Primeiras relações afetivas

Na vida de cada um de nós, grande parte da alegria e da tristeza, gira em torno de relacionamentos afetivos. Alguns são especiais, principalmente aqueles que se forma com os filhos, o pai e a mãe.

Muito da riqueza e da beleza da vida, provém, em grande parte, destes relacionamentos íntimos.

As emoções surgem durante a formação, manutenção, ruptura e renovação dos vínculos afetivos. Por isso, muitas vezes são chamados de vínculos emocionais.

Quando este vínculo se mantém sem ameaças é uma fonte de energia.

As características do processo de formação dos vínculos não são precisas, nem uniformes e advém dos primeiros contatos e das primeiras trocas que se processam entre mãe, pai e filho… e que se chama “apego”.

Por isso, por mais que a tecnologia avance, as necessidades humanas serão sempre as mesmas: afeto, segurança, carinho, toque aconchego, acalento, colo… e ainda não inventaram, ninguém melhor do que o pai e a mãe para suprir estas necessidades.

O amor dos pais é o alimento mais rico e especial que um filho pode ter para uma vida saudável e ser feliz.

As primeiras relações afetivas são a base da estrutura emocional dos seres humanos.

Toda ciência que procure compreender o comportamento humano recai numa questão:

“Por que o ser humano estabelece vínculos afetivos e emocionais?”

Porque estas experiências – Nascimento, Namoro, Casamento, Escola, Empresa, Grupo Social, Separação, Migração, Doença e Morte – caracterizam todo o movimento no ciclo vital, tanto individual, quanto familiar.

Para reflexão:

– Quando começam as primeiras relações humanas?

– A importância das relações afetivas.

– Os momentos marcantes da nossa vida.

– A concepção – o nascimento – e a infância.

– As atitudes dos pais importantes para a criação do vínculo afetivo.

– As marcas do afeto.

– A formação e a evolução do afeto.

– O vínculo recíproco.

– A amamentação.

– O aconchego.

– O vínculo simbiótico.

 

Cada um destes tópicos demanda uma análise detalhada e minuciosa, podendo ser discutida com muita propriedade e experiência dos circulistas e enriquecer mais, os círculos da Escola de Pais.

O início dos estudos das Primeiras Relações Afetivas – de Freud – (psicanalista austríaco) Artigo: “Instintos e suas Vicissitudes” (1915) a criança tem:

– Necessidades fisiológicas – que precisam ser satisfeitas.

– Interesse em uma figura humana.

– A mãe é a fonte de satisfação do bebê.

 John Bowlby – 1969 – psicanalista inglês descreveu a importância das primeiras relações afetivas para o desenvolvimento sadio, formulando a teoria do apego, desde o nascimento até os 6 anos de idade.

O VÍNCULO COMO UMA NECESSIDADE BÁSICA E VITAL DO SER HUMANO

Winnicott – 1963 – descreveu o desenvolvimento emocional primitivo em termos da jornada da dependência à independência e a surpreendente capacidade da mãe identificar-s com o seu bebê constituindo com ele uma unidade.

O vínculo afetivo é a formação do relacionamento entre mãe pai e bebê e deste em relação aos seus pais. Processo fundamental e contínuo, imprescindível para a sobrevivência e o bem-estar do bebê. A constituição do vínculo não é um processo instantâneo, instintivo ou automático, pois demanda amor, tempo e compreensão.

FATORES FACILITADORES NA FORMAÇÃO DE VÍNCULOS

– Relações familiares.

– Interpessoais dos pais.

– Pessoais dos pais.

– Situação vivida pelo casal.

– Gravidez planejada,desejada ou aceita.

– Antes/durante e pós-gestação.

– Nascimento/parto humanizado.

– Alojamento conjunto/amamentação.

A criança, para se desenvolver, precisa criar vínculos com quem a acolhe e supre suas necessidades, sendo estas:

– BIOLÓGICAS: fisiológicas – alimentação-higiene-calor.

– EMOCIONAIS: afeto-segurança-proteção.

– PSICOLÓGICAS: bem estar – saúde mental.

– SOCIAIS: de associação- participação e de aceitação.

Muito explicada pela Teoria de Maslow, das necessidades humanas, a formação do vínculo é essencial na consolidação do relacionamento entre os pais e o filho, na estruturação da personalidade, no desenvolvimento dos processos cognitivo e afetivo da criança e terá repercussões por toda a vida de todos envolvidos.

