A medicina tem sido fonte de diversos modismos de forma semelhante à indústria da beleza. A cada dia, surge um novo exame, uma nova dieta, um novo remédio… Todos prometendo mudar a sua vida e resolver seus problemas. Se ontem fazia bem comer carne, hoje já não faz mais. Se antigamente era receitado às xarope, biotônico fontoura, água inglesa, hoje isso é condenável pelos médicos. Se o raio X diagnosticava suas doenças, agora é necessária a caríssima ressonância magnética. Neste processo de conturbada evolução, os conhecimentos herdados por gerações anteriores são menosprezados e esquecidos e, muitas vezes, adotam-se práticas absurdas que um dia serão também ridicularizadas. O aleitamento materno e o parto normal são dois grandes exemplos da interferência da moda sobre a medicina.
Há poucas décadas, assistiu-se ao assassinato do aleitamento materno. Logo após o parto, as mamas eram enfaixadas e eram dados remédios às mulheres para inibir a lactação. O leite materno era considerado fraco, ineficiente, fora de moda. Chique era alimentar o seu bebê com latas e latas de leite em pó, nem que isso custasse o salário de toda a família. A ausência de aleitamento gerou um aumento tão grande na mortalidade infantil, diarréia, infecções, obesidade e alergia que a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma campanha incentivando o aleitamento e proibindo propagandas sobre o leite em pó. Os estudos atuais comprovam que crianças amamentadas no peito têm bom ganho de peso, menos doenças, melhor estabilidade emocional e desenvolvimento intelectual. A ocitocina, hormônio liberado durante a amamentação favorece a tranquilidade, conforto e vínculo mãe-bebê. Para o bebê, a amamentação contribui para o apego, ou seja, a busca da proximidade com a mãe que lhe transmite segurança e acalento. Além disso, o leite é limpo, grátis e está sempre disponível na temperatura certa. E se não é o suficiente para convencer as mães, amamentar ainda previne o câncer de mama, hemorragia pós-parto e ajuda a emagrecer os quilos acumulados durante a gravidez.
O parto normal foi outra vítima dos modismos. Numa epidemia de cesáreas, a mulher foi julgada incapaz para o parto normal. O corpo feminino foi visto como defeituoso e as dores do parto, intoleráveis. Chique passou a ser cesariana com dia marcado. Junto com a nova prática antinatural vieram os problemas. A cesárea traz mais risco de hemorragia e infecção à mãe, com mortalidade materna 2,8 vezes maior que a do parto normal. A recuperação é muito mais lenta. A mãe deixa de ser ativa no parto e passa a ser apenas paciente. Além disso, como a data do parto é estipulada pelo médico, há muito mais riscos de partos prematuros por erros de cálculo. Hoje, o Brasil ainda é um dos campeões em cesáreas e ainda está distante de alcançar as metas da OMS.
O conhecimento científico está em contínua transformação e é inegável os avanços que a medicina tem alcançado. Neste caminho, muitos erros poderão ser cometidos e alguns só descobriremos no futuro. Até lá, em quem acreditar? Quem devemos seguir? A ciência ou o a sabedoria de gerações?
É fácil… basta usar o bom senso.
Publicado na Revista nº 1 – 2009 – Escola de Pais – Seccional de Biguaçu
Aline Besen – Acadêmica de Medicina UFSC
Sou mãe! Tenho 29 anos, meu bebê tem 9 meses, optei por parto normal por achar mais saudável, acho que quem faz cesária: (escolhe por uma data) quer ser mãe pela metade e não quer sentir a dor da natureza.