Vida conjugal na idade madura

Mais uma vez estamos escrevendo uma mensagem para a revista da Escola de Pais de Biguaçu. Importante a sugestão de seus dirigentes acerca do tema para debate: “Vida conjugal na idade madura”. Desta feita, me propus a uma manifestação diferente, eis que a natureza do assunto me parece familiar.

Começo a escrever dia 16 de abril de 2015, às 08:00 horas, junto ao leito do apartamento 209 do Hospital de Caridade, em Florianópolis, onde minha esposa se recupera de uma cirurgia da tiróide. Ela está muito bem neste momento. Tenho 57 anos e ela 56. Namoramos 09 anos e estamos há 33 casados. Temos dois filhos, de 29 e 32 anos. Somos muito felizes e realizados.

Desculpem a ousadia de apresentar minha condição pessoal, mas o tema, como visto, não poderia estar melhor relacionado com o que acabo de descrever.

Muito se tem falado sobre casamento, separações, divórcios, e poucos exemplos se tem dado sobre casamentos duradouros e felizes, isto é, com alegria e harmonia no cotidiano. Existem algumas fórmulas do tipo dez dicas e outras mais, entretanto, uma pesquisa científica realizada nos Estados Unidos chama à atenção. Trata-se de um trabalho realizado por um casal de psicólogos, John e Julie Gottman. Eles montaram o que chamaram de “Laboratório do Amor” com 130 casais.  Cada casal passou um dia dentro do laboratório executando as tarefas comuns do dia a dia tais como, comer, cozinhar, limpar etc., enquanto eram observados pelos psicólogos. De acordo com a medida de seus relacionamentos, os cientistas os dividiram em dois grupos, os quais denominaram “casais mestres” e “casais desastres”.  Depois de 06 anos, os casais foram novamente chamados pelos psicólogos. Os “mestres” continuavam juntos e felizes. Os “desastres” não estavam mais casados ou continuavam juntos, mas infelizes.

As conclusões do estudo apontam para dois fatores fundamentais para que a relação seja duradoura: generosidade e bondade. Eu acrescentaria um fator que não pode ser dispensado em qualquer relação humana e se torna ainda mais importante dentro do ambiente familiar: a presença constante de Deus no nosso dia a dia que se consubstancia na essência do verdadeiro amor.

O casal que cultiva a espiritualidade torna a relação entre os cônjuges e com os filhos mais serena, onde o amor, o perdão, a compreensão e a ajuda mútua acabam fazendo parte da rotina. Um por todos, todos por um. A presença de Deus deve ser inserida nas pessoas antes mesmo de virem ao mundo, por intermédio de orações dos pais, quando o filho ainda se encontra no ventre materno. Eis aí a construção de uma estrutura imbatível.

A par desses fatores, imprescindível “regar a plantinha do relacionamento”. Sair um pouco da rotina, reconhecer uma atitude, elogiar, dar valor aos pequenos gestos, retribuir as gentilezas, tocar, abraçar, beijar. Lembrar de datas importantes, dar um presente, mesmo que simples. Sorrir, contar anedotas, ser solidário num momento de doença etc.

Evitar alguns monstrinhos que, às vezes insistem em querer dominar os indivíduos e consequentemente, as instituições, como a família. Exemplo: disputar quem é melhor, falar de coisas desagradáveis, lembrar de situações tristes ou de limitações que, porventura, o outro possa ter, reclamar de coisas banais etc.

Viver em equilíbrio com o compromisso ético que é fator indispensável na convivência. Como manifesta Edgar Morin: “O ato Ético é um ato de religação: com o outro, com os seus, com a comunidade, e uma inserção na religação cósmica”.

Enfim, mesmo que a vida, às vezes, apresente uma face hostil, a bem da convivência e da harmonia, o exercício da superação e uma boa dose da tolerância são requisitos para administrar a crise e seguir em frente.

Mesmo que o tema faça referência à vida conjugal na idade madura, a análise, aqui descrita sobre os fatores que podem contribuir para um casamento duradouro, é fórmula que serve de exercício diário aos recém-casados.

Para arrematar, destaca-se mais uma frase de Edgar Morin: “O amor é poesia. Um amor nascente inunda o mundo de poesia, um amor duradouro irriga de poesia a vida cotidiana…”.

Mário Cezar Simas – Coordenador do Programa Droga Zero em Biguaçu.

Artigo publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional da Grande Florianópolis nº 6, junho de 2015, p. 23.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*