Encontramos no livro Sagrado, em Eclesiastes (3: 1 a 12), assim: “Para tudo ha um momento e tempo para cada coisa sob o céu: tempo de dar à luz e tempo de morrer… tempo de destruir e de construir… tempo de abraçar e tempo de evitar o abraço…” O tempo ligado à vida que “sem licença nos convida a rir ou chorar”, e nos desafia a validar o nosso propósito de sermos cristãos, impares e especiais.
No decorrer dessa nossa trajetória idealizamos os sonhos e lançamos sobre eles a esperança da concretude. Um desses sonhos é a formação da família e a sua extensão com nossos filhos, que repetirão de forma diferenciada o ciclo de construir e reconstruir ideais. Nenhum de nós deseja que esses que representam a nossa continuidade sejam “diferentes”. Sonhamos com o olhar, com o primeiro sorriso, com os passos desgovernados, com a mãozinha pequenina, com o ser que contara as conversas e risadas vivenciadas no lar com a sua família perpetuando, assim, a nossa raiz.
No entanto, no tempo de dar à luz, se nos dizem que algo naquela criança merece uma atenção especial, nosso mundo perde o colorido: perdemos as forças. Abalam-se as estruturas dos sonhos. Durante essa tempestade de insegurança, revolta, mal estar e violação com a situação, o tempo é de calar. Calar para encontrar no silêncio mais singelo, não as razões para o fato, mas as finalidade e possibilidades de resgate de nossos valores centrais e reais que justificam ser Família. A família que neste instante vive o tempo de morrer. Tempo sagrado, porque sabe que das cinzas surgirão a paciência e a perseverança tão necessárias para caminhar e encaminhar este ser que nos foi confiado.
No ínterim do tempo de abraçar e tempo de evitar abraço, sentimo-nos envolvidos num novo processo de reorganizar, rever e resgatar nosso interior, nossos sonhos e descobrimos que “quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados, e quando vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa feri-vos […] pois, o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações, com esse conhecimento, vos convertais no pão, místico do banquete divino”. (Kalil Gibran)
Retomando as nossas direções na reconstrução do nosso dia a dia com o verdadeiro Amor, encontraremos o olhar esperado, a mãozinha que acaricia e os braços que pedem nossos afagos, nos passos desgovernados encontraremos a firmeza dos nossos e as conversas existirão mais engraçadas e personalizadas. Teremos a certeza que com o tempo cada qual envolvido neste processo de construção de si mesmo, para estar com o outro, saberá “que não há nada melhor para o homem que alegrar-se e fazer o que é bom na vida”.
Publicado na Revista nº 1 – 2009 – Escola de Pais – Seccional de Biguaçu
Sheila Guimarães de Oliveira – Psicopedagoga – Publicado na revista da EP de Varginha – MG
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