A FAMÍLIA, A SOCIEDADE E O ADOLESCENTE

Conhecer a adolescência para compreender melhor o filho e lutar pela harmonia da família numa sociedade que gera desarmonia é tarefa dos pais na missão de educar.

             PAI: seu filho parece surdo às suas ordens, esquecido, desorganizado, desobediente, agressivo? Não se importa com os valores da família, da religião, do lar? A comunicação parece não produzir efeito e há mais ruído do que som? A casa parece um campo minado com explosões em todas as partes? Isso é sinal da adolescência.

            FILHO: Teus pais não te compreendem? Querem tudo no lugar certo e na hora certa? Querem dirigir a tua vida e até o teu pensamento? Não enxergam os teus acertos e apontam somente os erros? A comunicação está impossível? Eles não aceitam as tuas ideias? Não te conhecem? Isso é sinal de que você está crescendo.

            Assim vivem muitas famílias – em pleno clima de guerra. Os pais não compreendem como aquela criança sempre tão obediente, amável e companheira; agora responde, contesta e briga. Por outro lado, os filhos também não compreendem porque aqueles ídolos e heróis que eram seus pais, agora possuem defeitos e fragilidades  comuns da natureza humana.

            As divergências entre pais e filhos sempre existiram e são necessárias para a evolução da humanidade e do próprio ser humano, pois o desenvolvimento humano é composto por diversas fases permeadas por conflitos que fazem avançar de uma fase para outra.  Os conflitos são os propulsores do desenvolvimento, segundo WALLON (1995). Na adolescência, há um rompimento com a tranqüilidade afetiva da fase anterior. A nova inquietação coloca exigências racionais às relações afetivas. O “eu” volta a adquirir importância fundamental com necessidade de uma nova definição dos contornos da personalidade. No plano intelectual, supera o mundo das coisas para atingir o mundo das leis, principalmente, questões de justiça. É comum ouvir do adolescente: isso não é justo!  Quando criança, os conflitos são resolvidos com pequenos gestos como: orientação, paciência, carinho, amor, brinquedos, doces, conversa ou punição. Quando adolescente, os conflitos são maiores e, portanto, maiores devem ser as doses de orientação, paciência, carinho, amor, lazer, conversa, negociação  ou punição.

            Os estágios do desenvolvimento humano assinalam uma oscilação entre pólos opostos: ora mais voltados para a realidade interior (EU), ora mais voltados para a realidade exterior (MUNDO), ou seja, a relação EU – MUNDO. Na adolescência, há uma fusão  entre os dois pólos e o indivíduo costuma  questionar-se “quem sou eu no mundo?”  “de onde vim?” “para onde vou?” (crise que muitas vezes pode resultar em suicídio). É na busca da afirmação do EU que o adolescente passa a apresentar um comportamento tão diferente do infantil. Precisa enfrentar o “outro” para afirmar o “eu”.  Essas alternâncias seguem pela vida adulta com menos intensidade, mas reaparecem por volta dos quarenta anos na chamada segunda adolescência. Isso explica, mas não justifica,  tantos casos de separação, infidelidade e comportamentos avessos ao costume.

            A construção da pessoa é um processo condenado ao inacabamento e persistirá sempre, dentro de cada um. DANTAS (1992). Começa pela simbiose fetal (portanto social), com destino a individualização, porém não há nada mais social do que o processo através do qual o indivíduo se singulariza, constrói a sua unicidade. Isto quer dizer que a construção do EU precisa do OUTRO, em princípio da família,  mais tarde dos amigos e da sociedade.

            Com toda complexidade do desenvolvimento psíquico da adolescência, sem falar do desenvolvimento físico e  cientes da importância do social na construção do individual, vale salientar que a nossa sociedade  não dá oportunidade de participação para o adolescente e ainda: o encara como  alvo do consumismo, estimula-o para  o sexo livre e irresponsável, empurra-o para as drogas,  dá exemplos de falta de ética,  promove  a malandragem e uma série de  outras atitudes que fazem aumentar  os  conflitos entre pais e filhos que querem se educar.  Além disso, o mundo moderno exige inteligência, rapidez, boa forma, determinação, conhecimento de inglês, informática, expressão oral, decisão para escolher a profissão diante de um leque de opções, etc. Se tudo isso pesa para o adulto, imagine para aquele ser em transição que ainda não possui a estrutura do pensamento adulto, mas também não pode pensar e agir como criança.

            Pai, antes de criticar e rotular o seu filho, procure compreender e conhecer o  mundo interior e exterior dele.

            Filho, antes de criticar e rotular seus pais, procure compreendê-los e saber que eles também podem estar passando pela segunda adolescência e enfrentando o mundo com uma desvantagem: estão caminhando para a velhice.

            Assim, a família baseada na compreensão, diálogo, carinho, amor têm condições de resolver seus conflitos e amadurecer, podendo atravessar as adolescências  com explosões de alegria e paz.  A harmonia é possível em todas as fases.

 Referências:

WALLON, H. A evolução psicológica  da criança. Lisboa: edições 70, 1995.

DANTAS, H. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In. LA TAYLE, Y et all. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias paicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

 Publicado na Revista nº 3 – 2003 – Escola de Pais – Seccional de Timbó             

Teresinha Bunn Besen – Mestre em Educação, Professora da FURB e Membro da Escola de Pais – Timbó

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