A construção da esperança pelo diálogo

Winston Churchill, ao aceitar o desafio de assumir o cargo como Primeiro Ministro Britânico, em 1940, tinha consciência da real situação político-econômica de seu país. Em seu discurso de posse, buscou demonstrar a necessidade de um pacto social, o qual lideraria. “Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor. Temos perante nós, uma dura provação. Temos perante nós, muitos e longos meses de luta e sofrimento”.

Após esse difícil momento de instabilidade e sem condições de prever o futuro do país, Churchill adicionou à sua liderança um importante componente: a esperança!

ESPERANÇA NA CRISE

A crise pode ser vista sob duas perspectivas: a primeira, pela desesperança, derrota e depressão; a segunda, pela oportunidade de descobrir novas possibilidades e abrir a mente com pensamentos criativos e construtivos. Crise não deve ser sinônimo de destruição, mas sim de transformação, quando cada problema pode ser encarado como uma solução que ainda não aconteceu, ou pode ser considerado um desafio a ser vencido. É a dupla face da realidade: crise e oportunidade.

As crises são inerentes à vida e quando surgem nos desestabilizam porque entramos em contato com nossos medos, inseguranças e preocupações. Nesse momento, somos sinalizados de que algo em nós se desagregou para que possamos reunir de uma nova forma. Friedrich Hölderlin, poeta lírico e romancista alemão, afirma que “…Onde existe o perigo, cresce também a salvação”.

O futuro não é certo nem é dado, mas incerto e construído. Portanto, devemos ter a sabedoria de fazer das incertezas, um meio de não nos desanimarmos, mas uma via para construirmos o amanhã, conscientes dos problemas já superados e dos novos desafios a serem vividos.

A esperança é a única coisa que nos faz resistir à crueldade do mundo e dos homens. “Há certos dias em que acordo com uma esperança demencial, momento em que sinto que as possibilidades de uma vida mais humana estão ao alcance de nossas mãos. Hoje é um desses dias” (Ernesto Sabato). “Quem pensa em construir o futuro, deve ser movido pelo coração, pelo amor e pelo princípio esperança”. (Ernest Bloch).

A esperança é a mola-mestra, a força que move todo o processo histórico e está associada ao comprometimento, à responsabilidade, ao sonho, ao desejo e ao amor. A busca de uma força interior, espiritual, nos fortalece e encoraja para enfrentarmos o desconhecido. Ter esperança é possuir a força de sorrir, quando tudo à nossa volta parece ruir. A responsabilidade de amadurecer na esperança é de cada pessoa e não pode ser delegada.

ESTUDIOSOS DA ESPERANÇA

Charles R. Snyder, psicólogo norte-americano, após concluir sua pesquisa com idosos, pacientes de depressão, mas que foram ensinados a pensar com esperança, observou que estes se mostravam mais agradáveis e mais propensos a experimentar a alegria. Por estarem sendo treinados na esperança, passaram a dar mais importância ao lado positivo das coisas e a rir de si próprios e dos outros.

Segundo Anthony Scioli, professor de psicologia norte-americano e estudioso desse assunto há mais de duas décadas, “a esperança é uma emoção extremamente importante, uma habilidade que pode ser adquirida e que se autoperpetua”. Pessoas esperançosas revelam-se mais propensas à resiliência, são confiantes, abertas e motivadas. Têm mais autoestima, cuidam melhor do seu corpo e têm maior tolerância à dor. Assim, tendem a receber mais do mundo, o qual dá motivos para ficarem mais otimistas. A esperança dá suporte às relações humanas, proporciona um objetivo e um significado à existência e delineia nossas possibilidades de saúde e de prolongamento da vida. Scioli vê na esperança uma forte dimensão espiritual, estando associada a virtudes como paciência, gratidão, caridade e fé.

Sem a crença não há esperança, sem esperança não há sonhos e sem sonhos, o ser humano se torna mais e mais desumano.

A ESPERANÇA PELO DIÁLOGO

O escritor e biólogo moçambicano, Mia Couto (Antônio Emílio Leite Couto), aponta para um dos grandes paradoxos da modernidade: “Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação e nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada e nunca nos visitamos tão pouco”. Fomos separados por aquilo que deveria nos unir: a comunicação, o diálogo e o entendimento.

A tarefa de construir o bem comum passa pelo diálogo, que é a capacidade humana de se dirigir ao outro nas diferenças e oposições. Só o diálogo constrói entendimentos que levam à compreensão das mudanças e transformações tão velozes neste tempo. Dialogar é o caminho da permanente construção da vida social, familiar e individual. O diálogo amplo e permanente tem força para fazer a vida resplandecer com toda a sua potencialidade.

