Parceiros precisam ser felizes para que seus filhos também possam ser

Pais não devem se privar de atitudes e prazeres que fazem a sua felicidade em prol das crianças. Muitos colocam o bem-estar dos pequenos como prioridade absoluta e acabam obtendo o resultado inverso: filhos infelizes e arrogantes. Em uma família, os provedores precisam estar unidos, fortes e alegres para haver harmonia. Devem ainda saber impor limites a si mesmos e aos filhos.

Quando eu estava na Faculdade de Psicologia, fizemos um teste que trazia a pergunta: “Em uma família muito pobre, o pai trabalha fora e a mãe cuida da casa e dos filhos. Em determinado dia, eles só têm arroz e um ovo em casa. Quem deve comê-los?” A resposta certa é: o pai! Imagino que a maioria disse que seriam as crianças. O pai deve comer, porque é ele quem traz dinheiro para alimentar a família e precisa se manter forte. Se ele ficar desnutrido e fraco, não poderá alimentar ninguém e todos vão ter problemas.

Passando para o âmbito dos relacionamentos amorosos, vejo que na maioria das famílias, hoje, o ovo iria para as crianças. Os pais se privam de várias coisas importantes, sacrificam-se, deixam de sair sozinhos, de comprar roupas ou de viajar para dar presentes, viagens e colégios caros para os filhos. Ao contrário do que muitos pensam, o sacrifício não vale a pena.

Quando nasce um bebê, é natural que os pais se dediquem a ele totalmente, pois não pode sobreviver sem isso. Mas não devem se esquecer de que são marido e mulher e de que os filhos necessitam que os pais estejam bem emocionalmente, até para cuidar deles. Em algumas famílias, vejo crianças que dormem na cama com os pais até 5, 6 anos de idade ou ficam com a mãe e o pai vai para o quarto da criança, causando enorme distanciamento entre os companheiros.

Em outros casos, pai e mãe ficam tão apaixonados pelo rebento que se esquecem um do outro. Dizem: “Quero que meu filho seja feliz”. Mimam a criança de uma maneira perversa, transformando-a num ser arrogante.

Companheiros precisam dar atenção um ao outro para ficarem felizes e realizados, terem suporte emocional, vida sexual e não se distanciarem. Muitas vezes, é o pai quem se apropria do bebê e compete com a mãe pelo amor do filho. Quer fazer tudo por ele e até perde o interesse pela mulher. Diz que ela trabalha demais e não sabe se cuidar. Sua razão de viver é o filho: “Como é lindo, inteligente etc.”. A criança, claro, se agarra ao pai, grita quando ele vai embora. A mãe se sente excluída e passa a fazer cada vez menos pela criança.

Em outros casos, é ela que se acha insubstituível, não deixa o pai fazer nada: “Ele não sabe fazer nada”. É obsessiva nos cuidados com o filho. Assim, vão se afastando e acabam se separando. Essas disputas não são saudáveis para a criança, para a qual é mais importante ser amada, viver em um ambiente tranquilo, ter limites, ser bem-cuidada sem exageros.

Pai e mãe devem se dedicar um ao outro, ter tempo para sair sozinhos. Nem todas as férias devem ser com as crianças. Se o casal se ama, se é alegre, se tem vida sexual, se sai com amigos fica muito melhor emocionalmente e, claro, vai fazer bem para os pequenos. Filhos tiranos também não são felizes. Querem sempre mais e nunca estão satisfeitos. Os pais não percebem que o que eles desejam o dinheiro não pode comprar: viver em uma família equilibrada, receber amor e limites; ver os pais felizes, juntos. Criança não tem capacidade para tomar decisões. Os pais devem decidir o que é melhor, estabelecer uma rotina, impor os limites, compartilhar valores. Devem dar atenção e amor aos filhos, mas, em primeiro lugar, a si próprios. Quando estão felizes e se amam realmente, a casa com certeza tem um clima de amor e disso virá a felicidade da família.

Leniza Castello Branco – Psicóloga e analista junguiana na capital paulista, é membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA). E-mail: leniza09@gmail.com

Publicado na Revista Caras nº 1058 – 14/02/2014.

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