Nestas últimas décadas estão ocorrendo grandes mudanças no Brasil, no cenário econômico, político, social e cultural. Todos os sistemas estão tendo que se readequar às novas exigências promovidas pela evolução da humanidade. Em especial, a educação da família contemporânea também está passando por mudanças bastante significativas, onde o amor, o diálogo e os limites passam a ser as variáveis mais importantes nesse processo.
Nesse contexto surge o questionamento aos pais de como fazer a educação da família contemporânea. É uma tarefa possível aos Pais na atualidade? Ou seja, como preparar uma criança para enfrentar o mundo e suas próprias dificuldades?
Não há dúvida alguma de que os desafios estão cada vez maiores, tornando-se a educação uma tarefa extremamente difícil de ser desempenhada. De qual forma estão sendo ensinados os conteúdos, valores e limites, que vão determinar o rumo para a vida da criança, com reflexos diretos ao seu futuro. De acordo com cada região são desenvolvidos costumes, tradições e hábitos sociais que são ensinados e transmitidos às crianças desde sua primeira infância e continuam sendo estruturados nas demais fases da vida. O objetivo desse artigo consiste em realizar uma análise teórica sobre a educação familiar contemporânea, levando em consideração os aspectos relacionados com o amor, o diálogo e os limites.
- Construção da educação familiar contemporânea
Seguindo nessa analogia, um dos aspectos mais importantes nesse contexto refere-se à preparação do casal para a chegada de um bebê e passar a constituir um projeto de família, que exigirá diversas mudanças na vida dos pais. Quando os pais possuírem uma preparação adequada para assumir esse novo ciclo de vida, encontrarão menos dificuldades no processo de educação familiar e relacionamento social. Haja vista que, agora, os pais terão que definir qual o projeto de educação que será oferecido ao filho (s). Quando não há essa preparação adequada, torna-se necessário o ajustamento do casal para a educação dos filhos, através de reflexões periódicas dos erros e acertos, dos comportamentos e das opiniões que estão desempenhando em relação ao outro, e uma avaliação deste contexto na direção dos filhos.
Muitos aspectos estão relacionados diretamente ou indiretamente na construção da educação familiar contemporânea, porém destacaremos nesse texto apenas os três principais: amor, diálogo e limites.
- a) Amor: Torna-se fundamental a presença do amor incondicional dos país para com os filhos, sem perder os valores e os ensinamentos essenciais para as diferentes fases da vida. É preciso acolher as crianças em suas emoções e ajudá-las a entender o que estão sentindo, especialmente as crianças pequenas, que têm uma racionalidade limitada e uma emocionalidade muito grande.
- b) Diálogo: Deve ser constante entre pais e filhos, para permitir a construção do processo educacional com bases sólidas. Os filhos precisam experimentar as suas emoções, quer sejam as vistas como negativas (frustrações, raiva, tristeza, etc.) quer sejam as positivas (conquistas, alegria, amor, etc.). Dessa forma, estaremos contribuindo para que as crianças cresçam com mais autoestima, autoconfiança, empatia e resiliência. Quando esses aspectos são vivenciados pelos filhos, contribuirão na formação de crianças mais felizes e, por sequência, um adulto íntegro com plenas capacidades de viver dignamente na sociedade.
- c) Limites: Não menos importantes que os demais, porém talvez os mais difíceis de serem estabelecidos. É necessário o conhecimento dos limites pelos filhos em qualquer fase do desenvolvimento da vida, ou seja, precisam ser razoáveis e adequados além de terem uma finalidade pré-estabelecida. Torna-se necessário fazer uma reflexão adequada sobre todos os aspectos envolvidos durante a construção dos limites no processo de educação, e no desenvolvimento da criança. Ou seja, é imprescindível pensar nos limites como fronteiras para atender os desejos ou necessidades dos filhos e, também, nos limites como obstáculos a serem transpostos em direção à sua maturidade.
De forma geral, salienta-se que tais limites, só podem ser transmitidos para uma criança se os próprios pais os possuírem. Quando isto acontece, a criança é ajudada a desistir das polaridades relativas à impotência/onipotência, e aprende a negociar com as regras que são impostas na vida cotidiana.
- Dimensões dos limites no processo educacional
Devido à relevância do tema que os limites representam na atualidade, optamos como forma de facilitar o entendimento e aplicação no dia a dia, a sistematização em três dimensões educacionais:
- a) Primeira: Consiste na forma de transpor limites, onde estes podem remeter a ideia do que pode ou não ser praticado. Isso nos traz uma ideia de fronteira, de linha que separa dois ou mais territórios. Haja vista que muitas vezes a criança extrapola os limites em busca de crescimento, no entanto não podemos confundir isso e deixar de educar impondo-lhe os limites necessários para o desenvolvimento do processo cognitivo e emocional.
- b) Segunda: Considera-se a forma de respeitar os limites, evidenciando aquilo que é permitido e o que é proibido, nos remete a ideia de que a fronteira não deve ser transposta e a demarcação de um domínio não deve ser invadida. Nessa analogia, devemos ter cuidado para não impor excessos de limites visando maturidade e excelência que poderão limitar a busca da autonomia.
- c) Terceira: Refere-se à forma de imposição dos limites direcionados à preservação pessoal de intimidade e segredo. Considera-se a invasão da intimidade através de gestos casuais como, por exemplo, a exposição nas tecnologias como portas abertas da própria pessoa em sua casa.
Considerações Finais
A partir destas informações realizadas acima, podemos verificar que o processo de educação familiar não é uma tarefa simples de ser realizada nos padrões sociais atuais com a vida moderna e agitada dos pais. Portanto, torna-se fundamental para a obtenção do sucesso educacional dos filhos diversos aspectos, iniciando-se pela preparação do casal, passando pela construção do amor e diálogo para finalizar com os limites nas diferentes fases da vida.
Durante todo esse processo é fundamental que os pais tenham encontros verdadeiros com seus filhos, independente do tempo de duração, para conhecê-los o suficiente, para orientá-los de forma adequada no que for preciso. Sugere-se também que os casais não aceitem as dificuldades do dia a dia no processo educacional de seus filhos, mas, sim, que busquem ajuda para elaborarem o seu melhor projeto para a criança, visando sua melhor preparação para o futuro profissional e familiar.
Por fim, salienta-se a importância da reflexão contínua do casal sobre o que fazer, como fazer e quando fazer, para que essas situações difíceis sejam revertidas e para que os pais possam continuar mantendo um padrão satisfatório de cumplicidade e consigam educar os filhos sem perder a própria identidade. Não podemos deixar de enfatizar que o mundo que estamos construindo será constituído de indivíduos mais ou menos semelhantes àqueles que estamos criando.
REFERÊNCIAS
TIBA, Içami. Família de alta performance: conceitos contemporâneos na educação. São Paulo: Integrare, 2009.
ZAGURY, Tania .Os direitos dos pais: construindo cidadãos em tempo de crise. Rio de Janeiro: Record, 2004.
CASTELLO, Ana Lúcia Gomes, A desconstrução e reconstrução dos modelos parentais intergeracionais através do sociodrama construtivista. Dissertação (Mestrado) PUC/SP, São Paulo, 2006.
Anna Claudia Bringhenti Ozelame – Psicóloga, CRP 12..3.663. E-mail: jazclaudia@ibest.com
Odimar Ozelame – Engenheiro Agrônomo M Sc. E-mail: ozelame@hotmail.com
Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional de Chapecó, nº 24/2018, p. 21-23.
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