Pensar na autonomia, independência e, portanto êxito dos filhos é refletir sobre a conduta e maturidade dos pais. Queremos filhos com sucesso, mas como somos nós?
Os nossos filhos nos refletem, são os nossos frutos! Nós somos como árvores, que daremos bons frutos caso delas cuidarmos. Adubar, arar e podar são ações que fazem parte da boa agricultura! A equivalência ocorre na educação dos nossos filhos a fim de gerarmos o sucesso que tanto almejamos.
A autonomia liga-se a maturidade, aos conceitos do nosso dia a dia que elaboramos com coerência e autenticidade.
Fala-nos Jean Paul Sartre que ser livre é saber fazer escolhas responsáveis. E diz-nos também que a nossa responsabilidade é imensa porque nos tornamos aquilo que decidirmos ser! Temos responsabilidade por nossas escolhas? Isto é, respondemos pelas situações que criamos? E nos tornamos fiéis a partir das decisões que tomamos?
São perguntas importantes para a reflexão que fazemos em torno deste tema!
Queremos que alguém nos dê soluções e receitas para atingirmos o alvo acertado com os nossos filhos. Mas existem soluções mágicas? Os livros de auto-ajuda funcionam sempre? Falando em livros, temos tantos livros que começamos e nunca terminamos a sua leitura, tantos livros em nossa estante! Na verdade temos muita teoria, boas intenções e pouca vivência!
Irei mencionar neste artigo alguns estudos pertinentes de colegas psicólogos, mas as soluções e as receitas têm que ser descobertas por nós, no âmago do nosso ser, num processo de interiorização contínua onde os sentimentos devem ter um lugar de destaque sobre a razão. Devem sair, portanto, do nosso interior, do nosso sentir, fruto das nossas experiências intimas e dos riscos que corremos pelas nossas decisões.
Neste sentido, fala-nos Herman Hesse no livro DEMIAN que: “Aquele que não descobrir por si só o que é permitido e o que é proibido para sua vida, acaba por se submeter às permissões e proibições vigentes”.
A vida é nossa com os valores que constituímos e disso não podemos abrir mão, sob pena de estarmos falindo como pais! Então, educar para a autonomia tem um percurso que se inicia dentro de nós! E o meditar reflexivo sobre nosso cotidiano, pode nos ajudar e muito! A psicoterapia e a orientação familiar também estão neste caminho.
Estamos nós pais conquistando a nossa autonomia? Se estivermos, já começamos a educar os nossos filhos nesse objetivo, explorando a autonomia desde os primeiros anos de vida dos nossos filhos, que consiste em não fazer por eles aquilo que eles já têm condição de fazer. Ou seja, não devemos superprotegê-los, ignorando as condições, o potencial que eles possuem.
Estimulá-los a serem independentes, a terem crítica sobre suas ações, é prepará-los para a sua vida pessoal e para enfrentar o mundo atual, altamente competitivo! Mas sem esquecer que a solidariedade e a generosidade, também advêm desta independência, desta autonomia, enfim desta maturidade.
Com relação ao amadurecimento dos nossos filhos, muitos estudos psicológicos foram realizados, mostrando quantas situações precisam ser mudadas, e quantos valores necessitam ser reavaliados a fim de atingirmos este objetivo.
Nesse sentido, os estudos experimentais do Dr. John Kennell da Universidade de Cleveland e do Dr. Marshall Klaus da Universidade da Califórnia ( Revista No 3 – Vol.19 -4/1998 – Pediatrics in Review – “Vínculo Entre Pais e Filhos” – mostram que a forma de nascer e as primeiras horas após o nascimento são importantes na formação dos vínculos e como consequência na segurança emocional da criança e do futuro adulto.
Complementam esta visão, os experimentos psicológicos da Universidade de Columbia (Nova York), primeiro através do Dr. René Spitz na década de 60 e mais recentemente (1997 ) através de uma equipe de psicólogos que concluíram que a estimulação afetivo-social entre o nascer e o 3o ano de vida por parte das pessoas envolvidas emocionalmente com a criança, ( pais e avós, principalmente ) é fundamental no desenvolvimento da maturidade das crianças. Contesta-se, portanto, a iniciação precoce das crianças através de babás ou de creches e berçários.
Por outro lado, o psicólogo Dr. David Mc Clelland da Universidade de Harvard, através dos seus estudos “Motivo de Realização”, alerta-nos que o Desenvolvimento da Autonomia, da autorrealização vai ocorrer dos 3 aos 7 anos e que os pais têm uma função primordial na transmissão de valores, valores estes, como expressei inicialmente neste artigo, que antes de mais nada, precisam ser vivenciados por nós pais no nosso dia a dia.
A verdade vivenciada será a verdade que tem força para ser transmitida, colocando em evidência que o “Faça o que eu faço e não o que eu digo” contradiz o adágio popular “Faça o que eu digo e não o que eu faço”.
O convite à reflexão e à mudança está lançado! Há muito que fazer individualmente e institucionalmente! A empreitada é grande e exige de nós uma mobilização a fim de transformarmos a nossa realidade familiar e social criando a possibilidade de educarmos os nossos filhos rumo à felicidade desejada.
Arlindo Salgueiro e Ana Maria Bittar Salgueiro – são Psicólogos Clínicos e fundadores da Escola de Pais do Brasil – Seccional de Santos
Olá !
Gostaria de saber mais sobre AUTONOMIA. Acredito ser uma mãe que esteja errando na criação dos meus filhos (12 e 14 anos), e gostaria de mudar a partir de agora. Como fazê-lo? Tenho receio de não saber onde termina o limite e começa a autonomia. Havia algum material de leitura ? Moro em Florianópolis. Grata.