A promoção da dignidade depende da competência dialogal, sendo necessário resgatar a capacidade humana de falar e ouvir, reconhecendo o outro como semelhante, caminho rumo à autêntica força construtiva, a partir do diálogo. “Para dialogar, é preciso reconhecer a igualdade entre as pessoas, a partir do respeito às singularidades e esse princípio permite a difícil conjugação das diferenças e da liberdade de escolha, o que é direito de cada um, sem comprometer a busca por entendimento. Um caminho a ser trilhado para que a pluralidade de perspectivas e opiniões se tornem riquezas, com resultados benéficos para todos” (Dom Valmor Oliveira de Azevedo – Arcebispo Metropolitano de Belo-Horizonte).

O Papa Francisco alerta para a necessidade de “humanizar a educação”, de educar as novas gerações de modo cristão e abertas ao diálogo para construir pontes e encontrar novas respostas aos muitos desafios do nosso tempo. Diz ainda que a educação deve saber “semear a esperança”. Outra expectativa do Papa é a de aumentar a “cultura do diálogo”.

As instituições católicas de educação estão sendo chamadas a praticar o diálogo diante das diversidades culturais e religiosas. “O diálogo, de fato, educa quando a pessoa se relaciona com respeito, estima, sinceridade de escuta e se expressa com autenticidade, sem ofuscar ou diminuir a própria identidade, nutrida pela inspiração evangélica”.

A Bíblia nos fala que a esperança é uma das três virtudes teologais. “Assim, permanecem agora estas três: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor” (1Cor 13,13). A esperança está relacionada com a fé. “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Heb 11,1).

A esperança é uma força poderosa e quem tem Deus no coração, tem alegria, não teme o futuro, é paciente, sabe que as coisas vão acontecer, consegue enfrentar os problemas, encontra forças nas dificuldades, muda sua vida, segue confiante e sai vitorioso e abençoado. O homem pode ser resistente às palavras, forte nas argumentações, mas não sobrevive sem esperança. Enquanto vivermos haverá desafios, mas com coragem vamos enfrentá-los e vencer. “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo”. (Jo 16,33).

Nos momentos difíceis será preciso enxergar a ação de Deus nos acontecimentos, ter forças para orar e ver além dos nossos sentimentos feridos. Deus acredita em nosso potencial e continua ao nosso lado esperando uma chance para mudar nossa vida. “Sei muito bem do projeto que tenho em relação a vós, oráculo do Senhor! É um projeto de felicidade, não de sofrimento: dar-vos um futuro, uma esperança”. (Jer 29,11).

CITAÇÕES SOBRE A ESPERANÇA

* Carlos Drumond de Andrade, em seu poema “A Flor e a Náusea”, revela que essa flor que furou o asfalto, rompeu o tédio, superou o nojo e venceu o ódio, através da sua “força de ser”, faz com que o impossível se torne possível. Esta flor é a possibilidade de que nasceu num lugar aparentemente impossível. É uma resposta à desilusão: “nasceu como a esperança que engendrará uma nova mentalidade”.

* Segundo Ernesto Sabato, escritor argentino, “se a mentalidade do homem mudar, o perigo que vivemos será paradoxalmente uma esperança”.

* “A esperança tem cor, cheiro e peso por ser vital, encarnada. A encarnação da esperança é a incapacidade de desistir” (Mário Sérgio Cortella).

* Jacqueline Kelen, escritora francesa, afirma: “O ser humano começa quando se entrega ao exercício do sonho, do desejo e da esperança, quando se consagra à beleza e se oferece como montaria ao amor”

REFERÊNCIAS

“O que Significa Esperança”, https://www. significados.com.br/esperanca/

Fonseca, Ailton Siqueira. “Crise e esperança”. Revista HOLOS (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Ano 32. Vol. 7, 2016.

Azevedo, Walmor Oliveira de (Arcebispo Metropolitano de Belo-Horizonte) “Vida entre Diálogos”. Artigo, 25/01/2019, http://www.cnbb.org. br/206745-2/

“Educação Católica Humanizada”. Artigo, http:// diocesedeitapetininga.org.br/educacao-catolicahumanizada-com-dialogo-e-esperanca-contribuia-missao-da-igreja/

Catequese do Papa Francisco sobre a esperança. Postado em 07 de dezembro de 2016, http://www. diocesedebraganca.com.br/noticias/1369/textocatequese-do-papa-francisco-sobre-a-esperanca

 

Maria Izabel Passos Imbiriba, pedagoga, 17 anos na EPB/Seccional de Salvador – BA. Junto com seu esposo, Casal DR/BA-1

Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – 56º Congresso Nacional – 2019, p. 14-16.

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