Puberdade Precoce

A puberdade e sua precocidade tem sido assunto de permanentes estudos por parte de especialistas e educadores, pois é um tema de preocupação constante de pais e sociedade, onde todos se perguntam quais os motivos que arrancam as crianças da infância, levando-as a atravessar essa fase da vida, cada vez em mais tenra idade.

Muito já se descobriu. Sabe-se que alimentos cada vez mais industrializados, com inúmeros complementos e conservantes, assim como a comida e a vida fast food tem sua parcela de contribuição, pois a tônica da pressa dá a tônica da vida.

 Todos temos pressa para que os filhos deixem as fraldas, cresçam, que sejam rapidamente alfabetizados, que se tornem mais independentes, que participem de inúmeras atividades extrafamiliares e extracurriculares, tudo em nome da desenfreada pressa de se estabelecer e se destacar na família, na escola e nos demais grupos sociais.

O máximo é ser diferente, precoce, fazer coisas não esperadas e não habituais para a idade. Assim a criança é experta, ativa, inteligente, um homenzinho, uma mocinha.

 Na cabeça fantasiosa de uma criança, se ela já é um homenzinho ou uma mocinha, poderá desenvolver atividades e atitudes compatíveis com esse conceito. Poderá até ser dono do próprio nariz e definir o que quer e quando quer. Poderá dormir poucas horas e somente de madrugada, navegar na internet ilimitadamente, freqüentar sites impróprios, assistir filmes que bem entender. Afinal são prerrogativas de um homenzinho e de uma mocinha.

Outro ponto que considero relevante e presencio com relativa freqüência são pais que, na busca de aproximar-se dos pequenos, logo perguntam às crianças se possuem namorado/a. Ora, se um adulto faz essa pergunta, a criança entende que seria natural e até esperado que ela tivesse um namorado/a. Então, na tentativa de não frustrar os adultos e pela motivação oriunda desse tipo de observação, a criança exige dela mesma um comportamento e vocabulário não compatível com a sua idade.

Além disso, outro aspecto que merece atenção são as músicas veiculadas nos meios de comunicação de massa, associadas a coreografias com apelos sensuais e sexuais, bem como a vestimenta infantil cada vez mais seguindo a moda usada por adultos que acaba por descaracterizar a infância passando a ser mais importante que o conforto e o prazer de brincar livremente. A brincadeira em que a criança se solta, se suja e extravasa a energia própria da idade passou a ser permitida apenas nos comerciais de sabão em pó.

Ademais nossas crianças são cobradas, como os adultos, por constante boa aparência, restringindo as oportunidades de vivenciar experiências e momentos de descontração e de lazer que lhes são peculiar.

A escola também precisa fazer uma reflexão sobre o assunto e sobre os reflexos da sua atuação. O ingresso de alunos com idade diferente num mesmo ambiente escolar, acaba antecipando a adolescência das crianças menores por mera repetição, admiração ou mesmo por buscarem referência comportamental nos colegas maiores, objetivando aceitação e novos desafios em situações fora do núcleo e contexto familiar, por eles já dominado. Vivem a adolescência em função dos outros e não porque a idade cronológica ou a maturidade lhes ensinaram novos conceitos. A situação é agravada pelo método de ensino que utiliza a reprovação, penalizando crianças com a permanência num mesmo nível de ensino, obrigando-as a conviver com colegas de interesses e idades distintas, infantilizando os maiores, fazendo-os sentirem-se desprestigiados e ridicularizados e, por outro lado, submetendo os menores a assuntos, conteúdos e situações para as quais não estão preparados e não possuem a maturidade requerida. Dessa forma, desagradam os maiores e prejudicam o curso natural da infância dos menores.      

Além da aceitação por parte da escola, contribui para o problema, a falta de visão de muitos pais que, na ansiedade e na tentativa de oportunizar um diferencial, submetem os filhos cada dia mais precocemente a ambientes inadequados à idade, entendendo estar oferecendo um aprendizado importante para a vida futura. Esquecem que a criança tem e precisa de tempo para amadurecer, para viver e ultrapassar cada etapa da vida. E essa vivência, a experiência de cada uma dessas etapas é que proporciona a aprendizagem, a maturidade e a tranquilidade para o enfrentamento das questões naturais da vida.

É preciso que pais e educadores tenham sempre em mente que os métodos e os conceitos de educação e de ensino são dinâmicos e essa dinamicidade pode ser assimilada no decorrer de toda a vida, mas todos temos uma única oportunidade de viver a infância. E que viver uma infância tranquila e feliz aumenta a possibilidade do convívio com um adulto educado, equilibrado e feliz.

 

Este artigo foi publicado na Revista nº 3, p. 38, da Escola de Pais – Biguaçu – junho de 2011.

 Anir Fedrigo Klingelfu – Assistente Social.

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