Sem preconceito

Ao educarmos nossos filhos, muitas vezes, acabamos transmitindo mensagens preconceituosas. Esta maneira não recomendada de educação acaba se perpetuando na nossa sociedade. Observamos, também, que a sociedade não está se empenhando verdadeiramente para eliminar o preconceito. Às vezes, ele é praticado sem que o agente tenha conhecimento de que a sua atitude é preconceituosa.

 Preconceito é uma opinião ou conceito equivocado, formado antecipadamente, sem o devido conhecimento dos fatos. Também pode ser uma ideia preconcebida, um julgamento ou uma opinião sem levar em conta as circunstâncias do fato envolvido. Em algumas circunstâncias, levantamos suspeitas, somos intolerantes, demonstramos ódio irracional ou aversão a outras raças, religiões, países. Um dos mais nefastos é o preconceito racial quando nos denominamos de seres humanos.

 É importante salientar que o preconceito não nasce com a gente, não é uma herança genética. É uma herança cultural que passa de pai para filho e tem sua origem dentro de casa, na família. Está aí mais um desafio para os pais: superarem seus próprios preconceitos para se tornarem exemplos aos seus filhos, fazendo do lar um ambiente propício para o exercício da convivência entre diferentes.

 O preconceito pode ser: racial, religioso, contra os índios, contra as mulheres, contras as pessoas idosas, gordas, magras, contra os jovens, contra as crianças, origem geográfica, grau de escolarização, situação socioeconômica, em relação à forma de falar, à forma de escrever, contra pessoas com deficiência, opção sexual, contra o homem rural. O preconceito está tão intrínseco na vida das pessoas que se revela até na fala.

Se observarmos o conteúdo das piadas, em sua maioria, transmitem mensagens preconceituosas. Com a primeira visita do Presidente dos Estados Unidos ao Brasil, em março de 2011, alguns meios de comunicação praticaram duas discriminações numa única imagem quando destacaram que era o encontro do primeiro presidente ‘negro’, americano e a primeira presidente ‘mulher’, brasileira. No campeonato mundial de fórmula 1, alguns jornalistas também destacaram que Lewis Hamilton era o primeiro piloto ‘negro’, campeão mundial da fórmula 1, em 2008. Os destaques ‘negro’ e ‘mulher’ denotam conteúdo discriminatório, pois se fossem branco e homem não teriam esse destaque. Nosso ex-presidente Lula também sofreu discriminação e preconceitos vários, pelo seu grau de instrução, linguagem, pela sua origem geográfica ser de Garanhuns – PE e também o preconceito socioeconômico pela sua profissão de torneiro mecânico. 

 Atualmente, observamos um crescente despertar de diversas produções acadêmicas sobre o tema. Estamos tomando conhecimento de diversas ações judiciais para punir aqueles que praticam deliberadamente atitudes preconceituosas. Além disso, algumas empresas estão sendo orientadas para substituir o nome do produto uma vez que ele transmite mensagem de preconceito. No entanto, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para eliminarmos o preconceito, todas as formas de discriminação e todas as injustiças sociais, na nossa sociedade.

 O ambiente escolar é uma oportunidade para a discussão sobre preconceitos e injustiças sociais, mas nem sempre os debates acontecem. Na opinião de especialistas, alguns livros didáticos reproduzem conteúdo preconceituoso e discriminatório, merecendo, portanto, uma revisão.

 Para Marcos Bagno, estudioso do fenômeno linguístico, “os preconceitos, como bem sabemos, impregnam-se de tal maneira na mentalidade das pessoas que as atitudes preconceituosas se tornam parte integrante do nosso próprio modo de ser e de estar no mundo. É necessário um trabalho lento, contínuo e profundo de conscientização para que se comece a desmascarar os mecanismos perversos que compõem a mitologia do preconceito. E o tipo mais trágico de preconceito não é aquele exercido por uma pessoa em relação à outra, mas o preconceito que uma pessoa exerce contra si mesma. Infelizmente, ainda existem muitas mulheres que se consideram ‘inferiores’ aos homens; existem negros que acreditam que seu lugar é mesmo de subserviência em relação aos brancos; existem homossexuais convictos de que sofrem de uma ‘doença’ que pode, inclusive, ser curada…”

 O desafio pela busca da eliminação de todas as formas de preconceito e discriminação é mais uma contribuição para a paz e felicidade de humanidade.

 Referência

 BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. Ed. Loyola, 1999.

 

Este artigo foi publicado na Revista nº 3, p. 33, da Escola de Pais – Biguaçu – junho de 2011.

 Brani Besen – Membro da Escola de Pais –  Biguaçu, Coordenador Regional da Escola de Pais para a região Litoral de SC.

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