A formação do vínculo entre mãe/bebê inicia-se no ambiente intrauterino. Trata-se de um processo de comunicação tão complexo quanto sutil, é uma troca íntima e profunda, é de importância vital para o bebê e determina um desenvolvimento saudável. Ele precisa se sentir desejado, seguro e amado e precisa de tempo para crescer.

Os momentos marcantes da nossa vida são: a concepção, o nascimento e a infância.

A concepção é um momento mágico do início de uma nova vida.

A gestação é um sonho que se está realizando, o amor do casal frutificou em um novo ser. É o próprio desabrochar do coração dos pais!

A mulher tem nove meses para executar a maior das criações… o próprio filho.

Cada detalhe é fundamental! A natureza realiza o maio dos milagres … a própria vida.

No fim do segundo trimestre da gestação, o bebê sente e sabe que existe, cerca de 2% das pessoas conseguem lembrar cenas do nascimento ou de ou de estar na incubadora, experiência muito forte, confirmando que os sentidos se desenvolvem a partir do quarto mês de gestação.

Vamos refletir:

– Como pais, o que será que representou o momento da notícia da gravidez e a gestação?

Qual a importância de participar destes momentos?

Para todo pai ou mãe existem três bebês diferentes no momento do nascimento:

A criança imaginária… De seus sonhos e fantasias.

O feto invisível, mas real… cujos ritmos e personalidade se foram fazendo cada vez mais evidentes no decorrer da gravidez.

O recém-nascido de fato… que pode ser ouvido, visto e por fim pego nos braços.

 

AS VIAS DE COMUNICAÇÃO:

Relação de troca que terminam as ligações sólidas:

– Fisiológica: interação fisiológica – Afeta mãe – afeta bebê.

– Empática: bebê capta as emoções maternas.

– Comportamental: o feto reage com ponta-pés.

 

O bebê é um ser emocional, intelectual e fisicamente muito capacitado.

Estudos do psiquismo pré-natal revelam o surpreendente mundo uterino que o bebê vive. É possível hoje estudar o bebê no útero. Seu aprendizado se faz pelos sentidos. “É capaz de rudimentarmente entender os sentimentos e pensamentos da mãe.” (Melanie Klein).

 

O NASCIMENTO:

O recém-nascido é pura emoção, sente tudo ao mesmo tempo, e intensamente.

Nasce, assim, “o dono do mundo”. Reinaugura-se a vida humana.

Há quem diga que: “uma parte do nosso corpo, continua sempre a encarar o mundo com os olhos do recém-nascido, que um dia fomos”.

– O nascimento: o bebê chegou, e com ele todas as esperanças e desejos idealizados pelos pais.

– Vem sem “manual de instruções”.

– Precisamos aprender como ele “funciona”.

– Ficamos perdidos porque o choro e a inquietação são as únicas formas de expressão.

– A linguagem é o “mamãenhes”.

– O pediatra é chamado de: “mecânico de crianças”.

 

“Aquele que tenta descrever um bebê, logo descobre estar descrevendo o bebê e mais alguém… Pois um bebê nunca existe sozinho, mas é essencialmente um dos termos de uma relação.” (Winnicott, 1987).

“O bebê só existe porque existe a mãe.” ( Freud, 1915)

 

A MÃE

A mãe é a linguagem do afeto:

– É capaz de compreender o seu filho;

– Vinculo afetivo mãe-bebê é a ligado à redução dos impulsos biológicos;

– A mãe é associada ao prazer;

– À redução da dor e do desconforto;

– Às necessidades alimentares;

– À atividade compensadora;

– Surpreendente capacidade de identificação;

– Auxilia-o a integrar-se;

– Constitui com ele uma unidade.

 

As necessidades de afeto e segurança são satisfeitas por meio da presença, da interação e do apego da mãe.

A mãe é imprescindível para:

– Redução das tensões;

– Satisfação das necessidades físicas do filho;

– Ser para o filho modelo de mãe mulher e esposa;

– Apresenta o filho ao pai, que o apresenta ao mundo;

– Aceita e ama cada filho como ele é;

– A mãe é um importante modelo de identificação para o filho;

– A mãe deve facilitar a separação lenta e gradual dos filhos;

– Estimula o desenvolvimento psicoemocional dos filhos.

 

Winnicott: “O primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe, o seu olhar, sorriso e suas expressões faciais.”

 

O PAI

O pai quebra o vínculo simbiótico e amplia o mundo da criança.

– Equilibra as relações entre mãe e filho.

– Dá condições para a criança perceber-se como ser autônomo.

