessitam se preencher pelo incessante servir um ao outro, mas na prática o que se observa são relacionamentos egocêntricos, até mesmo no âmbito familiar, cada um vivendo em sua própria solidão.
O modernismo impõe a prática de atitudes que fragmentam o caráter do homem atual, provocando um conflito interno. O meio ambiente em que a família está vivendo corresponde a uma conjugação inquietante entre a fragilidade e a insegurança.
A quebra de tabus, a legalização do divórcio, as conquistas das mulheres e seu crescimento profissional, aliados ao desenvolvimento industrial e à globalização, trouxeram uma competição pessoal que às vezes acontece dentro das próprias famílias, podendo determinar o fim de relacionamentos de anos.
Assim, no século XXI, a família está sozinha e fragmentada, e, como consequência, o que se vê é uma sociedade com cidadãos violentos, drogados, destruidores do próprio meio, ou seja, inimigos de si mesmos.
Este processo de fragmentação e deterioração das famílias atuais leva ao surgimento de um novo tipo de família: a família informal, que se baseia em uma infinidade de tipos de relações.
É importante ressaltar que a família ainda não é uma instituição falida, apenas está passando por uma fase crítica de mudanças de valores, que infelizmente tem repercutido de forma negativa na vida das futuras gerações.
A fragmentação familiar é percebida a cada instante. Pais vivendo na ilusão de que dando o bom e o melhor aos filhos farão deles homens de honra. O psicólogo inglês Steve Biddulph comenta que “esta é a geração mais abandonada de todos os tempos. Não basta dar comida, presentes e sentar na frente da televisão, esperando que o filho tenha comportamento exemplar”.
Os pais de hoje estão inseguros e com medo de não educarem bem os seus filhos. “Tempo curto”: esse é um dos principais males do século XXI. A vida nos cobra o tempo todo o “agir’ e não nos deixa espaço e tempo para “ser”. Neste sentido, muitos pais estão se desvirtuando da missão, para se concentrar apenas na ação: ganhar dinheiro para dar conforto aos filhos cada vez mais insaciáveis. Não há culpado, mas é preciso considerar a dinâmica familiar de relações onde esses filhos constroem seu caráter. Todas as histórias de luta do passado envolvendo a família têm como prólogo seres gerenciadores de lares com o rigor da disciplina. Tornaram seus rebentos seres que valorizam tudo e todos. Hoje encontramos pais imaturos com filhos extremamente egocentrados fulminando seus genitores.
Destacar apenas o aspecto da fragmentação dos objetivos individuais dentro da família contemporânea não é suficiente para caracterizar o complexo mosaico que permeia essa instituição. Contudo, abre-se, assim, uma janela para vislumbrar um horizonte mais amplo da realidade familiar estendendo a visão para além de uma avaliação também fragmentada.
As famílias precisam de membros corajosos, e ousados o suficiente, para abrir suas mentes e dizer: O que é necessário para manter um casamento e filhos saudáveis e felizes?
Muito já foi dito sobre a importância da estrutura familiar para a construção da identidade e personalidade. É a relação íntima entre pais e filhos que leva à sintonia e à construção dos valores. É, portanto, da maior importância poder crescer tendo referências predominantes de bons modelos, assim como é da maior importância a vivência das experiências afetivas.
Como esperar que os pais tenham tranquilidade para construir a solidez dos valores, assim como a serenidade necessária para repassar as experiências, enfim, para dar uma boa estrutura familiar?
Muitos filhos, hoje, sofrem múltiplas privações, abandono, negligência, exposição à violência, por fim, grande sofrimento e aí nutrem tristeza, medo, raiva. Passam a fazer das suas relações uma forma de válvula de escape do seu sofrimento. Isso tudo acrescido de outros fatores como escolaridade baixa, a não inserção social e profissional, racismo, alcoolismo, drogas, acesso às armas, enfim, todos estes fatores têm como resultado a delinquência, a criminalidade, etc. Uma produção em série!
Claro que as causas dos comportamentos desviantes são multifatoriais, mas o que parece mais importante é o reflexo que a desigualdade social provoca no relacionamento familiar.
É de suma importância ressaltar que os membros de uma família devem promover objetivos comuns, trabalhar em harmonia uns com os outros, devem proteger uns aos outros de ataques e perigos. Um lar onde há abundância de sabedoria, amor, tolerância, diálogo e cooperação, os conflitos serão “sufocados”, ou seja, transformados em oportunidades de mudanças significativas. Mas é possível afirmar que a vida é feita de escolhas e consequências, cabe a cada um responsabilizar-se por suas próprias decisões.
O enfraquecimento dos vínculos familiares, isto é, a desestrutura nas relações familiares sujeitas à pobreza socioeconômica é fator, embora não exclusivo, propulsor da criminalidade.
A ação educativa precisa chegar antes. Precisa haver intervenção terapêutica em tempo, para recuperação. E não está acontecendo a ação educativa significativa. Não está acontecendo a intervenção terapêutica. E isso parece não ser problema de ninguém.
As medidas que levam a diminuir as desigualdades, como as medidas de proteção social, são elementos essenciais para todos, pois quanto mais igualitária a sociedade mais pacífica ela será.
Inês Pastore Baldissera e Antonio Cláudio Baldissera. Casal Representante Nacional da Escola de Pais do Brasil para o Estado de Santa Catarina – RN.
Artigo pulicado na Revista Escola de Pais do Brasil Seccional de Chapecó nº 24/2018, p. 11 e 12.
Referências
BUENO, Cleuza.
Dez. 2008.
COUTINHO, Maria Veramoni de Araújo
www.educ.org.br/…/115-consequencias-do-enfraquecimento-dos-vinculos-familiares.
Abr. 2017.
34º CONGRESSO NACIONAL DA ESCOLA DE PAIS DO BRASIL. Família, Construção e Reconstrução.
São Paulo: Marco Markovitch, 1998.
40º CONGRESSO NACIONAL DA ESCOLA DE PAIS DO BRASIL. A Convivência Familiar e os Ambientes Externos. Anais. São Paulo: Marco Markovitch, 2004.
48º CONGRESSO NACIONAL DA ESCOLA DE PAIS DO BRASIL. A Família Administrando seus Desafios.
São Paulo: Marco Markovitch, 2012.
Santana, jane Mary Souza. Metodologia da Educação Superior-FBB // Gestar-IAT Função: Professora e Psicanalista Portal Educação – PEDAGOGIA – 20/06/2012.
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