Depois de muito meditar sobre o assunto, concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos tipo tênis e há os casamentos tipo frescobol. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa; os do tipo tênis são um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário, e sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar… o frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário, porque não há ninguém a ser derrotado.
A bola são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá…
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada…
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo como bolha de sabão… Já no frescobol, é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem, cresce o amor. Ninguém ganha, para que os dois ganhem. E se deseja que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim…
ALVES, Rubem. Retorno e Terno. São Paulo: Ed. Papirus.
Publicado na Revista nº 3 – 2003, da Escola de Pais – Seccional de Timbó
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