Por que os jovens banalizam o sexo

Se alguém perguntar se as portas do diálogo entre você e seus filhos estão abertas para todo tipo de assunto, você certamente dirá que sim. Então ouso afirmar que, provavelmente, eles não têm mais de dez anos de idade. E por que afirmo isso? Porque os pais ainda são vítimas de alguns preconceitos já ultrapassados.

Vamos então estabelecer um novo conceito básico: sexualidade não é algo que desabrocha, mas que nasce com a gente. Essa compreensão pode evitar a ideia de que com crianças não se fala em sexo, embora o surgimento dos primeiros sinais da adolescência desencadeie nos pais uma onda de papo aberto 24 horas por dia. Isso seria ótimo, se fosse a continuidade de uma intimidade que, desde há muito, esteve presente no lar, vivida cotidianamente.

Invertendo as prioridades

Infelizmente, nem sempre a sexualidade é o enfoque principal na educação dos filhos. Em geral, procura-se responder com muita brevidade aquelas perguntas constrangedoras dos pequeninos. Passado o momento do terrível “por que ele tem pintinho e eu não?”, os adultos torcem para que eles não toquem tão cedo (e sem aviso) nesse temido vespeiro da curiosidade infantil. Entenda que, assumindo a tarefa de orientá-lo, estaremos dando um tipo de educação sexual.

Por isso, minha opinião sobre este tema é muito clara e direta: os adolescentes banalizam o sexo porque os pais banalizam o sexo. Esse é o resultado de minha experiência no contato direto com os pais, em que percebo que suas aflições giram em torno de temas mais imediatos, como limite e disciplina, alimentação, dificuldades de aprendizagem etc. Nas palestras que ministro em escolas primárias, raramente sou abordada acerca da sexualidade infantil. Os adultos a tratam como se ela não existisse ainda, como sendo sem importância “por enquanto”, muitas vezes até desnecessária diante da rotina de brincadeiras diárias das crianças.

E se eles nos imitarem?

Está na hora de se fazer uma releitura das coisas que acreditamos serem prioridades para nossos filhos. Podemos afirmar que as crianças são o futuro do amanhã, desde que haja a percepção de que elas também são os adolescentes de daqui a pouco. Se não priorizarmos este assunto desde já, os adolescentes repetirão nossa postura e acreditarão que sexualidade é qualquer coisa sem muita importância, a ser tratada, digamos, amanhã.

Este silêncio que geralmente perdura até a adolescência é o maior responsável pelo surgimento do círculo vicioso que aterroriza os pais hoje: seus filhos experimentam o sexo, descobrem que é “tudo de bom”, e como nunca foi tratado como algo realmente importante, deve ser aproveitado como um grande e novo “barato”. E só. Posto assim, fica mais fácil entender o atual quadro social, onde os maiores índices de casos de gravidez ocorrem justamente numa época em que temos os jovens mais bem informados de toda nossa existência.

Onde os pais entram

Concluímos então que o problema não é falta de informação. E não adianta jogar a responsabilidade pra cima da escola. Isso é coisa que se aprende em casa. À escola cabe apenas aprimorar o que já foi construído, e ponto final.

Ainda não inventaram uma campanha para a prevenção da AIDS  e da gravidez adolescente que pudesse resolver um problema de base familiar. Por isso, conversem mais com suas crianças. Tratem deste assunto de forma aberta, direta, cotidiana, mostrando a elas que sexo é uma área muito importante de suas vidas e que, por isso mesmo, deve ser tratado com carinho, respeito e responsabilidade.

Publicado na Revista Contemporânea nº 10, p.100.

Dra. Idáira Amoretti – Psicanalista e Psicóloga Clínica – (48)3035-1550 CRP 12/03474.

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