– Introduz a criança no mundo do conhecimento.

– Introduz a criança no mundo da autoridade.

– É modelo de masculinidade e de paternidade.

 

O que será que nossos filhos… registram de nós – pais?

Elementos importantes para o desenvolvimento afetivo dos nossos filhos:

– Amar realmente o filho;

– Aceitação incondicional do filho;

– Respeitar e preservar o seu espaço e limites;

– Atender as suas necessidades básicas;

– Atenção contínua e dosada compreendendo também as suas limitações;

– Ter tempo para curtir esta fase, que não volta mais;

– Ambiente familiar com harmonia;

– Importância do ambiente escolar.

 

Formar vínculos afetivos consistentes para que a criança possa interagir,apegar-se e se ligar: presença concreta de um ser humano. Constância e continuidade na presença de quem atende a criança.

A importância do contato corporal – o toque.

E,

Não esqueçamos jamais que…

– Só uma vez nosso filho terá 3 anos e… estará doido para sentar em nosso colo;

– Só uma vez terá 5 anos e quererá brincar conosco;

– Só uma vez terá 10 anos e desejará estar conosco no nosso trabalho;

– Só uma vez será adolescente e verá em nós um amigo com quem conversar;

– Só uma vez estará na universidade e quererá trocar idéia conosco;

– “Se perdermos essas oportunidades, perderemos nosso filho.”

 

Referências

Pais brilhantes – Professores fascinantes. Augusto Cury – psiquiatra.  A educação dos nossos sonhos: formando jovens felizes e inteligentes, 14ª. ed. Editora Sextante – RJ.

Pais e filhos, Companheiros de viagem. Roberto Shinyashiki. Ed. Gente, 1992, SP.

O amor dos pais é o alimento mais rico e especial que um filho pode ter. É por elçe e com ele que aqueles bebês se tornam adultos conscientes.

Limites sem traumas – construindo cidadãos. Tânia Zagury. Ed. Record, 69. Ed. 2005, RJ.

Ensina objetivamente como, quando e por que dizer “não” aos filhos. E também como, quando e por que dizer “sim” aos filhos.

A fórmula da Felicidade. Stefan Klein. Ed. Sextante, 2005, RJ.

Ao contrário do que se pensava, as recentes descobertas da neurociência provaram que o cérebro continua a se desenvolver na idade adulta, o que nos permite treinar para sermos felizes, não importa em que fase da vida estamos, quanto dinheiro possuímos, nosso estado civil e nem se temos ou não filhos.

Disciplina – O limite na medida certa. Içami Tiba. Ed. Integrare.

A juventude não está perdida, mas sem limites.

Os pais precisam amadurecer para educar os filhos.

A família não pode ser um provedor que deixa o filho fazer tudo que quer.

Na fase que os pais deveriam exigir alguma coisa, eles querem continuar dando.

Não adianta terceirizar a educação. Também não adianta punir ou castigar, pois é um método vertical. É preciso mais do que nunca conversar.

Diálogo não é conseguir que meu filho faça o que eu quero, mas, sim construir.

Hoje a vigilância dos pais, em muitas situações, não adianta, pois a vigilância precisa estar muito mais dentro do próprio jovem.

O homem é um ser inteligente e criativo que pode mudar o rumo da história.

A vida secreta da criança antes de nascer. Dr. Thomas Vemy, 1993.

Ao contrário do que se pensava, o feto não é um ser passivo: ele não só reage a estímulos externos, como participa dos estados emocionais da mãe, por mais sutis que sejam.

Inteligência Emocional. Daniel Goleman. Ed. Objetiva, 1997.

A arte de educar nossos filhos.

As primeiras relações. T. Berry Braselton. Ed. Martins Fontes, 1992.

Conhecimentos atuais sobre os recém-nascidos e as investigações psicanalíticas sobre as emoções e as fantasias dos pais.

O manual do grávido. Cláudio Csillag e Humberto Sacomandi. Publifolha.

Tocar – O significado humano da pele. Summus editorial, 1986.

Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. T. Berry Brazelton. Ed. Martins Fontes, 1994.

Como educar meu filho? Rosely Sayão, Publifolha, 2003.

 O desenvolvimento da criança e do adolescente. Michael Cole e Sheila R. Cole, Ed. Artmed, 2004.

Este artigo foi publicado nos Anais do 47º Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil, realizado em São Pulo nos dias 03 a 05/06/2010.

Jean Khater Filho – Pediatra – Membro do Conselho de Educadores da Escola de Pais do Brasil.

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